Ciência

Estudo revela que larva de mosca emite gases do efeito estufa

A larva de uma espécie de inseto libera gás metano na superfície da água, o que contribui ao aquecimento global e também modifica o próprio lago

Chaoborus sp: o inseto vive em lagos de todo o mundo, exceto na Antártida (Piet Spaans/Wikimedia Commons)

Chaoborus sp: o inseto vive em lagos de todo o mundo, exceto na Antártida (Piet Spaans/Wikimedia Commons)

E

EFE

Publicado em 14 de março de 2017 às 10h47.

Última atualização em 14 de março de 2017 às 10h49.

Londres - A larva de um tipo de mosca que vive em lagos é responsável pela emissão de quantidades significativas de metano e pelo aumento dos gases do efeito estufa, segundo revela um estudo publicado nesta terça-feira pela "Scientific Reports".

A pesquisa, liderada pela Universidade de Genebra (Suíça) determinou que a atividade da larva de Chaoborus sp tem um impacto negativo sobre a atmosfera e é, em parte, responsável pela mudança climática provocada por esses tipos de gases.

Este inseto vive em lagos de todo o mundo, exceto na Antártida, e entre um ou dois anos de seu ciclo vital são sob a água em estado larval a profundezas inferiores a 70 metros, explicam os autores.

Durante o dia, a larva de Chaoborus sp se protege dos predadores se escondendo no leito do lago e durante a noite sai à superfície para se alimentar.

Ela está equipada com vesículas ou "bolsas de ar" que regulam seu volume para alterar a profundidade e se deslocar para frente ou para cima.

Os cientistas da Universidade de Genebra, em parceria com o Instituto Leibniz (Alemanha), a Universidade de Potsdam (Alemanha) e a Universidade de Swansea (R. Unido), descobriram que esta larva usa o gás metano (CH4) que encontra nos leitos como combustível para essas vesículas.

Os estudiosos constaram que o inseto libera gás metano na superfície de água, o que não só contribui negativamente ao aquecimento global, mas também modifica as camadas sedimentares do fundo do lago e dificulta a tarefa da paleolimnologia.

A profundezas de 70 metros a larva não pode inflar e desinflar normalmente suas "bolsas de ar" devido à pressão de água, por isso que recorre ao metano para ativar este engenhoso mecanismo de flutuação.

"O metano é um gás muito pouco solúvel em água. Sabemos que está presente em quantidades muito grandes em sedimentos pobres em oxigênio e que excede a capacidade de solubilidade em água e que forma pequenas borbulhas", explica o responsável do estudo, Daniel McGinnis, da Universidade de Genebra.

Em consequência, aponta, existe a hipótese de a larva absorver o excesso de borbulhas gasosas para inflar suas vesículas, ao invés de usar a pressão de água, e chegar até a superfície.

Graças a este "elevador inflável", a Chaoborus sp economiza até 80% de energia que necessitaria para subir à superfície do lago, reduz sua ingestão de alimento e consegue expandir seu habitat.

A água doce é responsável por 20% das emissões naturais de gás metano, o que absorve até 28 vezes mais calor do que o dióxido de carbono (CO2) e, portanto, tem um impacto significativo sobre o efeito estufa, assinalam os especialistas.

Em condições normais, apontam, o metano se isola e é depositado nos sedimentos dos lagos, mas a larva de Chaoborus sp o tira de sua zona habitual e aumenta as possibilidades que acabe na atmosfera.

"A larva de Chaoborus sp, cuja densidade varia desde os 2 mil aos 130 mil indivíduos por metro quadrado, só é encontrada em águas de baixa qualidade, nas quais contêm, por exemplo, muitos nutrientes", indica McGinnis.

O especialista sustenta que a melhora da qualidade das águas, o controle da agricultura e o tratamento de resíduos pode retificar a qualidade de água dos lagos e reverter a situação, pois este inseto "também transporta poluentes à superfície nas partículas sedimentares".

"Em resumo, embora o estudo deste inseto seja fascinante, a presença de Chaoborus sp é sempre uma má notícia para o ecossistema. Ao mesmo tempo, nos dá mais motivos para proteger a boa qualidade de água de nossos lagos", conclui McGinnis.

Acompanhe tudo sobre:AnimaisAquecimento globalEfeito estufaPesquisas científicasPoluição

Mais de Ciência

Usuários do Wegovy mantêm perda de peso por quatro anos, diz Novo Nordisk

Meteoros de rastros do Halley podem ser vistos na madrugada de domingo

AstraZeneca admite efeito colateral raro da vacina contra covid-19

Aranhas em marte? Fenômeno cria 'aracnídeos' no planeta vermelho

Mais na Exame