Brasil

Reestatização do setor de saneamento no mundo é um mito, diz ex-presidente da Sabesp

Na maioria dos casos, contratos do setor apenas chegaram ao fim, explica Gesner Oliveira, que avalia privatização da Sabesp como "positiva" e diz que processo "acelera metas" de universalização do acesso

Na análise do especialista, o Estado tem mais vocação para atuar na regulação e fiscalização dos serviços do que na operação direta (Divulgação/Divulgação)

Na análise do especialista, o Estado tem mais vocação para atuar na regulação e fiscalização dos serviços do que na operação direta (Divulgação/Divulgação)

Publicado em 6 de março de 2025 às 10h01.

Última atualização em 6 de março de 2025 às 10h20.

O debate sobre a gestão do saneamento no Brasil e no mundo frequentemente coloca em polos opostos a participação do setor privado e a estatização dos serviços. Para o economista Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), sócio da GO Associados e ex-presidente da Sabesp, no entanto, a ideia de que o saneamento está voltando ao controle estatal em larga escala mundo afora é um "mito".

"É natural haver ciclos em que você tenha maior participação do setor privado ou a volta do setor público, mas o que se observa globalmente é que, na maioria esmagadora dos casos, os contratos tinham previsão de 40 a 50 anos para montar a infraestrutura. Uma vez cumprida essa etapa, a municipalidade pode optar por assumir a gestão", diz Oliveira em entrevista ao programa EXAME INFRA realizado pela EXAME em parceria com a empresa Suporte.

"Isso não significa que está havendo uma reestatização em massa", completa. Na análise do especialista, o Estado tem mais vocação para atuar na regulação e fiscalização dos serviços do que na operação direta.

"Em Paris, por exemplo, parte do sistema foi municipalizado sem grandes problemas, mas quando olhamos para o universo total de contratos ao redor do mundo, o volume de processos de reestatização é muito pequeno", afirma.

yt thumbnail

Privatização da Sabesp foi positiva, diz ex-diretor

Gesner Oliveira também comentou a privatização da Sabesp. Em 2024, o governo estadual de São Paulo concretizou um processo de Parceria Público-Privada (PPP) com a empresa Equatorial, que recebeu o controle da companhia de água e saneamento paulista como acionista de referência.

Com o Estado como sócio minoritário, a Equatorial assumiu a promessa, com a contrapartida de antecipar a meta de universalização do acesso à água e esgoto tratados de 2033 para 2029, em um investimento previsto em R$ 68 bilhões.

O especialista, que foi diretor da Sabesp de 2007 a 2011, considera "positiva" a diluição do controle estatal por incluir um reforço substancial no plano de investimentos.

"O que o estado de São Paulo vai ganhar com o novo plano de desenvolvimento da Sabesp é fantástico. A universalização, que pelo Marco do Saneamento seria até 2033, foi antecipada para 2029. Isso significa que os benefícios chegarão mais cedo à população", afirma.

Ele destaca que a transição da Sabesp para um modelo de maior participação privada foi um processo gradual.

"Nos anos 1990, a empresa abriu capital; nos anos 2000, entrou no novo mercado; na década de 2010, chegou ao limite do controle estatal com 50,13%; e, mais recentemente, introduziu direitos políticos ao gestor privado como acionista de referência. A Sabesp é a quarta maior empresa de água do mundo e uma referência, justamente por operar em um ambiente urbano muito mais complexo do que cidades como Paris ou Estocolmo", explica.

Equilíbrio entre tarifa social e rentabilidade

Outro desafio do setor de saneamento é como equilibrar a sustentabilidade financeira dos contratos com a garantia de tarifas acessíveis à população mais vulnerável. Oliveira defende que isso é possível com uma estrutura tarifária inteligente, que permita compatibilizar lucro e atendimento social.

"A Sabesp, por exemplo, possui uma categoria tarifária social. Nos projetos estruturados pelo BNDES, como o do Rio de Janeiro e de Alagoas, foi prevista uma cláusula de reequilíbrio financeiro. Se houver aumento da tarifa social, pode-se compensar esse custo na modelagem do contrato, garantindo rentabilidade sem comprometer o atendimento às famílias mais vulneráveis", diz ele.

Além disso, segundo o economista, a tarifa social gera externalidades positivas, que beneficiam toda a sociedade.

"Se essas famílias tiverem acesso ao serviço, a poluição urbana e ambiental reduz significativamente. Algumas faixas de renda poderiam pagar um pouco mais para ter lagoas e praias despoluídas, enquanto famílias de menor renda teriam tarifas mais acessíveis".

EXAME INFRA

O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.

Veja os episódios:

Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos

yt thumbnail

Ep.2 - EXAME INFRA: Com prazo para setembro de 2026, Via Appia quer antecipar entrega final do Rodoanel Norte

yt thumbnail

Ep. 3 - EXAME INFRA: Rodovias, ferrovias, 'antídoto' para o câmbio: a agenda de R$ 160 bi do Ministério dos Transportes

yt thumbnail

Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR 

yt thumbnail

Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento 

Acompanhe tudo sobre:SabespSaneamentoPrivatizaçãoConcessõesLeilões

Mais de Brasil

Nunes nega candidatura ao governo de SP e diz que será ‘o maior cabo eleitoral’ de Tarcísio

Incêndio de grandes proporções atinge prédio da PUC, em Curitiba

Tarcísio abre nova frente de concessões ao encaminhar leilão de travessias de balsas

Sindicato dos professores de SP confirma greve; Justiça determina 70% do quadro