Carreira

Conheça a "receita" da Heineken para enfrentar os desafios do home office

Raquel Zagui, vice-presidente de Recursos Humanos do Grupo Heineken, defende mudanças de cultura em empresas que adotarem o trabalho remoto definitivo

Raquel Zagui: "A gente precisa, de fato, fazer com que a organização adote a mentalidade do remote first" (Raquel Zagui/Divulgação)

Raquel Zagui: "A gente precisa, de fato, fazer com que a organização adote a mentalidade do remote first" (Raquel Zagui/Divulgação)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 07h00.

Última atualização em 8 de fevereiro de 2021 às 10h09.

Em janeiro, o Grupo Heineken Brasil entrou na lista de empresas que decidiram colocar os funcionários em regime de trabalho remoto mesmo após o fim da pandemia. Os contratos de trabalho foram ajustados, e novas mudanças estão a caminho, como uma readequação do propósito do escritório.

A decisão de colocar as equipes de forma remota definitivamente vem a partir de um acompanhamento do grupo de como os funcionários avaliaram seu bem-estar durante a pandemia. 

Antes da crise sanitária, a empresa já tinha a opção de home office, que costumava ser de uma vez por semana. Com a necessidade de isolamento social, o Grupo Heineken viu que trabalhar de forma remota foi algo que funcionou.

A ideia é que o escritório seja usado para brainstormings, encontros, reuniões e por quem deseja sair de casa até duas vezes por semana para trabalhar.

Apesar da redução de custos para as empresas, mais flexibilidade para a vida pessoal dos trabalhadores e possibilidade de contratar profissionais de qualquer cidade, o trabalho remoto definitivo também traz desafios grandes para as empresas e gestores.

Em entrevista à EXAME, Raquel Zagui, vice-presidente de Recursos Humanos do grupo, comenta sobre os possíveis desafios de colocar todos os funcionários corporativos da empresa (cerca de 1.300) no regime remoto e dá a sua visão sobre como gerir pessoas à distância.

Na visão de Raquel, o momento ainda é de experimentar e as empresas precisam estar abertas para o novo, com agilidade de aprendizado, versatilidade e adaptabilidade. Só assim é possível ter uma cultura que permita produtividade e bem estar dos funcionários quando todos estão trabalhando de casa.

Veja abaixo alguns desafios impostos pelo home office e a saída para cada um deles.

Como monitorar a produtividade das pessoas

Um medo comum entre alguns gestores é o de garantir que as pessoas estejam efetivamente trabalhando de casa. Na Heineken, algumas lideranças se sentiram inseguras no início, mas Raquel os "convenceu" com a seguinte comparação: 

"A pessoa que vai deitar no sofá e ver Sessão da Tarde é a mesma que vai ficar jogando no computador e fingir que está trabalhando. A grande maioria dos funcionários está a fim de trabalhar e de fazer. Não adianta pegar o exemplo de quem não trabalha, porque isso pode ter. Nós não vamos colocar uma câmera no home office da pessoa, né?", brinca a vice-presidente.

Além dessa mudança de mentalidade, a executiva destaca a importância dos processos que monitoram a performance. 

"Quanto antes as pessoas desapegarem daquilo de ficar em cima das pessoas para saberem se elas estão no computador ou se levantaram para pegar um cafezinho, melhor. Não tem mais volta", aconselha.

Como manter engajamento e integrar as pessoas

Outro desafio colocado para as empresas desde que o home office foi instaurado é o de manter as pessoas engajadas e conectadas entre si. Na Heineken, porém, não houve queda de engajamento. Em 2020, ele se manteve em 90%, de acordo com Raquel Zagui.

"Vou falar de mim: eu hoje me sinto muito mais próxima da minha equipe de RH do que antes. A pessoa entra em uma live, por exemplo, e aí conhece meu filho, vê minha casa, meu papel de parede. À medida que a gente se coloca num patamar mais de "igual", com problemas parecidos como a cadeira, ar-condicionado etc, não importa se alguém ganha cinco vezes a mais", disse.

Como será permitida a ida ao escritório da Heineken por até duas vezes por semana, Raquel defende que esses momentos sejam usados para a integração e ressalta a importância de mais conversas e eventos como um happy hour virtual. 

Como não privilegiar quem vai mais à empresa

Em modelos híbridos ou nos que as empresas mantêm a oportunidade de as pessoas irem algumas vezes ao escritório, há o risco do tratamento desigual. Quando as decisões começam a acontecer mais de forma presencial, pode estar nascendo um problema. Para Raquel Zagui, a mentalidade remota deve ser um imperativo. 

"A gente precisa, de fato, fazer com que a organização adote a mentalidade do remote first. O remoto não é opcional. Se tem uma pessoa em casa e outros foram à sede em uma reunião, a gente tem que agir como se essa reunião fosse virtual. Se não for isso, se não for genuíno, aí vai ser um desastre. Aí a gente vai ter que voltar atrás"

Raquel Zagui, vice-presidente de Recursos Humanos do Grupo Heineken Brasil

Para garantir isso, a executiva da Heineken defende que a liderança e o setor de Recursos Humanos sejam embaixadores dessa cultura. 

"Se tiver uma reunião presencial e algumas pessoas de casa, não dá para esvaziar o tema da reunião antes ou depois. A brincadeira, a descontração, também tem que ficar para o momento da reunião", explica Raquel.

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