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"O mais velho dos estilistas", Pierre Cardin prepara sucessão aos 96 anos

Três criadores de seu ateliê têm sido preparados para continuar desenhando os modelos da marca após a morte de Cardin

PIERRE CARDIN: "Quando eu morrer, haverá sucessores, é claro (...) Tenho três jovens muito bons. Não quero que façam o mesmo que eu" (Richard Bord/Getty Images)

PIERRE CARDIN: "Quando eu morrer, haverá sucessores, é claro (...) Tenho três jovens muito bons. Não quero que façam o mesmo que eu" (Richard Bord/Getty Images)

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AFP

Publicado em 14 de maio de 2019 às 19h11.

"Eu sou o mais velho dos estilistas". Aos 96 anos, Pierre Cardin se sente "jovem", mas, pela primeira vez, admite que está preparando sua sucessão e tem três criadores de seu ateliê para continuar desenhando os modelos da marca.

"Como você pode ver, eu existo", brinca o estilita vestindo terno, gravata e tênis. Em entrevista à AFP, ele fala de suas lembranças, dos projetos e até da crise dos "coletes amarelos", em sua opinião "mal gerenciada".

Já não vai mais diariamente ao ateliê no andar de cima da loja Pierre Cardin, em frente ao Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, porque "nesse momento está cansado". Mas continua desenhando "sempre, sempre, sempre". "É minha razão de ser, minha realidade, minha droga".

Pega um lápis e esboça mangas godê e um bailarino, com traço seguro.

Costumava se esquivar ao ser perguntado sobre temas como o futuro futuro da empresa, que perdeu fôlego na França mas é muito popular na Ásia e nos Estados Unidos. Mas agora, três meses depois da morte de Karl Lagerfeld, aceitou a filmagem de sua biografia e confessa que pensa sobre sua sucessão.

"Quando eu morrer, haverá sucessores, é claro (...) Tenho três jovens muito bons. Não quero que façam o mesmo que eu".

"Sucesso em tudo"

O estilista ainda não deu sua última palavra.

Prepara um desfile para maio no Palácio Bulles, sua residência futurista na Baía de Cannes, e vai receber a cantora Mireille Mathieu em 26 de julho no Festival da Lacoste, criado por ele no sul da França.

O Brooklyn Museum de Nova York vai realizar uma retrospectiva sobre seu trabalho, mostrando seu caráter vanguardista e sua influência para além da moda.

"Tive sucesso em tudo o que fiz. A vida tem me favorecido", diz o estilista, à frente de um império que vai da moda a restaurantes, passando por perfumes, hotelaria e viagens, presente em 140 países.

O segredo de seu sucesso? "Sempre fui independente e livre, os outros são Arnault, Pinault", afirma, citando os proprietários dos grupos de luxo LVMH e Kering. "Sigo minha verdade mesmo que eu erre. Não me equivoquei. Eu tenho fé em Cardin".

"É preciso ser profissional. Eu aprendi a fazer um caseado à mão para poder dar ordens inteligentes", diz este ex-contador que ainda cuida das contas de seu império.

"Coletes amarelos"

Os negócios não vão muito bem para sua loja e para o restaurante Maxim's, situados na área das manifestações do coletivo antigovernamental dos "coletes amarelos".

"Têm seus motivos, não vou julgá-los, os entendo. Mas seria ridículo dizer que eu sou amarelo, você não acreditaria. Teria sido melhor dar a eles 150 euros a mais (...) Veja o dinheiro que perdemos!", diz, lamentando que reivindicação do coletivo de aumentar o imposto sobre fortunas: "Se não houver ricos, haverá ainda mais pobres".

Maryse Gaspard, ex-modelo e musa do estilista e diretora de Alta costura da marca, revelou à AFP algumas de suas novas criações: uma calça bicolor, um vestido trapézio de gola quadrada, uma jaqueta preta atemporal e futurista com círculos de vinil e vestidos de noite drapeados de crepe sintético para mulheres "modernas", que viajam.

Em seu escritório há uma maquete de um centro cultural que quer construir, água de sua fonte da Toscana em uma garrafa projetada por ele e um exemplar da revista Time de 1974 da qual foi capa. Mostra fotos com Fidel Castro e Benazir Bhutto e passa as páginas amareladas da revista Orpheu de Jean Cocteau que ganhou de presente de Christian Dior quando saiu da empresa.

"A jaqueta bar (modelo emblemático da Dior), eu fiz", declara. Agora não segue mais o que faz a Dior nem as outras marcas, com duas exceções: Jean Paul Gaultier, que começou com ele, e Jacquemus.

Vestidos pintados na pele

"Jean-Paul Gaultier tinha 17 anos quando entrou em minha empresa, o lancei, acreditei nele e continuo acreditando. É o único a quem apoiei um pouco".

"Na minha moda sou recatado, ele é bem mais provocador. É seu estilo, já é muito", diz. "O talento épersonalidade, depois das primeiras dez linhas já dizemos esse é um Victor Hugo, esse é um Camus, Mozart".

Há coisas a fazer? "Os vestidos pintados no corpo é algo do futuro. Se tivesse 20, 30 anos é o que faria".

Para o estilista, a elegância é "sobriedade". Das mulheres que vestiu, como a atriz Jeanne Moreau, com quem formou um casal por quatro anos, passando pela também atriz Charlotte Rampling à bailarina Maya Plisetskaya, "tentei conseguir o que tinham no interior, com simplicidade".

"Tenho 20 calças iguais, mesmo tecido, mesmo corte; os blazers são iguais. É meu estilo, com exceção dos tênis", que calça porque são "confortáveis".

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