Baleia jubarte bate recorde de mais de 13 mil quilômetros em jornada da América do Sul para a África
Jornada de uma baleia jubarte entre a América do Sul e a África, registrada por cientistas, é a mais longa já documentada para um indivíduo da espécie, desafiando as rotas migratórias convencionais
Redação Exame
Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 19h52.
Pesquisadores acabam de documentar um feito notável no mundo marinho: uma baleia jubarte percorreu mais de 13.000 km, estabelecendo um novo recorde de migração para a espécie.
O animal, um macho identificado por meio de uma plataforma de ciência cidadã, foi avistado inicialmente nas costas da Colômbia e reapareceu quase uma década depois, na costa de Zanzibar, na África.Esta jornada de longe ultrapassa a distância habitual percorrida pelas jubartes, que normalmente viajam cerca de 6.000 km, entre as águas tropicais de reprodução e os mares gelados para alimentação.
A descoberta foi feita possível graças ao Happywhale, uma plataforma colaborativa que utiliza tecnologia de reconhecimento facial para identificar baleias por meio das marcas únicas em suas nadadeiras. Este sistema inovador permitiu que cientistas, observadores de baleias e até mesmo cidadãos comuns contribuíssem para o mapeamento do movimento desses gigantes marinhos.
“O que torna este caso ainda mais intrigante é que a baleia saiu de sua rota habitual, o que sugere que ela pode ter se desviado bastante de sua população de origem, migrando para um território completamente novo", disse Ted Cheeseman, biólogo marinho e co-fundador do Happywhale, segundo o The Guardian.
Embora o comportamento da baleia tenha sido fora do comum, os pesquisadores ainda não sabem o que motivou essa mudança de trajetória. "Quando ele apareceu, será que foi recebido como um 'estrangeiro' exótico, com um sotaque atraente?", disse Cheeseman.
A fusão entre ciência cidadã e tecnologia tem se mostrado um divisor de águas no entendimento dos padrões migratórios das baleias. Para Vanessa Pirotta, bióloga especializada em cetáceos, a combinação de dados coletados por entusiastas e a análise científica tradicional resulta em descobertas inesperadas. “Esta pesquisa é um exemplo brilhante de como a tecnologia e o engajamento popular podem transformar a observação de baleias em algo realmente relevante para a ciência,” disse Pirotta, que não fez parte do estudo, mas acompanhou os resultados com entusiasmo.
Ela também destacou a importância das novas ferramentas tecnológicas no monitoramento do comportamento das baleias, uma vez que ainda existem muitas incógnitas sobre a vida desses animais.
A cientista é autora do livro Humpback Highway, onde descreve as rotas migratórias das jubartes no litoral australiano. Pirotta lembrou que, assim como a baleia que viajou para a África, outras também costumam sair das suas rotas mais tradicionais. “Baleias como Migaloo, uma jubarte albina que eu acompanho, por exemplo, frequentemente fazem desvios inesperados, cruzando para a Nova Zelândia em vez de seguir a costa leste da Austrália,” explicou.
Agrande questão que fica é se essas rotas incomuns estão relacionadas a mudanças no ambiente marinho, talvez provocadas pelas alterações climáticas. A científica frisou que a tecnologia tem proporcionado um aumento no entendimento das migrações, revelando padrões que antes eram desconhecidos. "Estamos aprendendo mais do que nunca, graças às ferramentas que temos agora à disposição,” completou Pirotta.
Em um mundo cada vez mais globalizado, as histórias sobre as baleias e suas jornadas também se conectam de maneira inédita. O uso de plataformas como o Happywhale abre um novo capítulo na pesquisa e proteção dos cetáceos, ao integrar dados de observadores de diferentes partes do planeta, fortalecendo a preservação dessas criaturas impressionantes.
A tecnologia e as baleias: um futuro interconectado
A longo prazo, a expectativa é que a combinação de avanços tecnológicos e o envolvimento da comunidade científica e dos cidadãos continue a fornecer informações cruciais sobre as migrações e a saúde das populações de baleias.
Com a crescente conscientização sobre as mudanças climáticas e os impactos sobre os oceanos, cada nova descoberta traz um alento para os defensores da vida marinha.