Políticas de mobilidade internacional são cada vez mais comuns em empresas globais, atraindo talentos interessados em experiências multiculturais. (ismagilov/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 12 de novembro de 2024 às 13h05.
Em uma estratégia inovadora, empresas multinacionais estão transformando a possibilidade de trabalhar no exterior em um benefício para atrair e reter talentos. Companhias como Airbnb, Spotify e PwC vêm expandindo suas políticas de trabalho flexível para permitir que funcionários realizem períodos em outros países. Esse movimento é uma resposta ao crescente desejo dos colaboradores, especialmente das gerações mais jovens, de vivenciar culturas e práticas diversas. As informações são do Financial Times.
Helene Bevilacqua, por exemplo, uma associada sênior da consultoria PwC, trocou Londres por quatro meses em Varsóvia, capital da Polônia, em um dos programas de intercâmbio da empresa. “Uma das razões que me trouxeram para cá foi a presença global da PwC e a oportunidade de mobilidade,” comenta Bevilacqua. Essa experiência não só ampliou seu conhecimento sobre negócios globais, mas também promoveu o desenvolvimento de novas habilidades culturais e profissionais.
A expansão das políticas de trabalho no exterior não é exclusiva da PwC. A Airbnb permite que seus colaboradores trabalhem em diferentes países por até 90 dias ao ano, seja remotamente ou em escritórios locais. Desde que implementou a política de "trabalhe de qualquer lugar" em 2022, a empresa viu seu portal de carreiras alcançar quase 10 milhões de acessos no primeiro ano, mais do que o dobro do ano anterior. “A flexibilidade alimenta a criatividade, atrai talentos e mantém nossas equipes engajadas em todo o mundo,” afirma Iain Roberts, chefe de experiência do funcionário na Airbnb.
Spotify, por sua vez, vai além, permitindo que os funcionários escolham onde desejam trabalhar durante todo o ano, desde que haja uma base da empresa no país. Desde a introdução da política em 2021, a rotatividade na empresa caiu pela metade, e o tempo de contratação diminuiu significativamente.
Uma pesquisa da Jobbatical revelou que mais da metade dos funcionários no Reino Unido deseja trabalhar no exterior, e muitos afirmaram que a possibilidade de fazê-lo aumentaria sua fidelidade à empresa. Para trabalhadores entre 18 e 34 anos, a opção de mobilidade internacional é um fator decisivo na escolha de uma organização. Lucy Kemp, consultora de ambientes de trabalho, ressalta que, para empresas multinacionais, oferecer essa possibilidade “é uma escolha inteligente para retenção de talentos.”
Contudo, implementar a mobilidade global exige atenção aos detalhes legais e regulatórios. Asma Bashir, fundadora da plataforma de expansão internacional Centuro Global, enfatiza que é necessário considerar requisitos específicos de cada país, além de possíveis ajustes salariais. “A duração da estadia, o propósito da missão e a localização influenciam os aspectos legais e financeiros,” explica Bashir. Empresas como Reed Smith, um escritório de advocacia, utilizam programas de segunda locação de curto prazo para simplificar a experiência, permitindo que colaboradores trabalhem por duas semanas em qualquer um de seus 31 escritórios globais. A diretora de RH da EMEA, Jeni Taylor, destaca que esses profissionais “trazem um vasto conhecimento” ao retornarem, enriquecendo o atendimento aos clientes com demandas transnacionais.
A flexibilidade geográfica atende especialmente ao desejo dos jovens profissionais de vivenciar novas culturas e práticas. Lorna Hughes, diretora-gerente da agência de relações públicas Harvard, acredita que a demanda por experiências internacionais deve crescer, sobretudo entre os que iniciaram suas carreiras durante a pandemia de Covid-19.
Para Bevilacqua, sua estadia em Varsóvia proporcionou muito mais do que crescimento profissional. Nos finais de semana, ela viajava sozinha pela Europa, ganhando confiança e expandindo sua compreensão das práticas de negócios internacionais. “Essa experiência me deu uma visão mais ampla dos negócios globais e me permitiu mergulhar em uma nova cultura,” reflete.
Com políticas que vão desde trabalhos de curto prazo a transferências prolongadas, empresas estão aproveitando sua estrutura multinacional para oferecer uma experiência enriquecedora aos seus funcionários. Essa prática não apenas aprimora a formação de equipes globais, mas também torna a empresa mais atraente para talentos de todas as partes do mundo.