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Historiadora lança livro com a primeira fotografia do Rio de Janeiro

Cerca de 9 minutos foi o tempo necessário para se obter uma das primeiras imagens da cidade, captada em janeiro de 1840 por Louis Comte

O Oriental-Hydrographe e a fotografia: foto levou 9 minutos para ser tirada (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
AB

Agência Brasil

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 16h57.

Cerca de 9 minutos foi o tempo necessário para se obter uma das primeiras imagens do Rio de Janeiro , captada em janeiro de 1840 por Louis Comte. O tempo, que hoje se reduz a menos de 1 segundo para tirar uma fotografia e já ver o resultado, surpreendeu na época o Jornal do Commercio. "É preciso ter visto a coisa com os seus próprios olhos para poder fazer ideia da rapidez e do resultado da operação", diz artigo publicado no dia 17 de janeiro daquele ano.

Essa era a primeira vez que um ensaio com um daguerreótipo, primeiro aparelho que possibilitou o processo fotográfico, chegava "do lado de cá", como anunciou o jornal. A fotografia retrata o chafariz colonial no Largo do Paço, no centro do Rio de Janeiro.

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-(Reprodução de foto de Louis Comte no livro O Oriental-Hydrographe e a fotografia)

Foi em busca da história dessa e de outras imagens tiradas na mesma expedição que a historiadora da Universidade Federal Fluminense, Maria Inez Turazzi, começou, em 2001, a investigar a expedição Oriental-Hydrographe, que trouxe para o Brasil e para outros países da América Latina, "o engenhoso instrumento de Daguerre", como chama do Jornal do Commercio. A pesquisa virou livro: O Oriental-Hydrographe e a fotografia, cuja versão em português conta com apoio do Instituto Moreira Salles (IMS). A publicação será lançada hoje (16), no IMS, no Rio, mas já pode ser acessada na íntegra, na internet.

O Oriental-Hydrographe era, segundo Maria Inez, um projeto ambicioso que pretendia educar jovens da aristocracia francesa para os novos negócios pelo mundo da Marinha Mercante. Isso ocorre em uma época em que a Marinha francesa se reestruturava após as derrotas no período Napoleônico, quando a França era liderada por Napoleão Bonaparte.

A embarcação, que pretendia dar a volta ao mundo, deixou o porto francês de Paimboeuf, em 25 de setembro de 1839, naufragou em 23 de junho de 1840, em águas chilenas, na América do Sul. Ninguém morreu e todos os equipamentos a bordo foram salvos. A expedição sofreu várias críticas devido à postura liberal do capitão e ao abandono por parte de especialistas e professores, que foram deixando o navio ao longo do trajeto.

"Com essa história, ela nunca entrou para os anais da Marinha francesa, dos grandes viajantes, sempre foi uma história encoberta por um silêncio, que é um silêncio em torno de uma experiência fracassada de uma Marinha poderosa que tinha depositado muitas expectativas nesse projeto", diz Maria Inez. "Mas para nós, nunca foi considerada um fracasso porque, para nós, tinha uma novidade que marcou a história da cultura visual latino-americana desde então".

A historiadora explica, no entanto, que apesar de ser responsável por integrar a América do Sul ao processo da difusão da fotografia, o daguerreótipo não era a única inovação à bordo e nem o principal objetivo da expedição. "[Havia] um aparelho para moldar fisionomias, que chamava fisionotipo; uma cozinha, que destilava água salgada e transformava em água doce, o que é muito importante para os navios, porque não precisavam levar tanta água doce, podiam abrir os porões para cargas. O navio era cheio de novidades".

A pesquisa para a publicação foi conduzida em vários países. Maria Inez passou por França, Portugal - onde o daguerreótipo também foi apresentado à rainha, Maria II, mas falhou -, Chile e Uruguai, onde o livro foi editado, pelo Centro de Fotografia de Montevideo. A publicação possui, além da versão em português, versão em espanhol, em inglês e deverá ter também versão em francês.

A obra está escrita, de acordo com a Maria Inez, para atender tanto o público leigo quanto o especializado. Traz no final do livro e de cada capítulo, as referências das informações usadas no texto. O livro traz também tanto fotografias, quanto gravuras e outras imagens, que eram as referências na época.

"Não é uma história da fotografia apenas ou da câmera fotográfica dentro de um navio. É a história de um mundo que está numa expansão de negócios por via marítima e das suas novidades, da cultura europeia. É uma história que tem que articular a presença do aparelho com as relações econômicas, políticas e culturais da época", diz.

Essa semana, para se preparar para o lançamento da publicação, Maria Inez visitou os pontos que foram há anos, imortalizados. "O Rio continua sendo uma cidade com uma combinação da paisagem construída e da paisagem natural, uma combinação muito singular, muito impactante. Mas, é uma visão que a gente se encanta a distância e continua se chocando com a proximidade", diz. "Estar sempre em confronto entre a cidade de ontem e a cidade de hoje [nas fotografias e na pesquisa], leva a gente a refletir sobre o significado desse crescimento urbano e das políticas públicas para a cidade. A desigualdade só cresce".

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