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Juro de cooperativa de empresa é melhor do que o de bancos

A expansão das cooperativas cria uma alternativa mais barata e menos burocrática para o financiamento. Saiba como acessar esse dinheiro e quais os riscos no empréstimo

Cooperativas de crédito são alternativas na hora do financiamento (Dreamstime.com)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de março de 2013 às 19h38.

São Paulo - Elaine Cristina Alves de Lima, de 26 anos, sempre foi organizada com seu orçamento. Até que decidiu ajudar o namorado a financiar uma moto — daquelas grandes, sonho de muito marmanjo que gosta de andar sobre duas rodas. "Tivemos problemas, atrasamos e as prestações foram ficando caras, virando uma bola de neve", diz.

A motocicleta era financiada por um banco que cobrava juros de 5% ao mês. Recém-contratada como estagiária na Cecres, uma cooperativa de crédito, Elaine decidiu trocar a dívida de instituição. "Peguei um empréstimo na cooperativa, quitei a do banco e troquei um juro de 5% ao mês por outro, de 1,45%", diz, lembrando que a economia total com a mudança, há mais de um ano, somou quase 3.000 reais.

Ela não é a única a enxergar essa vantagem. A diferença entre as taxas de juros praticadas pelas cooperativas e as pelos bancos é de fato muito grande. Justamente por isso, a procura pelas cooperativas de crédito no Brasil tem crescido — e muito — nos últimos anos. De acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), existem hoje no país cerca de 10 milhões de cooperados, dos quais 4,6 milhões estão ligados às cooperativas de crédito, expansão de quase 360% em apenas dez anos — eram 1 milhão em 2002.

E a previsão é de que o número total chegue aos 12 milhões até 2016. "As cooperativas chegam aonde as outras instituições não vão. Isso proporciona inclusão social", diz Sílvio Giusti, gerente de relacionamento e desenvolvimento do cooperativismo de crédito da OCB. Ele afirma que o volume de depósitos nas cooperativas cresceu 26,3% no primeiro semestre deste ano, enquanto a expansão no restante do sistema financeiro foi de 14%.

O caso de Madiana Cardoso ajuda a explicar por que o segmento vem crescendo. Dona de uma loja de calçados que acaba de ser reinaugurada em São Carlos, interior de São Paulo, ela precisava de 7.000 reais para financiar a compra de novos produtos. Tentou no banco onde tinha uma conta jurídica, mas o valor do empréstimo era baixo para ser enquadrado na linha de capital de giro.


Ou seja, o banco só emprestaria se fosse como crédito pessoal, que, além de não ser o caso (Madiana faz questão de separar sua conta jurídica da pessoal), cobraria juro considerado exorbitante pela microempresária. A saída foi se associar a uma cooperativa de crédito. Ela escolheu a Sicoob, ligada à Associação Comercial da cidade.

Lá, apresentou documentos, as declarações de Imposto Renda e conseguiu o crédito. Junto com ele veio uma série de serviços, como emissão de boletos, troca de cheque pré-datado, talões de cheque e auxílio para protestar clientes inadimplentes. "Tenho estrutura de uma empresa grande por causa do apoio que a cooperativa me dá, além do atendimento, que é diferenciado e muito mais personalizado que o de qualquer banco", diz.

Atendimento é diferencial

O bom atendimento é considerado fundamental em qualquer cooperativa. "Se o cooperado não for bem atendido, o negócio vai ser afetado porque é ele quem sustenta sua existência. Ele é o sócio", diz o consultor Vladimir Valladares, da V2 Consulting. O sistema funciona assim: para ser um cooperado, é preciso adquirir um determinado número de cotas e fazer contribuições mensais à cooperativa.

Madiana, de São Carlos, por exemplo, paga 50 reais por mês para ter direito aos empréstimos e a usar todos os serviços oferecidos pela Sicoop. Mas não paga tarifa. Trata-se de conta-capital, que funciona como conta-corrente de banco, que é corrigida anualmente e pode gerar rentabilidade igual ou até superior à da caderneta de poupança, dependendo da qualidade de gestão da cooperativa.A diferença em relação a uma conta de banco tradicional é que ela exige que os depósitos sejam feitos todos os meses.

"Quando entrei na cooperativa, há mais de 20 anos, eu a usava para me obrigar a fazer poupança, porque eu era meio displicente para guardar dinheiro", diz Luiz Paiva, funcionário da Sabesp e que hoje preside a Cecres, cooperativa de crédito mútuo que nasceu há 27 anos para atender os funcionários da empresa de saneamento básico do Estado de São Paulo e que hoje engloba várias outras companhias ligadas ao governo paulista, além de órgãos da prefeitura da capital.


