Ciência

A epidemia escondida que matou 843 mil chineses em um ano

Para além do coronavírus, reportagem do jornal South China Morning Post joga luz sobre um problema crescente no país: a diabetes

China: epicentro inicial do novo coronavírus, o país tem 114 milhões de diabéticos. Destes, 60% sequer sabem que estão doentes (Stringer / Correspondente/Getty Images)

China: epicentro inicial do novo coronavírus, o país tem 114 milhões de diabéticos. Destes, 60% sequer sabem que estão doentes (Stringer / Correspondente/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2020 às 13h36.

Última atualização em 30 de maio de 2020 às 17h39.

A China, como se sabe, é o país onde a pandemia do novo coronavírus começou, em Wuhan. É também, como se sabe, um dos países com maior sucesso na contenção da pandemia -- apesar de críticas crescentes de que a demora na resposta fez com que o vírus se espalhasse pelo mundo.

Até este sábado a China tem 84.627 casos de covid-19, segundo a universidade Johns Hopkins. É menos que países como México, Chile e Peru, e menos até do que o estado de São Paulo. O número de mortes foi de 4.638.

Apesar de alguns possíveis focos de retomada da doença, a covid-19 são águas passadas na China. Mas o paíse de 1,7 bilhão de habitantes está longe de aprender a lidar com uma epidemia silenciosa que apenas em 2017, último ano com dados disponíveis, matou 843.000 chineses (ou 2,3 vezes mais que a covid-19 matou até aqui em todo o mundo). Trata-se do diabetes.

Reportagem deste sábado do jornal South China Morning Post, de Hong Kong, volta a alertar a importância de o país tratar com mais seriedade uma doença crônica que apenas na China tem 114 milhões de doentes.

Destes, 60% sequer sabem que estão doentes. A diabetes é caracterizada pelo excesso de açúcar no sangue, provocado pela produção insuficiente de insulina, levando a uma possível série de complicações. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, há 13 milhões de pessoas vivendo com a doença no Brasil.

Um dos riscos do coronavírus é o diagnóstico e o tratamento tardios de outras doenças, como mostra reportagem da última edição da revista Exame um levantamento feito pelas sociedades brasileiras de patologia e de cirurgia oncológica mostrou que, até meados de maio, cerca de 50.000 brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer.

Segundo dados da USP, todos os dias cerca de 600 brasileiro morrem de câncer, e 400 de doenças cardíacas -- já é, portanto, menos que as mais de mil mortes diárias por coronavírus. O foco na covid-19 está justificado pelos números, mas, alerta o jornal chinês, a atenção sistêmica a outras doenças é uma lição que há de ficar da pandemia.

"Embora especialistas de saúdea acreditem que a covid-19 possa eventualmente ser contida, a nação continua a duelar com um tipo diferente de doença crônica que se expandiu nas últimas décadas e deve causar ainda mais mortes no longo prazo, a diabetes", diz a reportagem do Morning Post. Em 2045 a China deve chegar a 183 milhões de casos de diabetes.

O diabetes, claro, é um desafio global. Mas a China concentra um percentual maior de casos e de mortes, acreditam especialistas, por uma taxa tardia de subnotificações e por uma mudança demográfica acentuada.

Nas últimas décadas quase 1 bilhão de chineses trocaram o campo pelas cidades, mudaram a alimentação e passaram a se movimentar cada vez menos. Os chineses não estão entre os maiores entusiastas do mundo em atividades físicas -- embora dominem esportes olímpicos como ginástica e levantamento de peso.

No Brasil como na China, a covid-19 deve trazer uma nova onda de valorização da saúde pública e dos cuidados individuais. O que, espera-se, leve a melhores números no tratamento de futuras pandemias, e de pandemias "escondidas" em nosso dia-a-dia.

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