15 profissionais que encontraram realização no trabalho
A VOCÊ S/A conversou com profissionais que conseguiram unir carreira e realização pessoal
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2013 às 07h44.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h30.
Maurício Giamellaro: paulista, 42 anos, economista, vice-presidente de vendas da Heineken, abandonou o cargo de presidente em outra empresa para voltar para vendas. " Eu tenho paixão pela área comercial porque é uma área viva. Já fui presidente de dois negócios, um deles no México e outro no Brasil, mas nenhum deles me deu tanto prazer quanto atuar em vendas. Desde pequeno, fui exposto às negociações. Nasci em Cidade Patriarca, bairro da zona leste de São Paulo, e sou filho de um corretor de imóveis. Quando era moleque, vendia meus tênis. Na faculdade, para ajudar meus pais a pagar o curso de economia na PUC, vendia barras de cereais. Quando me formei, fui trabalhar no Ministério da Fazenda, onde cheguei a analista. Nessa época, conheci minha esposa, que morava em Valinhos, no interior. Pedi demissão para me mudar para perto dela, e esse movimento acabou me levando para a área de vendas. A maior fábrica da Unilever fica em Valinhos e havia uma posição aberta de vendedor. Mandei um currículo, fui chamado para a entrevista e ganhei a vaga. Virei vendedor da Unilever para todo o Vale do Paraíba. Em vendas, passei por todas as posições que existem. Aos 32 anos, recebi uma proposta para me tornar gerente-geral de um fundo de investimento em Londres. Assim começou minha carreira internacional, que durou quase dez anos. Morei em Londres, em Milão e na Argentina. Antes de voltar ao Brasil, em 2010, eu era o presidente da Reckitt Benckiser no México. Foi a primeira vez que me senti infeliz no trabalho. Minha família não estava bem. A adaptação no México não deu certo. Meus filhos [Luana e Lucas, hoje com15 e 13 anos, respectivamente] queriam voltar para o Brasil. Recebi uma proposta de trabalho para voltar ao país, para ser presidente de um grupo de higiene e limpeza, que havia sido comprado por um fundo de investimento. Voltamos para o Brasil e descobri que minha função como presidente era mais a de um operador financeiro. E eu gosto de tocar a operação comercial e de construir marcas. Pedi para sair, vendi a participação que tinha no negócioe montei uma consultoria comercial. Não durou um mês e recebi a proposta para ser o VP de vendas da Heineken. Voltei para a área que amo. Não faz um ano, e os resultados já estão aparecendo."
Lucas Montanheiro: paulistano, 29 anos, fundador do Complicitat, site que organiza informações públicas sobre São Paulo, e especialista em produto e soluções no Google. Nos últimos três anos, o paulistano Lucas Montanheiro, de 29 anos, especialista em produto e soluções no Google, passou noites e fins de semana trabalhando em um projeto pessoal, junto com dois amigos. Com investimento de 30.000 reais, Lucas colocou no ar, em julho deste ano, o Complicitat, site que organiza informações públicas sobre a cidade de São Paulo. "Quero melhorar a qualidade da vida de quem mora na cidade", afirma. Para o paulistano, seu propósito se cumpre na medida em que a vida dos outros se transforma e eles conseguem aproveitar melhor o lugar onde moram. "Aliei alguns dos meus principais interesses, como comunicação, internet, eletrônica e espaço urbano, com meu projeto, o que para mim é essencial." Foi justamente essa combinação que deu energia para Lucas se dedicarao site. "O que me estimula a trabalhar é a satisfação de criar novas ferramentas que terão impacto na vida das pessoas." Ele até poderia fazer o projeto dentro do Google, mas o escritório de São Paulo é focado, basicamente, em marketing e vendas, áreas que não trabalham com desenvolvimento de novos produtos, por isso ficaria difícil propor um projeto como o Complicitat. "Entre esperar e fazer, preferi pôr a mão na massa e construir o produto com as ferramentas que tinha", diz Lucas que sairá do Google quando o projeto der retorno financeiro.
