Carreira

4 técnicas da neurociência para acelerar o seu aprendizado

Como driblar o cansaço, manter-se motivado e garantir sua concentração? Veja dicas de neurocientistas para turbinar os seus estudos

Pessoa estudando: veja táticas recomendadas pela neurociência para aprender mais rápido (monkeybusinessimages/Thinkstock)

Pessoa estudando: veja táticas recomendadas pela neurociência para aprender mais rápido (monkeybusinessimages/Thinkstock)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 15h00.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2018 às 15h00.

São Paulo — Trancar-se no seu quarto, debruçado sobre os livros de manhã até a noite, por meses a fio, sem tempo para amigos, lazer ou academia: essa é a rotina de muita gente que estuda para concursos públicos e outras provas de admissão consideradas difíceis.

Esse ritmo frenético de trabalho é considerado normal e até recomendado para quem está se preparando de um grande desafio. Mas não pela neurociência.

Isso porque descuidar do próprio bem-estar físico e mental prejudica o seu desempenho cognitivo e, consequentemente, diminui as suas chances de reter o conteúdo e tirar uma boa nota na prova.

“A maioria das pessoas esquece que o cérebro é uma parte do corpo, tal como língua, fígado ou coração”, diz o neurocientista Pedro Calabrez, professor da Casa do Saber e pesquisador do Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC) da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.

Só é possível aprender rápido — e bem — se o seu organismo estiver bem alimentado, hidratado, descansado e saudável como um todo. A parte mais negligenciada desse autocuidado costuma ser o sono, fundamental para a eliminação de toxinas e para a fixação das memórias.  

Imagine que você acordou subitamente após um repouso de 4 horas e agora se depara com um dilema: levantar da cama para adiantar os estudos ou dormir por mais 2 horas? 

A segunda opção é definitivamente a mais inteligente, diz Carla Tieppo, neurocientista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Ela explica que a noite de sono precisa durar entre 6 e 8 horas, no mínimo. É o tempo necessário para entrar na fase REM (“Rapid Eye Movement” ou “movimento rápido dos olhos”), quando ocorrem processos fundamentais para a memória.

Também é bom evitar o consumo exagerado de álcool antes de dormir, já que a embriaguez dificulta a entrada na fase REM. Melhor substituir as latas de cerveja por uma rápida revisão da matéria. Segundo Tieppo, estudar um pouco logo antes de dormir, nem que seja por 10 minutos, ajuda o cérebro a fixar esse conteúdo.

Confira a seguir outras técnicas recomendadas pela neurociência para acelerar o seu aprendizado:

1. Busque atrelar emoções ao estudo

Muita gente supõe que tudo que diz respeito aos estudos é racional. Mas não é: a memorização é uma equação complexa em que a chamada “valência emocional” influi de forma decisiva. De forma simplificada, se você associa uma certa informação a um sentimento positivo, como a alegria, o seu cérebro será capaz de retomá-la mais facilmente no futuro.

Daí a técnica dos professores de cursinho pré-vestibular de contar piadas ou fazer associações engraçadas sobre o conteúdo das aulas. “O humor é um canal de acesso fácil às emoções”, explica Calabrez. O medo, a raiva, a tristeza e outros sentimentos negativos, por outro lado, atuam na direção contrária e condicionam uma aprendizagem de baixa qualidade.

Na preparação para um concurso público, por exemplo, é interessante explorar o significado dessa decisão para a sua vida. “Procure pensar no valor daquele estudo para o seu engrandecimento profissional e pessoal, e não só como uma ferramenta para ser aprovado numa carreira que pagará um salário alto”, diz o professor da Casa do Saber.

Quanto mais você atribuir significado emocional a um certo conhecimento, mais chances terá de guardá-lo para sempre. E não apenas isso: mais motivação você terá para persistir nos estudos.

É o que Tieppo define como intenção genuína. “Se você está interessado só no salário daquele cargo, quer só ‘atropelar’ a prova, você não vai estar intimamente envolvido com o estudo”, explica a professora da Santa Casa. Para agilizar o aprendizado, você precisa estar realmente motivado; e, para estar motivado, você precisa genuinamente ter a intenção de aprender.

2. Não exercite apenas o cérebro

Quem vai pensar em academia quando tem uma pilha de apostilas para estudar? Fazer atividade física pode parecer supérfluo nesse momento, mas não é. De acordo com Calabrez, exercícios regulares, especialmente os de natureza aeróbica, são os mais indicados.

Buscar atividade física faz o cérebro funcionar melhor, já que todo o corpo fica mais saudável e bem regulado. Até os processos afetivos, ligados à motivação, podem ser beneficiados com natação, corrida, caminhada ou outras práticas esportivas.

Isso para não falar na importância desse tipo de atividade para liberar o estresse da rotina, que prejudica a aprendizagem. Lazer, repouso e convívio social também precisam ter algum espaço na sua agenda, pela mesma razão.

3. Descubra o seu estilo de aprender

Dada a complexidade do cérebro humano, está comprovado que não existe uma única forma de aprender. Por isso, não adianta insistir em métodos que claramente não estão surtindo efeito.

Se você sente que suas sessões de estudo só estão produzindo cansaço, é fundamental experimentar diversas técnicas (veja aqui 6 sugestões poderosas) e adotar aquela que funciona melhor para você.

“Se você não tem um hábito de leitura consistente, formado na 1ª ou 2ª infância, ler não será uma boa forma de estudo para você”, explica Tieppo. “Nesse caso, experimente gravar áudios, assistir a vídeos, desenhar mapas mentais, enfim, buscar instrumentos adequados ao seu funcionamento”.

4. Elimine os “ralos” de atenção

O aprendizado se torna lento e irregular se você divide seu foco entre diversos estímulos enquanto está estudando. É o que Calabrez chama de “ralos” de atenção: mensagens nas redes sociais, notificações do celular, ruídos que vêm da rua, pessoas que chegam para conversar.

As interrupções não-programadas têm um efeito devastador sobre o aprendizado. “Quando você não está inteiramente concentrado naquilo, você está dizendo para o seu cérebro que aquela informação não é tão importante para você, e é provável que ela acabe sendo descartada”, explica Tieppo.

Para otimizar os seus estudos — e evitar o cansaço de retomar várias vezes o fio da meada — a dica dos neurocientistas é buscar um local de estudos isolado e silencioso, e desligar todo o seu contato com a tecnologia.

Você pode programar alguns intervalos para levantar, tomar um café, checar o celular e conversar com alguém. Nos blocos de tempo dedicados ao estudo, porém, é preciso eliminar radicalmente qualquer possível fonte de distração.

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