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2018 é o ano das mulheres na Pinacoteca de São Paulo

O primeiro destaque vai para Hilma Klint, uma sueca, que fez primeira pintura abstrata

Público faz fila para entrar na Pinacoteca do Estado (Robson Fernandjes / Fotos Públicas/Divulgação)

Público faz fila para entrar na Pinacoteca do Estado (Robson Fernandjes / Fotos Públicas/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de outubro de 2017 às 10h26.

São Paulo - A primeira pintura abstrata não foi assinada por Kandinski (1866-1944), considerado pelos historiadores como o pioneiro na área, mas por uma mulher, a sueca Hilma Klint (1862-1944), da qual poucos ouviram falar.

A partir do próximo ano, muitos terão motivos para citar seu nome no Brasil: a Pinacoteca do Estado promove em 2018 uma grande retrospectiva da pintora que, na virada do século 19 para o 20, assinou composições não figurativas muito antes de Kandinski, Mondrian e Malevitch. Hilma é a principal estrela de uma constelação de mulheres que ocupam a Pinacoteca no próximo ano.

Entre as mostras programadas, reveladas com exclusividade ao Caderno 2 pelo diretor da Pinacoteca, Jochen Volz, está a exposição internacional Radical Women: Latin American Art, 1960-1985 (Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985), organizada pelo Hammer Museum de Los Angeles, que passa pelo Brooklin Museum de Nova York antes de desembarcar em São Paulo.

Ainda no fim de 2018, em dezembro, outra grande artista, a paulistana Rosana Paulino, será homenageada com uma mostra individual. Antes, em agosto, Valeska Soares ganha sua primeira individual institucional no País desde 2004, dentro do programa de revisão da carreira de artistas ativos desde a década de 1980.

Duas outras artistas mulheres vão ocupar com instalações o Octógono da Pinacoteca na Luz, a paulistana Ana Luiza D. Batista e a mineira Laura Lima. Laura vem crescendo no circuito internacional. É dela uma das melhores obras apresentadas na Trienal de Aichi, Japão, no ano passado.

Enfim, 2018 será o ano das mulheres na Pinacoteca, embora grandes artistas homens integrem também programação. Em março, por exemplo, Tunga, morto há um ano, em junho de 2016, será lembrado com uma de suas obras mais enigmáticas, Tríade Trindade (2001), que, como sugere o título, é uma interpretação da trindade cristã, uma escultura feita em ferro, ferrite e lã, dominada por sinos que aludem às leituras de Santo Agostinho pelo escultor.

Outro nome de primeira grandeza entre os contemporâneos, o paraense Emmanuel Nassar ganha em abril uma retrospectiva na Pina Estação, ao lado da Sala São Paulo. Nassar tornou-se conhecido pelas referências à cultura popular em sua pintura, evocando as cores vibrantes das barracas de feiras e formas geométricas das casas de sua terra natal.

Outra referência adotada por Nassar é a bandeira, que ele usa como pretexto para a pintura (ele se apropriou das 143 bandeiras dos municípios do Pará). Também na Pina Estação está programada a mostra Mito de Origem, que parte de uma obra do alemão Lothar Baumgarten, para abordar ficções em torno do marco zero da vida no planeta.

Há muito mais. Porém, a exposição mais esperada é mesmo da sueca Hilma Klint, uma artista além do seu tempo. Amiga do expressionista Edvard Munch, Hilma foi por outro caminho.

E pagou caro por isso, ficando ausente do cânone histórico. Em parte, por decisão da própria artista. Segundo o diretor da Pinacoteca, Jochen Volz, pouco antes de morrer, em 1944, Hilma pediu que sua obra não fosse vista por 20 anos.

"Ela era mística e se aproximou da antroposofia de Rudolf Steiner", conta Volz, que vai trazer 130 obras (pinturas, desenhos e aquarelas) de Hilma Klint para a Pinacoteca, em março de 2018, mesmo ano em que o Guggenheim de Nova York inaugura uma retrospectiva da artista, recentemente redescoberta com uma exposição do Moderna Museet da Suécia em 2013, após um hiato de quase 30 anos de sua retrospectiva, em 1986.

"Suas pinturas, realizadas quando Hertz provou a existência de ondas eletromagnéticas nos anos 1880, têm justamente esse propósito de tornar visível o invisível", analisa Jochen Volz, também entusiasmado com a mostra Mulheres Radicais, que reúne um time de 120 artistas latino-americanas de 15 países que desafiaram não só o chauvinismo do mundo artístico como revolucionaram a arte nos anos 1960: Lygia Clark, Lígia Pape e Ana Maria Maiolino, entre elas.

Com um orçamento de R$ 30 milhões, a Pinacoteca, segundo seu diretor, "teve um ano positivo", apesar da crise econômica, conseguindo firmar parcerias com museus estrangeiros para montar suas exposições. O acervo, com 10 mil obras, também está crescendo, graças, segundo Volz, a doações de artistas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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