Alessandra Orofino: economista, 25 anos, ela montou no Brasil o Purpose, braço da ONG americana que desenvolve ferramentas para o engajamento civil de pessoas em torno de um causa. A carioca Alessandra Orofino comemorava, no mês passado, uma vitória da Purpose Brasil. Os secretários municipais de Transporte e de Educação do Rio de Janeiro designaram dois funcionários para receber e responder às demandas encaminhadas pela Purpose. Alessandra conheceu a Purpose, em 2009, quando era estudante de economia em Nova York, nos Estados Unidos. Ela tinha uma bolsa de estudo que pagava metade de suas despesas acadêmicas, o restante (20.000 dólares) ela tinha de conseguir trabalhando. Como não queria ter um emprego no mercado financeiro, destino preferido da maioria de seus colegas de curso, Alessandra foi bater à porta da Purpose, que na época tinha três funcionários — hoje são quase 100. Na entrevista de emprego, se encantou pelo trabalho da ONG, que mobiliza pessoas por meio de redes sociais. Ganhou o emprego e um salário de quase 2.000 dólares por mês — o suficiente para bancar sua graduação. Concluiu a faculdade em um ano e meio. "O lado negativo é que não fiz muitos amigos." De volta ao Rio de Janeiro, em 2010, a economista começou a trabalhar para criar a rede da Purpose, que hoje conta com 100.000 pessoas — a maioria em São Paulo e no Rio de Janeiro."Sou uma pessoa realizada no que faço, me sinto como uma empreendedora de minirrevoluções."
Carlos Bassi: paulistano, 44 anos, matemático, largou a carreira de executivo em empresas de tecnologia para montar uma plataforma online de saúde "Comecei a trabalhar na eds como estagiário e peguei gosto por tecnologia. Na SAP, onde passei os últimos dez anos antes de empreender, fui reconhecido e premiado. Fiquei um tempo na Alemanha, trabalhando com os principais executivos da empresa. Vi que são pessoas de carne e osso, diferentemente do que eu imaginava. De volta ao Brasil, comecei a pensar em sair da empresa. Pedi demissão e, há três anos, eu e três amigos da SAP começamos a Vitalbox, uma plataforma online em que a pessoa pode mapear sua saúde. Conseguimos investimentos e temos clientes, embora eu não tenha salário desde janeiro de 2010. Há uma rotina glamurosa no meio executivo com as viagens de trabalho e os almoços de negócio. Romper com isso é difícil. Exige negociação com a família e revisão do modelo de vida. Meus filhos hoje estudam em escola pública. Antes, eu não pensaria nessa opção, e confesso que estou feliz com a educação deles agora que os acompanho de perto. Apesar dos obstáculos, me sinto extremamente motivado e sei que tenho os amigos certos ao meu lado na empresa. Quero chegar ao fim da linha e ter a sensação de que contribuí com a sociedade."
Fernanda Baumhardt: gaúcha, publicitária, 42 anos, da empresa de vídeos sociais Proplaneta Fernanda estava no auge da carreira em 2008, em Los Angeles, como gerente de vendas do canal CNN, mas estava insatisfeita com a vida que levava. "Vivia no automático em vez de construir o que me interessava", diz. Então, se perguntou: "Como posso ajudar o planeta com meu trabalho?". Abdicou de um salário mensal de 15.000 dólares e partiu para um mestrado na Holanda, onde conheceu a metodologia de videoparticipação, que busca empoderar pessoas por meio da produção audiovisual — é a comunidade que cria o roteiro e filma. Durante um projeto no Malaui, na África, Fernanda criou a empresa Proplaneta. Agora ela presta consultoria à Cruz Vermelha e a empresas. Neste ano, trabalhou com a fábrica de chocolate Mars, usando a videoparticipação para acompanhar resultados de treinamentos. Abrir mão do salário não foi tão difícil, mas acreditar no sustento do negócio foi um desafio. Por três anos, viveu com suas reservas financeiras e com a ajuda do marido. "Ver as pessoas com brilho nos olhos, por se retratarem, faz tudo valer a pena."
