As lições de carreira dos pais de 5 homens de negócio
Maurício de Sousa, Sônia Hess, Julio Vasconcellos, Sérgio Chaia e Acacio Queiroz compartilham o que aprenderam com seus pais; confira e inspire-se
Talita Abrantes
Publicado em 13 de agosto de 2012 às 14h40.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h19.
São Paulo – Quando criança, você provavelmente olhava para seu pai com olhos de quem vê um herói. O tempo passa, a gente cresce e, apesar das áreas de atuação muitas vezes diferentes, os pais continuam lá trazendo lições inspiradoras de como ser um profissional e uma pessoa melhor. Por conta disso, quase todo mundo tem uma lição importante de carreira transmitida por seu pai (ou por outra pessoa que assumiu o papel dele na sua vida) para contar. A história não é diferente para cinco executivos de diferentes áreas de atuação ouvidos por EXAME.com. Clique nas fotos acima para conferir como os progenitores de Maurício de Souza, Sônia Hess, Acacio Queiroz, Sérgio Chaia e Julio Vasconcellos influenciaram a carreira deles. E, se quiser, inspire-se também.
Quem conversa com Sônia Hess, presidente da Dudalina, percebe que dentro de si carrega com muito carinho uma combinação da personalidade do pai e da mãe, fundadores do grupo. Do pai, ela revela, vem o lado mais sentimental que norteia, até hoje, a maneira como ela toca os negócios da família. Encha-se de alegria diante do sucesso dos outros – “E a maior lição que meu pai deu foi o respeito que ele teve por ela. Ele sempre aplaudiu todas as conquistas, foi o grande apoiador de todas as iniciativas dela mesmo numa época difícil”, conta. Gente sempre vale mais – “ O valor do dinheiro nunca foi mais importante na vida dele”, afirma Sônia. Ela revela que nunca ganhou um presente físico do pai, mas recebeu diversas poesias. “O presente físico, hoje, eu não teria. Mas tenho todas as poesias”. Não por acaso, no expediente da Dudalina existe até uma data reservada para o abraço. “O valor não está no dinheiro em si, está no resultado, naquilo que você está construindo”.
Quando questionado sobre como seu pai inspira sua carreira até hoje, Maurício de Souza (na foto, com 7 meses) não pestanejou em responder: “Tudo. Sou sua continuação”. Também não é para menos. Seu pai, o senhor Antônio Maurício de Souza, “era uma mistura de talentos: escritor, jornalista, poeta, compositor, pintor e radialista. Para sobreviver era barbeiro”, descreve o cartunista. Faça o que ama (mas tenha um plano B): No início da carreira, o pai de Maurício de Souza deu um conselho crucial para o seu trabalho: combinar arte com administração. “Como, apesar da diversidade de atividades, meu pai não foi vitorioso na área econômica, assim que me viu iniciando a carreira de desenhista, sugeriu que eu desenhasse pela manhã e desenvolvesse a administração do meu trabalho à tarde”, conta. Construa sua própria estrada - No início da carreira do cartunista, o senhor Antônio deu outro conselho essencial: "Que eu não dependesse de ninguém para desbravar meu caminho", diz. A comunicação é tudo – Ele ensinou “que na comunicação está o caminho para os bons resultados. E isso teria que passar pelo estudo, muita leitura, quebra da timidez e principalmente acreditar e buscar os objetivos.”, afirma Maurício de Souza.