"Eu deposito todo mês e, graças à cooperativa, compro quase tudo à vista. Se preciso financiar, pago juros bem mais baixos", diz Paiva.

Cesta de serviços

“É cada vez maior o número de médicos, dentistas, advogados e profissionais liberais que se associam a cooperativas”, diz Emerson Assis, presidente da unidade paulista da Unicred, cooperativa que tem 245 600 cooperados no país e que administra quase 1 bilhão de reais em ativos. Ele lembra que a cesta de serviços e a proposta de não gerar lucro, mas sobra, é o que atrai quem tem algum conhecimento em finanças.

"É um sistema mais democrático, sustentável, que permite que todas as classes sociais possam ter acesso a menores custos", explica Márcio Lopes Freitas, presidente da OCB. As cooperativas de crédito administram ativos da ordem de 90 bilhões de reais — valor que deve chegar a 100 bilhões de reais até o fim deste ano, segundo a OCB.

"Houve profissionalização, e a infraestrutura das cooperativas surpreende boa parte das pessoas que têm contato com elas pela primeira vez", comenta Valladares, da V2.

É assim na Cecres. Instalada em dois andares de um edifício da Avenida Ipiranga, no centro da cidade de São Paulo, ela oferece, além dos serviços da própria cooperativa — como cartão de débito, talões de cheque e juros diferenciados —, assessoria jurídica, auxílios doença, funeral e moradia (para associados que tenham problemas com a casa causados por incêndios ou enchentes, por exemplo), kit bebê (composto por produtos de higiene para quem acabar de ter filhos), seguro de vida e linhas de financiamento especiais para cursos e capacitação, incluindo crédito educacional para intercâmbios no exterior – essa linha, aliás, tem uma das taxas mais baixas do mercado, de 0,8% ao mês.

"Temos também um departamento de orientação financeira, em que a pessoa aprende a organizar o orçamento e renegociar dívidas", diz Paiva.

Essa consciência parece se refletir na evolução das cooperativas. De acordo com a OCB, a cada dia surge um novo posto de atendimento a cooperados. São 30 novas unidades por mês e a expectativa é que, até o fim do ano, o Brasil tenha cerca de 5.000 postos espalhados por todo o país.

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São Paulo - Elaine Cristina Alves de Lima, de 26 anos, sempre foi organizada com seu orçamento. Até que decidiu ajudar o namorado a financiar uma moto — daquelas grandes, sonho de muito marmanjo que gosta de andar sobre duas rodas. "Tivemos problemas, atrasamos e as prestações foram ficando caras, virando uma bola de neve", diz.

A motocicleta era financiada por um banco que cobrava juros de 5% ao mês. Recém-contratada como estagiária na Cecres, uma cooperativa de crédito, Elaine decidiu trocar a dívida de instituição. "Peguei um empréstimo na cooperativa, quitei a do banco e troquei um juro de 5% ao mês por outro, de 1,45%", diz, lembrando que a economia total com a mudança, há mais de um ano, somou quase 3.000 reais.

Ela não é a única a enxergar essa vantagem. A diferença entre as taxas de juros praticadas pelas cooperativas e as pelos bancos é de fato muito grande. Justamente por isso, a procura pelas cooperativas de crédito no Brasil tem crescido — e muito — nos últimos anos. De acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), existem hoje no país cerca de 10 milhões de cooperados, dos quais 4,6 milhões estão ligados às cooperativas de crédito, expansão de quase 360% em apenas dez anos — eram 1 milhão em 2002.

E a previsão é de que o número total chegue aos 12 milhões até 2016. "As cooperativas chegam aonde as outras instituições não vão. Isso proporciona inclusão social", diz Sílvio Giusti, gerente de relacionamento e desenvolvimento do cooperativismo de crédito da OCB. Ele afirma que o volume de depósitos nas cooperativas cresceu 26,3% no primeiro semestre deste ano, enquanto a expansão no restante do sistema financeiro foi de 14%.

O caso de Madiana Cardoso ajuda a explicar por que o segmento vem crescendo. Dona de uma loja de calçados que acaba de ser reinaugurada em São Carlos, interior de São Paulo, ela precisava de 7.000 reais para financiar a compra de novos produtos. Tentou no banco onde tinha uma conta jurídica, mas o valor do empréstimo era baixo para ser enquadrado na linha de capital de giro.


