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A reforma sem-fim em castelo de 600 anos

Kimiko de Freytas-Tamura ©2016 New York Times News Service Qualquer pessoa desesperada com a reforma da casa deveria parar um pouco e pensar no caso de Sir Lachlan Hector Charles Maclean de Duart e Morvern. O lorde escocês vem reformando sua casa desde que a herdou do pai em 1990, sem qualquer previsão de término. […]

TURISTAS NO CASTELO DUART: local recebe 25 mil visitantes por ano, apesar das infiltrações, cheiro de mofo e ausência de modernos sanitários / Andrew Testa/ The New York Times

TURISTAS NO CASTELO DUART: local recebe 25 mil visitantes por ano, apesar das infiltrações, cheiro de mofo e ausência de modernos sanitários / Andrew Testa/ The New York Times

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Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2016 às 15h22.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h44.

Kimiko de Freytas-Tamura ©2016 New York Times News Service

Qualquer pessoa desesperada com a reforma da casa deveria parar um pouco e pensar no caso de Sir Lachlan Hector Charles Maclean de Duart e Morvern.

O lorde escocês vem reformando sua casa desde que a herdou do pai em 1990, sem qualquer previsão de término.

Não se trata de uma casa comum. Ao contrário, é um castelo do século XIV caindo aos pedaços, com calabouço e tudo, cujo teto caiu e a água da chuva entra pelas paredes de cinco metros de espessura quase o tempo todo – até mesmo durante o verão, que pode ser extraordinariamente úmido e tempestuoso na Escócia.

O custo da reforma? Até agora, 1,5 milhão de libras esterlinas e aumentando.

Localizado na ilha de Mull, ao largo da costa ocidental da Escócia, seu lar, o Castelo Duart, é o endereço ancestral dos Macleans, um dos clãs mais antigos das Highlands escocesas. Os ancestrais do proprietário de 74 anos envolveram-se em séculos de batalhas de católicos contra protestantes e de escoceses contra ingleses, em rivalidades que ainda se fazem presente.

“O que fazer com uma propriedade como esta?”, questiona retoricamente Maclean, o 28º chefe do clã, enquanto bebe chá na sala de estar, provavelmente uma das partes confortáveis do castelo onde ele e a esposa, Rosie, se recolheram, ainda que fosse um tanto úmido e com cheiro marcante de bolor.

A chuva forte batia nas janelas, e o barulho constante de perfuração o forçava a falar mais alto. A sala de estar particular dos Macleans estava entulhada com bricabraques modernos enquanto, logo abaixo, turistas caminhavam pelo majestoso salão de jantar procurando parafernália do clã e tentando localizar um banheiro público. Na verdade, existem duas privadas, mas ambas inutilizáveis – uma instalada quase cem anos atrás e outra há 600 anos.

“Muita gente não ia gostar de morar aqui”, diz Lachlan Maclean, antes de começar a citar uma lista, feito um corretor imobiliário muito ingênuo, dos pontos negativos da propriedade. “É frio, nunca fica quente de verdade. Venta demais, e é muito úmido – e essa não é uma combinação muito boa. Algumas devem pensar que sou um velho tolo por morar aqui.”

Empoleirado sobre um despenhadeiro íngreme em uma ilha um pouco maior do que a cidade de Nova York, o castelo, em momentos diferentes de sua história, foi invadido, atacado e demolido por clãs rivais leais aos reis escoceses ou pelas tropas lutando em nome de Oliver Cromwell, o revolucionário antimonarquista.

Em determinado momento, o calabouço do castelo abrigou prisioneiros espanhóis após uma tentativa fracassada de invadir a Inglaterra no século XVI. O clã tinha terras nas ilhas de Mull, Coll, Tiree e Jura – e também na costa oeste da Escócia.

Em tempos modernos, entretanto, o Castelo Duart sofre um ataque inclemente do mau tempo escocês.

Condizente com o cargo de um chefe moderno de clã, cujo título completo é Sir Lachlan Hector Charles Maclean de Duart e Morven, 12º baronete, comandante da Real Ordem Vitoriana, representante do rei e oitavo lorde Maclean (ele atende por Sir Maclean), sua principal função é defender o castelo da deterioração e, principalmente, do esquecimento.

Chove em media 283 dias por ano na ilha de Mull. Quando venta muito forte, conta o Sir, a única maneira de sair do castelo, cercado pela água por três lados, é se arrastando de quatro pelos degraus da entrada principal.

Duart, que significa ponto preto em gaélico, uma referência à rocha vulcânica preta do local onde o castelo se localiza, é um dos últimos castelos de clã ainda existentes e que ainda é propriedade particular.

Mantê-lo é uma responsabilidade moral, diz Maclean. “É uma espécie de ponto de referência para o clã”, ele acrescenta, enquanto desce cuidadosamente uma escada estreita projetada em 1360 para ter largura suficiente para um homem empunhando uma espada. Uma placa avisa: “Pedimos desculpas por congestionamentos nas escadas”.

O castelo recebe perto de 25 mil visitantes por ano, alguns deles fazem parte da família Maclean que mora nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. O sobrenome Maclean pode ser escrito de 15 formas diferentes.

Muita gente está cada vez mais interessada em seu passado e identidade, afirma Lachlan Maclean, conduzindo alguns visitantes pelo castelo.

Num mundo globalizado, “as pessoas têm menos certeza de si mesmas. E elas querem achar seu lar”.

A reforma é paga em parte por um órgão escocês responsável por monumentos importantes. Existe a receita da entrada paga pelos turistas, de uma pequena lanchonete e de uma loja dentro do castelo. Mas o trabalho feito na década de 1990 por construtoras orientadas pelo governo da Escócia se revelou de má qualidade, diz Maclean, forçando uma nova etapa de reforma. Depois disso, as construtoras faliram.

Agora, a reconstrução do castelo depende mais e mais de donativos do público. “Eu gostaria de refazer tudo, mas será que alguém é capaz de arrecadar todo esse dinheiro?”

Outra incerteza é se o filho mais velho de Maclean, Malcolm, de 43 anos, vai morar no castelo quando herdá-lo.

“Eu fui criado aqui. Eu adoro morar aqui. É uma construção antiga da qual muito me orgulho”, afirma Lachlan Maclean pensativamente.

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