Unilever lança o Prontidão Júnior após aumento de 15% de pessoas negras na liderança (courtneyk/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 8 de março de 2023 às 14h45.
Março chegou! Com ele, surgem as homenagens pelo Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, 8 de março. Nessa época, intensificam-se as ações nas empresas e as manifestações de amor, admiração e carinho pelas mulheres na mídia, nas redes sociais e em diversos lugares. Muito bacana, não é mesmo?
Sim! Mas precisamos ir além da sazonalidade, das flores, dos chocolates e das palestras pontuais. É necessário dar mais atenção à pauta "da mulher" em todos os meses, em um esforço para tentar diminuir e, quem sabe um dia, terminar com a desigualdade e o preconceito de gênero perante a sociedade.
Com o passar dos anos e uma série de transformações sociais, algumas realidades se adaptaram para as mulheres. Se antes elas eram limitadas a apenas constituir uma família e a serem mães, hoje, elas lideram negócios e conquistam sua independência financeira. Entretanto, mesmo com as conquistas ao longo da história, elas ainda precisam enfrentar batalhas para serem tratadas com respeito e igualdade.
O binarismo carreira versus maternidade ainda é imperativo e essa imposição social é presente em diferentes canais e contextos.
Quando falamos de carreira para mulheres, precisamos parar de criar esse contraponto com a maternidade, pois é como se estivéssemos colocando a mulher em um lugar que ela só pode escolher entre ser mãe ou estar no mercado de trabalho. A liberdade de escolha deve ser algo natural para todas!
A mulher pode fazer uma avaliação do que a faz pulsar, se sentir viva, plena, criativa e conectada com o que acredita. A partir daí, estabelecer um plano para sua vida, que envolva os elementos que são importantes para ela.
Nessa discussão social, deveria ser mais sobre liberdade de escolha e menos sobre o que vai ser escolhido. Mas ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, que cria, sustenta e retroalimenta mecanismos de exclusão e controle de mulheres.
Em nosso cotidiano, cada vez mais convivemos com pessoas de diferentes contextos sociais e gerações. Quando falamos sobre contextos sociais, precisamos discutir interseccionalidade, que se refere aos diferentes fatores sociais que definem uma pessoa, que envolvem nossos marcadores sociais da diferença, como cor, etnia, gênero, classe, orientação sexual, mobilidade, acessibilidade, entre outros.
A sobreposição de opressões que são impostas a pessoas de grupos representativos determinam os desafios e oportunidades que estarão disponíveis a elas.
Ao discutir interseccionalidade, carreira e mercado de trabalho, vamos questionar o que tem sido feito nas empresas para impulsionar todas as mulheres e porque mulheres negras, indígenas, trans, com deficiência e maiores de 50 anos ficam de fora dos números de equidade de gênero constantemente.
E quando falamos de gerações, não estamos falando somente de uma classificação por faixa etária, mas sim de anseios de pessoas que buscam transformações na sociedade, de acordo com as necessidades do contexto social em que nasceram e do momento atual que vivem.
Então, para falar sobre a carreira da mulher, precisamos ter um olhar multigeracional. Afinal de contas, estamos falando de expectativas e comportamentos diferentes na carreira delas.
E, antes de começar a listar características das diferentes gerações, os “pontos fortes e pontos fracos” de cada uma, um alerta: cuidado para não reproduzir estereótipos!
Mulheres de diferentes gerações foram impactadas pelo contexto social da sua época, mas também sofreram com os estereótipos e barreiras sociais atribuídos aos seus marcadores da diferença ao longo dos anos. Logo, a vida de mulheres cis brancas foi diferente de mulheres negras e indígenas, mulheres trans, mulheres com deficiência.
Nas companhias, o despreparo com a pauta da diversidade geracional é uma realidade que precisa ser repensada com urgência, já que o envelhecimento da população é uma realidade e a mudança de carreira será um movimento muito mais frequente, principalmente para as mulheres.
É imprescindível que os times sejam preparados para trabalharem com perfis etários distintos, para que não sejam conduzidas discriminações e falas carregadas de estereótipos sobre as mulheres em suas diversas idades.
Em pleno século XXI, conseguir a inserção no mercado de trabalho e ter perspectivas de crescimento profissional ainda são obstáculos enfrentados pelas mulheres. Quando observamos quem são as pessoas que ocupam cargos de liderança e posições de maior visibilidade na sociedade, na maioria das vezes encontramos homens.
Muitas vezes, ao encontrar uma mulher nas organizações, ela é colocada em uma situação de inferioridade ao seu par masculino, seja em imagem, prestígio ou salário.