Nos primeiros passos em sua vida profissional, Sérgio Chaia contou com o apoio do pai, então diretor da Johnson & Johnson. Mas talvez não do jeito que ele esperava. “O pessoal da divisão de consumo já iria me colocar para estagiar na área de Marketing, mas ele interveio e pediu para que eu trabalhasse como promotor. Este era o posto mais baixo da organização”, conta o executivo. A decisão do pai do presidente da Nextel não foi gratuita. “Pude perceber o valor das pessoas que trabalhavam ao meu redor e a importância da execução e isso, por outro lado, me deu essa resiliência e persistência para vencer desafios”. Empolgue-se ao criar coisas novas – Farmacêutico e ex-professor da UFMG, o pai de Sérgio Chaia foi responsável pela criação do centro de pesquisas da Johnson & Johnson – onde atuou por mais de 20 anos. “A vontade e a energia com que ele realizava suas tarefas me impressionava, e a forma como ele se dedicava na realização destas tarefas, que quando observadas do lado de fora, pareciam desafios gigantescos”, conta Chaia. Nada cai do céu – “Acho que o principal conselho que o meu pai me deu foi o de enfrentar a vida e valorizar as minhas conquistas, mas lembrar de que nada é construído sem luta, persistência e energia. Nada cai do céu, nada é de graça”, diz. Gerenciar pessoas é essencial – “Meu pai foi corresponsável pela descoberta de um medicamento que ficou muito famoso no mundo inteiro, o Pantelmin, e publicou um atlas de parasitologia de doenças endêmicas. Ele tinha muito conhecimento técnico, muita inteligência, mas que não foi preparado para gerenciar pessoas e, por algumas vezes, isso fazia com que ele acabasse por realizar o trabalho dos outros ou não sabia tirar o melhor das pessoas que trabalhavam para ele”, diz o executivo. “Torna-se importante trabalhar as competências emocionais no relacionamento com as pessoas, na formação da sua equipe e na terceirização das suas fraquezas na fortaleza dos outros”, afirma.
O presidente da Chubb Seguros começou cedo sua carreira de liderança. Bem cedo, diga-se de passagem. Aos 16 anos, já geria sua primeira equipe como gerente. Aos 23, tornou-se diretor. Boa parte deste sucesso, ele admite, veio dos ensinamentos que recebeu de seu pai – de quem também herdou o nome. Não ficar em cima do muro - Microempresário no setor de transportes, o senhor Acacio Queiroz (pai) tinha um lema: “Na vida, só tem duas cores: preto e branco. Cinza não existe”, diz Queiroz Filho. Em outros termos, na vida profissional, as decisões devem ser apresentadas de maneira clara – com respostas baseadas em sim e não. “Cinza é só para quem quer se esquivar das decisões, para quem não é transparente”, afirma o executivo. E quando a resposta for não, sempre tenha na ponta da língua uma boa justificativa. “Isso deixa as pessoas satisfeitas com a sua decisão”, diz. Surpreender, sempre - “Quando ninguém falava de talento, meu pai ensinou que para se destacar o profissional precisa entregar mais do que o esperado”, conta. Importar-se sem ser paternalista – “Ele dizia que a disciplina era o respeito pelo próximo”, diz Queiroz. “Ele fazia o bem ser ver a quem”. O executivo afirma que seu pai, contudo, não deixava esta visão descambar para o paternalismo. “Seja humano, mas extremamente exigente quanto a querer que as pessoas cresçam na vida”, afirma o presidente da Chubb.
Filho de diplomata, Julio Vasconcellos do Peixe Urbano viveu em três países diferentes, além do Brasil. Neste domingo, passará a data longe do pai – já que, a serviço do governo brasileiro, ele mora agora na Thailândia. Mas apesar das escolhas profissionais diferentes (Julio é empreendedor e o pai, funcionário público), afirma que o pai sempre o acompanhou nas decisões que tomou. “Ele sempre foi muito bom de ouvir, sem julgar muito”. Nível hierárquico? Balela – “Meu pai sempre tratou todo mundo igual – independente da senioridade”, conta. “Em gestão de pessoas, isso é importante: tratar todos com respeito” Siga seus instintos (quando eles são confiáveis) - “Ele sempre foi muito bom de ouvir, sem julgar muito”, diz. “Ele sempre falou para eu confiar em meus instintos, já que eu sempre tomei boas decisões”. Adapte-se a novos contextos – A natureza da carreira do pai também contribuiu para moldar o perfil profissional de Julio. “Você aperfeiçoa a arte de ser o garoto novo da escola: aprender a fazer amigos muito rápido e a lidar com situações diferentes”, diz.