"A primeira vez que" ou "A primeira vez em que", qual é o certo?
Professor usa frase retirada de um protesto para esclarecer uma dúvida comum entre falantes da língua portuguesa
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2017 às 14h15.
Última atualização em 2 de maio de 2017 às 14h20.
"Não é a primeira vez em que apreendem, uma vez que o povo aprende." - estampa a criativa frase de protesto.
A expressão temporal "a primeira vez que", de acordo com a língua-padrão, não deve ter a preposição "em": "É a primeira vez que discutimos o assunto.", "A primeira vez que eles escreveram foi hoje."
Segue o mesmo raciocínio "todas as vezes que", sem a presença da preposição "em": "Todas as vezes que alguém protestar, haverá uma opinião contrária."
Em Lições de Português pela Análise Sintática, argumenta Bechara: "Tem-se estendido sem razão nem tradição no idioma o emprego 'em que' em construções onde só deve figurar o 'que', como 'todas as vezes em que'. Prefira-se 'todas as vezes que' ou 'em todas as vezes em que' (ou simplesmente 'que').
Estendem-se, a tal norma, temporalidades semelhantes, de acordo também com Domingos Paschoal Cegalla: "Da mesma forma se dirá: Foi a segunda vez que (e não em que) o criminoso fugiu da prisão. É o terceiro ano consecutivo que (preferível a em que) o instituto deixa de prestar contas."
Intitulo criativo o jogo de palavras com "apreende" e "aprende", já que ambas as formas provêm do latim apprehendere, que significa agarrar, apoderar-se de, compreender, entender.
Apesar da mesma derivação, as duas formas tomaram rumos linguísticos distintos: apreender tem o sentido de fazer apreensão; aprender tem o sentido de adquirir conhecimento, aptidão ou experiência. Vejamos:
"O fiscal apreendeu a mercadoria ilegal, uma vez que aprendeu a lei."
Da síncope com apreender, fenômeno linguístico responsável pela supressão de fonema(s) no interior da palavra, surgiu o verbo aprender. Por isso, a natural confusão entre os usuários de nossa Língua, no momento da pronúncia ou no momento da escrita.
Dedicando-se à Gramática e à sua história, o aprendizado é rodeado de lógica e valor. Como você, caro leitor, não me canso de aprender.
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Diogo Arrais
@diogoarrais
Professor de Língua Portuguesa - CPJUR
Autor Gramatical pela Editora Saraiva