A chefe do Facebook não queria dar esta dica de negociação
Há uma dica que Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook, dá muito a contragosto para mulheres mas que continua sendo necessária
Camila Pati
Publicado em 4 de novembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 4 de novembro de 2017 às 06h00.
São Paulo –À chefe de operações do Facebook , Sheryl Sandberg , chegam com frequência pedidos de conselhos de carreira, sobretudo, depois que ela publicou um livro convocando mulheres a tomarem as rédeas do próprio sucesso profissional.
Mas, durante um f órum na Universidade de Stanford, ela ressaltou, segundo reportagem do Quartz, que existe um conselho para mulheres em vias de pedir aumento de salário ou um investimento em um projeto que ela não gostaria que fosse necessário, mas é.
Segundo ela, as mulheres precisam investir em uma estratégia de negociação já que estudos indicam que merecimento é um argumento que pega mal para elas, mas não para os homens.
Se dizer ao chefe que merece um aumento não prejudica a imagem de um funcionário homem, mas pode arranhar a reputação de uma mulher, o melhor caminho é indicar os ganhos que a empresa terá ao promovê-la ou investir em sua ideia.
Ou seja, as mulheres têm mais chance de sucesso quando transcendem a questão individual e indicam também o benefício coletivo, que pode ser o aumento de resultados ou a maior efetividade no trabalho em equipe, por exemplo.
Não é que a tática não seja efetiva para os homens, eles também deveriam investir nesse complemento de argumentação, segundo a executiva.
É só que há muito menos risco de eles saírem com reputação de egoístas da mesa de negociação se apontarem exclusivamente motivos individuais para justificar um pedido de aumento.
Por que ela fez questão de dizer que não gosta de dar essa dica
O problema é que ao dar este conselho só para mulheres, Sheryl sente que reforça justamente estes estereótipos que ela não gostaria que existissem: o de que as mulheres devem ter o foco nas necessidades alheias e o de que os homens são líderes naturais. Perpetuar esse tipo de lugar-comum prejudica a já combalida luta pela igualdade de gênero no mundo profissional.
S egundo o Global Gender Gap Report, divulgado nesta semana e que investiga a igualdade entre homens e mulheres em quatro frentes - Participação Econômica e Oportunidade, Acesso à Educação, Saúde e Sobrevivência e Empoderamento Político – eles e elas só serão tratados da mesma forma no trabalho daqui a 270 anos. Mais do que o triplo do tempo previsto pela edição anterior do relatório que era de 83 anos.
Outro estudo recente, realizado pelo BCG, com foco no mercado brasileiro, indica que, apesar de avanços, os impactos das políticas de gênero das empresas muitas vezes não são nem percebidos pelas mulheres.
Das mulheres que participaram da pesquisa, que coletou dados a partir de relatos de centenas de executivos e gestores, 45% disseram que participaram de programas de diversidade de gênero, mas só 20% afirmaram terem sido beneficiadas diretamente pelas iniciativas.
De acordo com as conclusões apontadas no relatório da pesquisa, as empresas brasileiras ainda estão implementando medidas mais urgentes como, por exemplo, políticas antidiscriminatórias, sistemas de denúncia e garantia de um ambiente físico inclusivo. “As empresas parecem estar primeiramente consertando o básico”, diz o texto produzido pela equipe do BCG.