Infeliz com a carreira de TI? Confira orientações de especialistas
Três convidados comentam as principais queixas de profissionais da área e apontam caminhos para que eles avancem na carreira
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2012 às 10h28.
Com 1,2 milhão de profissionais contratados, 120.000 postos de trabalho vagos e faturamento anual de 11 bilhões de dólares (e subindo), o mercado de tecnologia da informação , ou simplesmente TI, é promissor. Só no último ano, os salários do setor cresceram em média 10,78% – 60% acima da inflação. Em algumas especialidades, como programação, a alta chega a impressionantes 38%.
Assim mesmo, muitos profissionais estão insatisfeitos. Eles afirmam que muitas vagas não são preenchidas porque as companhias não pagam salários compatíveis com a exigência do cargo. "Há excelentes profissionais disponíveis no mercado. Mas as empresas e consultorias querem manter taxas e salários de 8 anos atrás e não se rendem ao mercado. Hoje, para ter um salário decente, é necessário apresentar certificação de pilotagem de ônibus espacial na Nasa, mas querem pagar o mesmo de um motorista de ônibus comum, que algumas vezes ganha mais do que o profissional de TI", ironiza o leitor de VEJA.com identificado como Rogério, em comentário à reportagem Quer ganhar mais? Seja um craque em TI.
VEJA.com convidou três especialistas para discutir o caso: Anderson Figueiredo, gerente de pesquisas da International Data Corporation (IDC), Leonardo Martins, diretor Executivo da IT Job, empresa especializada na contratação de profissionais de TI, e Antonio Neto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd). A seguir, eles comentam as sete queixas mais comuns dos profissionais de TI e os orientam a vencer obstáculos para avançar na carreira.
'Consultorias pagam salários baixos'
Anderson Figueiredo (IDC): "Existem muitas consultorias de pequeno e médio porte no mercado, de onde vem boa parte do problema. Quanto menor a empresa, maior a possibilidade de os salários caírem. A exceção são as companhias de pequeno porte que trabalham com ótimos contratos, o que não é raro. As grandes empresas, geralmente, pagam salários mais elevados, principalmente quando conquistam bons clientes. Nesse caso, o ideal é pesquisar e procurar as companhias que pagam bem e que estejam preocupadas em reter profissionais de qualidade."
Antonio Neto (Sindpd): "Muitas empresas prestadoras de serviço de TI, principalmente no ambiente público, participam de pregões oferecendo preços muito baixos. Quando vencem, têm pouca margem para remuneção dos profissionais. É preciso ficar atento a essa questão para não cair em armadilhas."
'Profissionais são contratados no regime de pessoa jurídica'
Anderson Figueiredo (IDC): "O problema já foi muito maior, e essa prática está gradualmente diminuindo. O trabalho sem vínculo empregatício está em declínio, pois as grandes companhias, como bancos e multinacionais, que contratam empresas para criar soluções de TI, não querem sofrer com problemas de direitos trabalhistas causados por terceiros. O problema persiste mais entre as empresas menores, que muitas vezes fogem da política de contratação sob o regime da CLT. É preciso entender por que isso acontece. Essas companhias priorizam a contratação no modelo de pessoa jurídica (PJ) para reduzir custos com a folha de pagamento, que são elevados no Brasil."
Leonardo Martins (Info Job): "As consultorias contratam muitos profissionais no regime de pessoa jurídica (PJ), o que desobriga essas empresas de obrigações trabalhistas – que ficam por conta do contratado. Esse modelo, é claro, pode afetar a remuneração do contratado. Por isso, antes de aceitar uma posição em consultoria como terceirizado, o profissional deve fazer as contas levando em consideração as despesas com as quais terá de arcar. Obviamente, não é fácil dizer não a uma oferta de trabalho, mas prever custos e benefícios pode evitar prejuízos e frustrações."
'Falta regulamentar a profissão de TI'
Leonardo Martins (Info Job): "A regulamentação da profissão de TI depende de votações no Congresso Nacional. Mas, por outro lado, existem entidades sindicais e patronais que representam e auxiliam os profissionais da área.
'Empresas investem pouco em treinamento'
Anderson Figueiredo (IDC): "Toda vez que uma empresa faz uma pesquisa de ambiente, os funcionários reclamam da falta de treinamento. Invariavelmente, a maior parte das pessoas é obrigada a gastar o próprio dinheiro se quiser se aprimorar. Infelizmente, a área de TI que menos fatura no Brasil é a de educação e treinamento, e isso não deve mudar no curto prazo."