Muitos estereótipos conduzidos socialmente ditam padrões que as inferiorizam, fazendo com que sejam consideradas menores e menos capazes no contexto em que estão inseridas. E, quando consideramos as interseccionalidades, os impactos se multiplicam para mulheres negras, trans, com deficiência, 50+, entre outros marcadores sociais.
Mecanismos de exclusão como o racismo, o machismo, a LGBTfobia, o etarismo e o capacitismo, por exemplo, se fazem presente no dia-a-dia delas. Sem sombra de dúvidas, é urgente e necessário desmistificar alguns papéis da mulher para que ela seja protagonista de sua carreira. Para que essa transformação rumo à equidade de gênero aconteça, o primeiro passo é ser uma pessoa aliada e apoiadora das mulheres.
Parece ser fácil, mas não é! Como se não bastasse toda luta histórica para conquistar seus direitos, elas nem sempre contam com o apoio da família para seguir sua carreira. É um fato que está diretamente relacionado à questão do preconceito e da cultura machista que serve como base da sociedade atual.
Muitas vezes, a família reverbera a ideia de que a mulher tem o dever de cuidar da casa e da família apenas porque foi assim que aprenderam. Uma mulher cis e hétero, quando decide não ser mãe, é considerada praticamente uma afronta ou desrespeito com as outras pessoas. Surgem questionamentos como “você vai se arrepender”, “seu companheiro vai te abandonar se você não arrumar um filho”, entre outros apontamentos sérios que podem resultar em muitos problemas emocionais por causa da pressão de ser “o que os outros idealizam como certo para elas”.
Às mulheres trans e com deficiência, existe a negação social para a maternidade, falsamente justificados por biologia ou capacidade. E a todas as mulheres, existe um condicionamento social de que ela é a única responsável pelo cuidado e o servir, não importa em qual ambiente, e isso traz um peso muito grande.
São inúmeras as situações que exemplificam os desafios enfrentados por elas na sociedade, mesmo quando conseguem ingressar no mercado de trabalho. Se for atravessada por diferentes marcadores sociais de vulnerabilidade, as coisas se complicam ainda mais. Mulheres trans são questionadas diariamente sobre sua feminilidade, mulheres negras têm seus corpos objetificados ou direcionadas para o trabalho servil e mulheres com mais de 50 anos são acusadas de terem passado da idade para muitas coisas que desejam fazer.
Outro grande preconceito na carreira da mulher é dizer que ela chegou em uma posição de sucesso por ter um homem que a ajudou. Mais uma vez seu valor está associado a um estereótipo e não ligado à sua real competência. O tempo todo a mulher precisa se justificar ou se proteger de situações que a sociedade impõe.
As organizações que estão preocupadas com a diversidade e a inclusão são cruciais para promover essa mudança e incentivar o protagonismo feminino. São vários os caminhos para que elas ajudem a acelerar a transformação necessária para um ambiente corporativo mais equitativo.
Para começar, é preciso reconhecer o problema e a necessidade de ações concretas para reduzir a desigualdade de gênero. As empresas precisam olhar para suas lideranças e capacitá-las para serem mais diversas e inclusas. Além disso, as mulheres precisam ser incentivadas e desenvolvidas, com acesso a oportunidades de crescimento e salários justos.
As políticas de inclusão devem estabelecer metas para a equidade de gênero em todos os cargos, sobretudo de liderança. São ações que também precisam ser pensadas através da ótica da interseccionalidade, contemplando mulheres negras, indígenas, trans, com deficiência e 50+, por exemplo.
Também é fundamental rever abordagens nos processos de recrutamento e contratação, por meio de seleções que considerem única e exclusivamente a competência profissional da mulher. As empresas precisam se concentrar em fazer perguntas que avaliem suas habilidades sociais, emocionais e técnicas e não questionamentos sobre o lugar que mora, se está casada ou se tem ou deseja ter filhos.
Importante dizer que: as ações corporativas só se tornam válidas e efetivas quando estão conectadas à uma trilha de desenvolvimento, incluindo práticas que vão desde o anúncio da vaga até o desligamento, quando isso acontecer!
Para este mês da mulher, o meu desejo é que as ações voltadas para elas em março seja apenas o fio condutor de tudo que precisa ser feito nos outros meses do ano! Já tivemos conquistas importantes ao longo da história, mas ainda falta muito para sermos um mundo melhor, mais acolhedor, respeitoso e seguro pra gente. Para isso, empresas e sociedade em geral precisam se dedicar e se entregar de maneira genuína nas ações com foco em diversidade e equidade de gênero. Quem vem comigo?