Chorar no trabalho: as lágrimas não são cenário ideal, mas o que fazer? (shironosov/Thinkstock)
Luísa Granato
Publicado em 17 de abril de 2018 às 15h00.
Última atualização em 19 de abril de 2018 às 15h29.
São Paulo - Tem dias que a vida não está fácil. Em meio a alto e baixos, é impossível ficar imune às emoções. E no trabalho não é diferente. Onde pode haver alegria, sucesso e realização, também pode ser lugar de frustração e tristeza. E, ocasionalmente, de lágrimas.
Chorar, claro, não é o cenário ideal para ninguém. Causa vergonha, pode ser visto como um sinal de fraqueza ou imaturidade do profissional.
No entanto, pode acontecer com qualquer um, da mesma forma que a vida acontece: a demissão de um colega querido, um projeto que não foi valorizado, assédio moral, problemas familiares, doenças ou até a morte.
Somos apenas humanos, como lembra Loraine Muller, professora do MBA em Liderança, Inovação e Gestão 3.0 da PUC-RS, que defende que as lágrimas não são o problema, mas uma manifestação natural de certos sentimentos. “Ninguém evita sentir. O problema é não conseguir lidar com o sentimento de forma adequada após uma crise”.
Para a professora, o profissional deve tentar colocar suas emoções a serviço de uma meta, o que pede que ele esteja em boa sintonia com elas para encontrar motivação e soluções mais produtivas e saudáveis.
O primeiro passo é saber diferenciar a origem do sentimento que levou ao choro. Segundo Eduardo Shinyashiki, especialista em desenvolvimento humano e neurocoaching, a tristeza é vinculada a sentimentos mais diretos e autênticos, como dor, perda e sofrimento, mas também pode disfarçar outras emoções, como a raiva ou medo.
“No ambiente de trabalho, uma emoção autêntica fortalece o sentimento de empatia e compaixão do profissional e, assim, o seu valor na equipe. Quando temos que nos despedir de um chefe ou colega muito querido e choramos, isso mostra que nos importamos”, explica ele.
Por outro lado, quando as emoções são mal gerenciadas, o choro se torna ruim para a imagem do profissional. Ele pode parecer estar sempre de mal com a vida e infeliz, sem tomar uma atitude sobre seu sofrimento. “A pessoa fica muito presa a emoções não manifestadas e não toma a ação certa para lidar diretamente com elas”.
Seja pedir por um tempo para lidar com uma situação familiar ou fazer uma reclamação ao seu chefe, é importante tomar uma ação correspondente ao seu sentimento.
Os dois especialistas reforçam que não é possível dissociar os sentimentos pessoais do profissional que vai todos os dias ao escritório. O que ficar não resolvido de um lado da vida, alguma hora interferirá no outro.
Se é comum as emoções saírem fora do controle durante o expediente, o profissional precisa buscar mecanismos para geri-las melhor. Para Loraine, o autoconhecimento é essencial e ajuda a se preparar para as reações que temos a situações desafiadoras.
“Quanto mais eu conheço minhas emoções, melhor consigo fazer meu contrato psicológico de trabalho, me submeto menos a situações estressantes e tenho maturidade nas minha reações”, fala a professora.
Os meios para isso, segundo ela, são variados e dependem do que funciona melhor para cada indivíduo. Desde um curso de teatro para sair da zona do conforto ou livros sobre inteligência emocional, a procura de uma ajuda externa na forma de terapia, coaching ou mentoria. O que vale é investir em se conhecer.
O descontrole emocional pode ser um sinal de que é preciso rever sua estratégia pessoal. Segundo Shinyashiki, para ter uma visão clara do seu potencial e buscar soluções na carreira, o profissional deve trabalhar a autoconfiança e a autoestima.
Frequentemente, somos nossos maiores críticos e isso pode estagnar nosso desenvolvimento pessoal. “Somos mestres em três coisas: omitir, generalizar e distorcer”, comenta o especialista. Assim, experiências positivas são esquecidas e ficamos só com as impressões negativas sobre nós. É de chorar mesmo.
Ele recomenda um exercício para treinar nosso cérebro a seguir um caminho de pensamentos mais positivos. No lugar de preocupações e previsões de resultados ruins, reforçar o que é positivo antes, durante e depois de realizar uma tarefa.
Segundo Eduardo, o nadador olímpico americano Michael Phelps faz isso desde o começo da carreira: “Penso que vou dar uma boa entrevista hoje, depois que estou fazendo uma entrevista ótima e no final que a entrevista foi um sucesso. É uma forma simples de informar meu cérebro a satisfação do que estou realizando”.
No lugar da autocrítica, ele pede que as pessoas se perguntem mais sobre suas necessidades. “No lugar da cobrança, dar um tempo para se ouvir mais”.
Com esse trabalho das competências intrapessoais, é possível se tornar um profissional mais maduro e resiliente, que busca soluções e lida com as emoções eficientemente. “Todo problema traz consigo a semente da solução. Podemos começar uma revolução positiva ou negativa, buscando uma solução ou resistindo ao fazer o que precisa ser feito”, diz Eduardo.