As melhores para mulheres
Conheça as 40 empresas que dão oportunidades de carreira e mimos a suas funcionárias
Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2010 às 17h57.
Os últimos meses de gravidez da administradora de empresas Adriana Queiroz, de 33 anos, foram de transformação. E não apenas nos aspectos físico e emocional. Kika -- como Adriana é conhecida nos corredores da Natura -- quis também mudar profissionalmente. Depois de três anos como supervisora de e-commerce, ela precisava de novos desafios. "A relação com meu chefe sempre foi muito aberta e não hesitei em comunicar minha intenção de mudar", diz. "Nem a gravidez me intimidou." Num momento em que a maioria das mulheres se sente insegura no mundo corporativo, Kika estava tranqüila o suficiente para iniciar as negociações para trocar de função.
Enquanto esteve em casa cuidando da pequena Tainá, hoje com 6 meses, seu currículo era avaliado pelo departamento de RH. Duas semanas antes de retornar ao trabalho, Kika recebeu proposta para assumir a gerência de duas linhas de produtos. Kika voltou dos cinco meses de licença e férias diretamente para o novo cargo. É por essa e (muitas) outras políticas de gestão que a Natura foi eleita a melhor empresa para a mulher trabalhar no Brasil em 2003. O ranking é inédito no país e se torna, a partir deste ano, parte importante do Guia Exame As Melhores Empresas para Você Trabalhar. A seleção, elaborada pelo Great Place to Work Institute a pedido de Exame, foi feita com as 411 empresas que se inscreveram neste ano (inclusive na categoria especial, de 100 a 199 funcionários) para a pesquisa que resulta na lista das 100 melhores. Obedecemos aos seguintes critérios:
1. Separamos as empresas com pelo menos 35% de mulheres no quadro de funcionários.
2. Feito isso, olhamos aquelas onde elas têm média de satisfação com o ambiente de trabalho superior a 71 (numa escala de zero a 100).
3. As empresas que preencheram os dois pré-requisitos anteriores receberam uma análise profunda de suas políticas e práticas específicas para o público feminino.
4. Para elaborar o ranking, foram dadas notas ponderadas à quantidade relativa de mulheres em cargos executivos; às práticas exclusivas (creche no local de trabalho, por exemplo); e aos comentários espontâneos dos funcionários (homens e mulheres) sobre não-discriminação.
Para encabeçar a lista, a Natura mostrou que não encanta apenas as consumidoras com seus cosméticos -- ela dá um show também na sua polítia interna. As oportunidades de carreira são iguais para todos os funcionários. As mulheres, aliás, ocupam 52% dos cargos de liderança. Entre os benefícios, destaque especial para a creche na fábrica e para o apoio aos pais adotivos. A Natura é exemplar, mas não está sozinha no reconhecimento à sua força de trabalho feminina. A lista das 40 Melhores Empresas para a Mulher Trabalhar contempla organizações de todos os setores e tamanhos. Há grandes bancos, como Bradesco e Unibanco; organizações do comércio, como Magazine Luiza e Pão de Açúcar; indústrias, como Intelbras e Kraft Foods; serviços, como Redecard e Serasa; pequenas, como Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo e Livrarias Curitiba.
Embora ainda ganhem 34% menos que os homens, segundo pesquisa do Dieese, as mulheres estão avançando no mundo corporativo. "Elas dedicam mais tempo aos estudos que os homens com os quais concorrem profissionalmente", explica Graça Ohana, coordenadora de pesquisa do Dieese em Brasília. Os números de mulheres nas faculdades mudam de acordo com a cidade. Em Recife, por exemplo, das profissionais economicamente ativas, 14,2% estão cursando ou concluíram a faculdade. Entre eles, o percentual é de 9,8%. Em São Paulo, são 16,9% das mulheres ante 14,4% dos homens. Segundo Graça, isso acontece porque, na maioria das empresas, para concorrer à mesma vaga, elas precisam ter um currículo melhor do que o deles.
Valor para o diferente
As mulheres já andaram bastante na hierarquia corporativa -- mas estão longe de alcançar os colegas. Na lista das 100 melhores empresas deste guia, 17% das vagas executivas são ocupadas por profissionais do sexo feminino. Entre as dez melhores, o percentual é um pouco maior: 21%. "As empresas que assumem uma postura positiva em relação às mulheres estão contribuindo para encurtar o caminho até a igualdade", diz Eliana Magalhães Graça, socióloga do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), de Brasília. Essa contribuição nem sempre é sinônimo de grandes investimentos financeiros. A Avon, concorrente da Natura no setor de cosméticos, coloca um ginecologista para atender suas funcionárias na sede da empresa, em São Paulo. A consulta pode ser até mesmo durante o expediente. Na Intelbras, fábrica de centrais telefônicas, de São José, em Santa Catarina, não se comemora o Dia da Mulher, e sim a Semana da Mulher. Nesses cinco dias, elas são recebidas com tapete vermelho. Na Bates do Brasil, agência de publicidade com sede em São Paulo, os mimos são ainda maiores. Dia 8 de março, elas ganham festa no "clube das mulheres", recebem flores, champanhe e apoio na prevenção ao câncer de mama e no controle da TPM.
Mimos são importantes (e todo mundo gosta), mas as mulheres não dispensam oportunidades iguais de crescimento. A Natura consegue oferecer os dois lados dessa moeda. Uma caminhada pelos corredores de sua sede, em Cajamar, na Grande São Paulo, ajuda a entender o porquê de a empresa estar no topo do ranking. O clima é de descontração e tudo parece ter sido pensado e repensado para garantir bem-estar. Lá dentro, mulher não é minoria. São 1 637, ou 62% do quadro de empregados. "É uma empresa tão feminina que estranhei no começo", diz a paulistana Rosangela de Oliveira, de 35 anos, há sete trabalhando como auxiliar de operações na fábrica de cremes. Antes, ela havia trabalhado em siderúrgicas. "Tinha desconfiança quando contavam que a gente podia dizer tudo o que pensa, opinar até sobre as questões de outros departamentos e planejar nossa carreira aqui dentro", diz. "Demorou pelo menos um ano até eu perceber que não era uma armadilha e que eu podia, sim, me expressar livremente."