Ou seja, o banco só emprestaria se fosse como crédito pessoal, que, além de não ser o caso (Madiana faz questão de separar sua conta jurídica da pessoal), cobraria juro considerado exorbitante pela microempresária. A saída foi se associar a uma cooperativa de crédito. Ela escolheu a Sicoob, ligada à Associação Comercial da cidade.

Lá, apresentou documentos, as declarações de Imposto Renda e conseguiu o crédito. Junto com ele veio uma série de serviços, como emissão de boletos, troca de cheque pré-datado, talões de cheque e auxílio para protestar clientes inadimplentes. "Tenho estrutura de uma empresa grande por causa do apoio que a cooperativa me dá, além do atendimento, que é diferenciado e muito mais personalizado que o de qualquer banco", diz.

Atendimento é diferencial

O bom atendimento é considerado fundamental em qualquer cooperativa. "Se o cooperado não for bem atendido, o negócio vai ser afetado porque é ele quem sustenta sua existência. Ele é o sócio", diz o consultor Vladimir Valladares, da V2 Consulting. O sistema funciona assim: para ser um cooperado, é preciso adquirir um determinado número de cotas e fazer contribuições mensais à cooperativa.

Madiana, de São Carlos, por exemplo, paga 50 reais por mês para ter direito aos empréstimos e a usar todos os serviços oferecidos pela Sicoop. Mas não paga tarifa. Trata-se de conta-capital, que funciona como conta-corrente de banco, que é corrigida anualmente e pode gerar rentabilidade igual ou até superior à da caderneta de poupança, dependendo da qualidade de gestão da cooperativa.A diferença em relação a uma conta de banco tradicional é que ela exige que os depósitos sejam feitos todos os meses.

"Quando entrei na cooperativa, há mais de 20 anos, eu a usava para me obrigar a fazer poupança, porque eu era meio displicente para guardar dinheiro", diz Luiz Paiva, funcionário da Sabesp e que hoje preside a Cecres, cooperativa de crédito mútuo que nasceu há 27 anos para atender os funcionários da empresa de saneamento básico do Estado de São Paulo e que hoje engloba várias outras companhias ligadas ao governo paulista, além de órgãos da prefeitura da capital.


"Eu deposito todo mês e, graças à cooperativa, compro quase tudo à vista. Se preciso financiar, pago juros bem mais baixos", diz Paiva.

Cesta de serviços

“É cada vez maior o número de médicos, dentistas, advogados e profissionais liberais que se associam a cooperativas”, diz Emerson Assis, presidente da unidade paulista da Unicred, cooperativa que tem 245 600 cooperados no país e que administra quase 1 bilhão de reais em ativos. Ele lembra que a cesta de serviços e a proposta de não gerar lucro, mas sobra, é o que atrai quem tem algum conhecimento em finanças.

"É um sistema mais democrático, sustentável, que permite que todas as classes sociais possam ter acesso a menores custos", explica Márcio Lopes Freitas, presidente da OCB. As cooperativas de crédito administram ativos da ordem de 90 bilhões de reais — valor que deve chegar a 100 bilhões de reais até o fim deste ano, segundo a OCB.

"Houve profissionalização, e a infraestrutura das cooperativas surpreende boa parte das pessoas que têm contato com elas pela primeira vez", comenta Valladares, da V2.

É assim na Cecres. Instalada em dois andares de um edifício da Avenida Ipiranga, no centro da cidade de São Paulo, ela oferece, além dos serviços da própria cooperativa — como cartão de débito, talões de cheque e juros diferenciados —, assessoria jurídica, auxílios doença, funeral e moradia (para associados que tenham problemas com a casa causados por incêndios ou enchentes, por exemplo), kit bebê (composto por produtos de higiene para quem acabar de ter filhos), seguro de vida e linhas de financiamento especiais para cursos e capacitação, incluindo crédito educacional para intercâmbios no exterior – essa linha, aliás, tem uma das taxas mais baixas do mercado, de 0,8% ao mês.

"Temos também um departamento de orientação financeira, em que a pessoa aprende a organizar o orçamento e renegociar dívidas", diz Paiva.

Essa consciência parece se refletir na evolução das cooperativas. De acordo com a OCB, a cada dia surge um novo posto de atendimento a cooperados. São 30 novas unidades por mês e a expectativa é que, até o fim do ano, o Brasil tenha cerca de 5.000 postos espalhados por todo o país.

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