Leonardo Martins (Info Job): "Muitas empresas investem em treinamentos e capacitação dos seus funcionários. Infelizmente, quem sofre mais com a falta de cursos são os prestadores de serviços, que desenvolvem funções específicas e pontuais. Dessa forma, resta a eles buscar cursos e certificações por conta própria. Se esse é o caso, não há como reclamar."
Antonio Neto (Sindpd): "A área de TI é extremamente ágil. Existem muitas ferramentas no mercado e elas sofrem alterações, atualizações ou ficam obsoletas em questão de anos ou até meses. As empresas exigem que os trabalhadores sejam qualificados, mas as certificações profissionais dessas ferramentas têm um custo elevado. Os empresários precisam auxiliar na qualificação dos profissionais: caso contrário, correm o sério risco de ficar sem funcionários."
'O apagão de mão de obra é culpa das empresas'
Anderson Figueiredo (IDC): "A questão real é a falta de profissionais capacitados. Não sobra gente sem emprego, mas também não sobram boas vagas para quem não está de acordo com as exigências do mercado. Para conseguir essas vagas, é preciso ter experiência e conhecimento pleno das exigências listadas nas propostas."
Leonardo Martins (Info Job): "O problema do apagão de mão de obra é estrutural. O Brasil precisa investir com urgência no setor educacional, em cursos técnicos e de graduação, para que consiga atender às demandas do mercado de tecnologia. Só assim os profissionais terão capacidade para preencher as vagas."
'As empresas preferem funcionários sem especialização e mais baratos'
Leonardo Martins (Info Job): "Esta afirmação não é verdadeira. As empresas sérias buscam profissionais qualificados e especializados, pois o setor está aquecido e com excelentes perspectivas para os próximos anos. Existem, sim, inúmeras vagas de empregos que não são preenchidas por falta de mão de obra com o mínimo de qualificação. O profissional também deve selecionar as empresas, e não apenas o contrário."
'A remuneração nunca é compatível com o conhecimento exigido'
Leonardo Martins (Info Job): "A remuneração cresceu bastante nos últimos anos, com o crescimento da economia brasileira. O que estamos vivenciando é a troca de emprego por parte dos funcionários que buscam aumentar a sua renda. Nem sempre é a melhor alternativa trocar de função apenas pelo valor nominal do salário, e, sim, avaliar o pacote como um todo: quais os benefícios, desafios, responsabilidades, possibilidades de crescimento profissional e qualidade de vida embutidos na nova oferta de trabalho."
Com 1,2 milhão de profissionais contratados, 120.000 postos de trabalho vagos e faturamento anual de 11 bilhões de dólares (e subindo), o mercado de tecnologia da informação , ou simplesmente TI, é promissor. Só no último ano, os salários do setor cresceram em média 10,78% – 60% acima da inflação. Em algumas especialidades, como programação, a alta chega a impressionantes 38%.
Assim mesmo, muitos profissionais estão insatisfeitos. Eles afirmam que muitas vagas não são preenchidas porque as companhias não pagam salários compatíveis com a exigência do cargo. "Há excelentes profissionais disponíveis no mercado. Mas as empresas e consultorias querem manter taxas e salários de 8 anos atrás e não se rendem ao mercado. Hoje, para ter um salário decente, é necessário apresentar certificação de pilotagem de ônibus espacial na Nasa, mas querem pagar o mesmo de um motorista de ônibus comum, que algumas vezes ganha mais do que o profissional de TI", ironiza o leitor de VEJA.com identificado como Rogério, em comentário à reportagem Quer ganhar mais? Seja um craque em TI.
VEJA.com convidou três especialistas para discutir o caso: Anderson Figueiredo, gerente de pesquisas da International Data Corporation (IDC), Leonardo Martins, diretor Executivo da IT Job, empresa especializada na contratação de profissionais de TI, e Antonio Neto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd). A seguir, eles comentam as sete queixas mais comuns dos profissionais de TI e os orientam a vencer obstáculos para avançar na carreira.
'Consultorias pagam salários baixos'
Anderson Figueiredo (IDC): "Existem muitas consultorias de pequeno e médio porte no mercado, de onde vem boa parte do problema. Quanto menor a empresa, maior a possibilidade de os salários caírem. A exceção são as companhias de pequeno porte que trabalham com ótimos contratos, o que não é raro. As grandes empresas, geralmente, pagam salários mais elevados, principalmente quando conquistam bons clientes. Nesse caso, o ideal é pesquisar e procurar as companhias que pagam bem e que estejam preocupadas em reter profissionais de qualidade."