Rosangela, como prefeita da fábrica em que trabalha, é hoje o elo entre os empregados e a direção. Leva reclamações de um, discute propostas do outro. Dar a opinião sincera faz parte de suas atribuições. É por esse leva-e-traz de informações que a administração fica sabendo das necessidades de seus colaboradores. Foi assim que descobriu, por exemplo, que algumas funcionárias tinham vontade de adotar uma criança, mas temiam o desgaste emocional e burocrático do processo. Desde então, a equipe de serviço social auxilia nos trâmites oficiais. Após concluída a fase legal, os pais adotivos recebem benefícios idênticos aos dos pais de filhos legítimos.
Todos iguais
A Redecard, empresa de serviços na área de cartões de crédito, segundo lugar no ranking, toma ao pé da letra o conceito de eqüidade. A única distinção entre os 666 funcionários (326 mulheres) está no trabalho que cada um desenvolve. Todos os benefícios são para todos os funcionários. Até o auxílio-creche, que a lei só determina que seja pago às mães, pode ser solicitado também pelos pais. É política da Redecard, por exemplo, não contratar substitutos para as vagas de mulheres em licença-maternidade. "Acreditamos que manter práticas especiais é uma forma de discriminar", explica Irélio Frigo, vice-presidente de recursos humanos. "E não fazemos nada aqui que não possa ser executado por ambos os sexos." A paulistana Kátia Maragone Forjaz, de 29 anos, é um bom exemplo de que nem todas as mulheres querem ser tratadas de forma diferente dos homens.
Kátia entrou na Redecard há quatro anos, depois de oito fora do mercado. "Parei de trabalhar quando tive meu primeiro filho porque achava impossível conciliar profissão com maternidade", diz. Na Redecard, Kátia vem descobrindo que estava errada. Primeiro, ela demonstrou interesse em deixar de ser secretária para trabalhar com turismo e hotelaria, sua formação acadêmica. Após uma série de cursos apoiados pela empresa, Kátia assumiu, há um ano e meio, a função de executiva de contas na área desejada. Agora, Kátia está grávida novamente. "O clima aqui é tão saudável e nós somos tão respeitadas que resolvi ter meu segundo filho." E, dessa vez, sem deixar o emprego. Com um detalhe: Kátia continua no comando de projetos importantes, participa de reuniões e só reduz o expediente quando está indisposta. "Aqui vi que é possível ser mãe e profissional, desde que a empresa a respeite."
Tradicionalmente, por causa da família, mulheres casadas têm dificuldade de fazer carreira em empresas que exigem mudança constante de cidade. No Magazine Luiza, por exemplo, crescimento profissional está invariavelmente ligado à transferência entre as lojas espalhadas pelo interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. Portanto, só os homens sobem, certo? A paulista Cláudia Bernardo de Oliveira, de 28 anos, garante que não. Cláudia mudou de endereço pela primeira vez em 1997, com apenas dois anos de casada. "Na minha casa, ao contrário do que acontece na maioria das famílias, meu marido é quem precisa deixar o emprego para me acompanhar", diz a atual gerente de loja em Santa Rita do Sapucaí (MG), sua quinta cidade em oito anos. A postura do marido, o contador Daniel Bernardo de Oliveira, de 33 anos, foi determinante. Ele aceitou o papel de tomar conta do filho, Victor Hugo, enquanto Cláudia trabalha. Mas a empresa também faz a sua parte. Além de pagar mudança e hotel para a família nos primeiros meses, dá apoio psicológico a todos. "Recebemos todo tipo de ajuda", conta Cláudia.
PASSOS DA ESCOLHA
Entenda como foram selecionadas as melhores empresas para a mulher trabalhar no Brasil
Para chegar à lista das 40 melhores empresas para a mulher trabalhar, foram analisadas as 411 inscritas na pesquisa do Guia Exame -- As Melhores Empresas para Você Trabalhar, edição 2003. Entre as 40 melhores para a mulher, somente 11 não estão nem no ranking das 100 nem na categoria especial de 100 a 199 funcionários. A primeira seleção foi quantitativa: ter mais de 35% de mulheres no quadro e média de satisfação com o ambiente de trabalho superior a 71% (numa escala de zero a 100). A partir daí, foi feito um check-up das empresas selecionadas. Primeiro, pela porcentagem de mulheres em posição de chefia. As empresas com até 25% de executivas receberam 30 pontos; de 26% a 50%, 50 pontos; com 51% ou mais, o máximo de 100 pontos. A mesma escala de pontos foi usada para dar notas em relação à quantidade de mulheres no quadro geral de funcionários, a partir do mínimo de 35%. Depois, foi a vez dos benefícios. Até três benefícios renderam 30 pontos. Com quatro ou cinco, 50 pontos. Acima de cinco práticas, 100 pontos. A nota final foi dada com base em quatro itens de pesos distintos:
1. A satisfação das mulheres com o ambiente de trabalho teve 60% de peso.
2. Os comentários espontâneos dos funcionários sobre não-discriminação tiveram peso equivalente a 5%.
3. As práticas apresentadas pela empresa específicas para mulheres significaram 25% da nota.
4. Os 10% restantes vieram da média ponderada de benefícios e do número de mulheres em cargos de chefia.