CEO à distância: novo CEO da Starbucks irá trabalhar a 1.600 Km de distância e não pretende se mudar
Brian Niccol, novo CEO da rede global de cafeterias terá um jatinho para chegar na sede da empresa em Seattle e logo mais terá um escritório perto de casa. No Brasil, ainda não é tão comum CEOs longe do escritório, mas as coisas estão mudando desde a pandemia
Repórter
Publicado em 21 de agosto de 2024 às 07h30.
Última atualização em 21 de agosto de 2024 às 09h56.
Brian Niccol aceitou ser o novo CEO da rede global de cafeterias Starbucks no próximo mês, mas com uma condição: desde que possa morar em sua casa em Newport Beach, Califórnia. Como isso será possível, uma vez que a sede da empresa fica em Seattle, cerca de 1.600 quilômetros de sua casa?
Como solução, a companhia, irá disponibilizar um jato corporativo, considerando a carta de oferta do novo CEO, que foi tornada pública em um documento da SEC na semana passada. A informação foi divulgada na CNBC que também divulgou o salário base do executivo.
De acordo com o veículo americano, Niccol, de 50 anos, receberá um salário base de US$ 1,6 milhão anualmente e terá a oportunidade de ganhar um bônus anual em dinheiro que pode variar de US$ 3,6 milhões a US$ 7,2 milhões, dependendo de seu desempenho. Ele também será elegível para prêmios anuais de ações no valor de até US$ 23 milhões.
O CEO que busca o equilíbrio
Não é a primeira vez que Niccol negocia a possibilidade de um trabalho presencial com tão longa distância de casa. Em 2018, quando Niccol foi nomeado CEO da Chipotle, ele morava em Newport Beach, a apenas 15 minutos de carro do escritório principal da Taco Bell, em Irvine, Califórnia, onde ele ocupava o cargo de presidente. Em resposta à sua nomeação, a Chipotle tomou uma decisão estratégica e transferiu sua sede de Denver para Newport Beach, facilitando a transição de Niccol para sua nova função.
A negociação com a Starbucks tende a seguir um caminho parecido. Na carta de oferta, há uma observação sobre um possível escritório remoto para Niccol em Newport Beach, junto com um assistente de sua escolha, afirma um porta-voz da empresa à CNBC Make It, que reforça que a companhia espera que o novo CEO trabalhe no escritório de Seattle pelo menos três dias por semana, em alinhamento com o regime híbrido dos funcionários administrativos da Starbucks , implantado desde o início de 2023.
Quem pode negociar a flexibilidade?
Negociar flexibilidade no trabalho pode ter se tornado mais comum após a pandemia, mas ainda não é algo tão aceitável por muitas empresas e para muitos cargos. À CNBC, Raj Choudhury, professor da Harvard Business School que estuda trabalho remoto, afirma que pode ser possível cargos em que funcionários comuns negociem trabalhos remotos ou híbridos em outro estado, mas isso acaba sendo mais comum em cargos de alto liderança.
“Está se tornando cada vez mais comum CEOs que trabalham de forma híbrida, porque ainda estamos em um mercado de trabalho competitivo”, conta o professor de Harvard à CNBC. “Os executivos não aceitam ofertas de emprego se a flexibilidade não estiver disponível.”
Ao mesmo tempo que tem CEOs entusiasmado com os trabalho presencial, há ainda espaços para os que preferem flexibilidade. A Future Forum divulgou em 2023 que 75% dos executivos de empresas globais estão preocupados em perder talentos se não oferecerem opções de trabalho remoto ou flexível .
O acordo de Niccol na Starbucks é um exemplo de uma empresa que assume um “risco inteligente” para atrair um executivo famoso, afirma Choudhury que reforça que Niccol tem um forte histórico de recuperação de empresas em dificuldades. Como CEO da Chipotle , ele ajudou a rede a se recuperar do escândalo de doenças transmitidas por alimentos e liderou seus restaurantes durante a pandemia. Durante seu tempo na rede de restaurantes, suas ações dispararam 773%, relata à CNBC.
“Espero que mais empresas tomem conhecimento e sigam o exemplo: se quiser atrair e reter os melhores talentos, tem de estar aberto a acordos de trabalho flexíveis,” afirma Choudhury.
Os benefícios do movimento do CEO da Starbucks
A tendência de CEOs trabalhando à distância pode trazer alguns benefícios para os trabalhadores, afirma Joaquim Santini, pesquisador internacional especialista em gestão corporativa, com passagempor faculdades como Harvard, Unicamp e INSEAD (The Business School for the World – Europe).
"Vejo muitos benefícios com essa tendência, embora podem não ser universais e dependem de como cada organização implementa e gerencia essa política", diz Santini que destaca os seguintes benefícios com CEOs apostando no trabalho híbrido.
- Maior flexibilidade para todos: Se os CEOs adotarem o trabalho remoto ou arranjos de trabalho flexíveis, isso pode abrir caminho para que mais funcionários tenham acesso a essas opções. As empresas podem se sentir encorajadas a oferecer mais flexibilidade para atrair e reter talentos em todos os níveis.
- Maior foco no desempenho: Com CEOs trabalhando remotamente, o foco pode mudar para os resultados e o desempenho, em vez da presença física no escritório. Isso pode beneficiar os funcionários que são produtivos e eficientes, independentemente de onde trabalham.
- Redução dos custos de deslocamento: Se mais funcionários puderem trabalhar remotamente, seguindo o exemplo dos CEOs, isso pode levar a uma redução nos custos de deslocamento e no tempo gasto no trânsito, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores.
- Equilíbrio entre vida pessoal e profissional: Com mais flexibilidade e opções de trabalho remoto, os funcionários podem ter mais controle sobre seu equilíbrio entre vida pessoal e profissional, levando a uma maior satisfação e bem-estar no trabalho.
"O movimento do CEO da Starbucks mostra a importância do equilíbrio entre a flexibilidade e a necessidade de colaboração e interação presencial", afirma Santini.
A realidade no Brasil
No Brasil, ainda não é tão comum encontrar CEOs que trabalhem predominantemente à distância, afirma Santini, uma vez que a cultura corporativa do país tende a valorizar a presença física nos escritórios. "No entanto, com a pandemia acelerando a adoção do trabalho remoto, algumas empresas brasileiras começaram a adotar modelos de trabalho mais flexíveis, inclusive para seus executivos de alto escalão", diz.
O relatório "The Future of Work Trends Forecast 2024", realizado pelo IWG, destaca que o trabalho híbrido é uma das principais tendências que está transformando a forma como as pessoas trabalham globalmente. "Entre 30% e 50% dos trabalhadores de escritórios continuarão a trabalhar de forma híbrida a longo prazo, segundo pesquisas acadêmicas de institutos renomados, como a Universidade de Stanford", afirma Santini. "Além disso, 75% dos CEOs entrevistados pelo IWG esperam que suas empresas operem em um modelo híbrido nos próximos cinco anos."