Antonio Neto (Sindpd): "Muitas empresas prestadoras de serviço de TI, principalmente no ambiente público, participam de pregões oferecendo preços muito baixos. Quando vencem, têm pouca margem para remuneção dos profissionais. É preciso ficar atento a essa questão para não cair em armadilhas."
'Profissionais são contratados no regime de pessoa jurídica'
Anderson Figueiredo (IDC): "O problema já foi muito maior, e essa prática está gradualmente diminuindo. O trabalho sem vínculo empregatício está em declínio, pois as grandes companhias, como bancos e multinacionais, que contratam empresas para criar soluções de TI, não querem sofrer com problemas de direitos trabalhistas causados por terceiros. O problema persiste mais entre as empresas menores, que muitas vezes fogem da política de contratação sob o regime da CLT. É preciso entender por que isso acontece. Essas companhias priorizam a contratação no modelo de pessoa jurídica (PJ) para reduzir custos com a folha de pagamento, que são elevados no Brasil."
Leonardo Martins (Info Job): "As consultorias contratam muitos profissionais no regime de pessoa jurídica (PJ), o que desobriga essas empresas de obrigações trabalhistas – que ficam por conta do contratado. Esse modelo, é claro, pode afetar a remuneração do contratado. Por isso, antes de aceitar uma posição em consultoria como terceirizado, o profissional deve fazer as contas levando em consideração as despesas com as quais terá de arcar. Obviamente, não é fácil dizer não a uma oferta de trabalho, mas prever custos e benefícios pode evitar prejuízos e frustrações."
'Falta regulamentar a profissão de TI'
Leonardo Martins (Info Job): "A regulamentação da profissão de TI depende de votações no Congresso Nacional. Mas, por outro lado, existem entidades sindicais e patronais que representam e auxiliam os profissionais da área.
'Empresas investem pouco em treinamento'
Anderson Figueiredo (IDC): "Toda vez que uma empresa faz uma pesquisa de ambiente, os funcionários reclamam da falta de treinamento. Invariavelmente, a maior parte das pessoas é obrigada a gastar o próprio dinheiro se quiser se aprimorar. Infelizmente, a área de TI que menos fatura no Brasil é a de educação e treinamento, e isso não deve mudar no curto prazo."
Leonardo Martins (Info Job): "Muitas empresas investem em treinamentos e capacitação dos seus funcionários. Infelizmente, quem sofre mais com a falta de cursos são os prestadores de serviços, que desenvolvem funções específicas e pontuais. Dessa forma, resta a eles buscar cursos e certificações por conta própria. Se esse é o caso, não há como reclamar."
Antonio Neto (Sindpd): "A área de TI é extremamente ágil. Existem muitas ferramentas no mercado e elas sofrem alterações, atualizações ou ficam obsoletas em questão de anos ou até meses. As empresas exigem que os trabalhadores sejam qualificados, mas as certificações profissionais dessas ferramentas têm um custo elevado. Os empresários precisam auxiliar na qualificação dos profissionais: caso contrário, correm o sério risco de ficar sem funcionários."
'O apagão de mão de obra é culpa das empresas'
Anderson Figueiredo (IDC): "A questão real é a falta de profissionais capacitados. Não sobra gente sem emprego, mas também não sobram boas vagas para quem não está de acordo com as exigências do mercado. Para conseguir essas vagas, é preciso ter experiência e conhecimento pleno das exigências listadas nas propostas."
Leonardo Martins (Info Job): "O problema do apagão de mão de obra é estrutural. O Brasil precisa investir com urgência no setor educacional, em cursos técnicos e de graduação, para que consiga atender às demandas do mercado de tecnologia. Só assim os profissionais terão capacidade para preencher as vagas."
'As empresas preferem funcionários sem especialização e mais baratos'
Leonardo Martins (Info Job): "Esta afirmação não é verdadeira. As empresas sérias buscam profissionais qualificados e especializados, pois o setor está aquecido e com excelentes perspectivas para os próximos anos. Existem, sim, inúmeras vagas de empregos que não são preenchidas por falta de mão de obra com o mínimo de qualificação. O profissional também deve selecionar as empresas, e não apenas o contrário."
'A remuneração nunca é compatível com o conhecimento exigido'
Leonardo Martins (Info Job): "A remuneração cresceu bastante nos últimos anos, com o crescimento da economia brasileira. O que estamos vivenciando é a troca de emprego por parte dos funcionários que buscam aumentar a sua renda. Nem sempre é a melhor alternativa trocar de função apenas pelo valor nominal do salário, e, sim, avaliar o pacote como um todo: quais os benefícios, desafios, responsabilidades, possibilidades de crescimento profissional e qualidade de vida embutidos na nova oferta de trabalho."