Carla Schmitzberger: alemã de nascimento e brasileira de coração, 51 anos, engenheira química, é a toda-poderosa da Havaianas "Às vezes, as pessoas me questionam se sou feliz ocupando a mesma posição há sete anos, reportando para o mesmo chefe [o presidente Marcio Utsch]. Comecei na empresa em março de 2006 e, de forma alguma, acho meu trabalho chato. O que eu faço mudou brutalmente desde que entrei aqui. Hoje, temos sandálias e outras categorias de produtos, temos operações próprias, que eu ajudei a criar, nos Estados Unidos e na Europa. Todo dia tem um novo desafio, uma coisa nova para fazer. Gosto muito de aprender e fazer coisas diferentes. Montar uma operação com lojas fora do Brasil foi um desafio. Acabamos de inaugurar uma nova fábrica em Minas Gerais com capacidade de produzir 100 milhões de pares de sandálias. A empresa também está muito aberta para o novo. E esse é um aspecto estimulante, principalmente se considerar que essa é uma organização centenária. O que me move é o desafio e o desejo de realizar coisas. Na Havaianas eu consigo colocar as minhas ideias em prática. E isso é fenomenal, é o que me motiva, me faz vir trabalhar animada todos os dias."
Gabriel Miceli: carioca, administrador de empresas, 30 anos, é gerente sênior para a área comercial da C&A — o mais jovem a ocupar o cargo. "Estudei no Colégio Marista São José, na Tijuca, uma escola católica tradicional no Rio de Janeiro. Sempre fui muito interessado em política e economia e, quando chegou a época do vestibular, prestei para Economia. Não terminei o primeiro semestre. Fiz um novo exame vestibular e entrei em administração na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na faculdade, li de tudo, de antropologia a marketing. No último ano, entrei na Souza Cruz como estagiário. Tinha salário e benefícios. Foi superlegal, mas não me apaixonei. Com 20 anos eu não tinha certeza das bandeiras que queria levantar. Terminei a faculdade, saí da Souza Cruz e fui viajar. Quis conhecer outras culturas. Sempre me interessei por lugares e pessoas. Passei seis meses em Barcelona, na Espanha, e outros seis meses em Toronto, no Canadá. Voltei em 2007 e consegui um emprego como analista financeiro na IBM. Trabalhava em contato direto com a equipe comercial nos Estados Unidos. Falava inglês 10 horas diariamente. A empresa era bacana e as pessoas, legais. Mas eu passava o dia entre o telefone e uma planilha cheia de números, e ganhava pouco. Pedi demissão e comecei a procurar outra coisa. Descobri o trainee da C&A. Achei sensacional a possibilidade de trabalhar com dois mundos: a operação comercial e a moda. Ao fim do programa assumi uma loja em Madureira, no subúrbio do Rio de Janeiro. Foi uma experiência antropológica fantástica. Descobri que tinha interesse pelo desenvolvimento de coleções. Insisti para mudar de área. Meu primeiro trabalho na nova área [compras de coleções] foi adquirir calças pretas de alfaiataria. É um trabalho complexo, que envolve negociar com fornecedores, entender os diversos climas da mesma estação, compreender os hábitos regionais. E aí entra o que eu amo: conhecer diferentes perfis de pessoas e hábitos de onsumo. Sempre achei que essa história de estar feliz no trabalho fosse mentira, mas aqui eu realmente me realizo."
Heloisa Buarque de Hollanda: paulista, 74 anos, escritora, ensaísta e professora da UFRJ, coordenadora do projeto Universidade das Quebradas " Meu sonho era ser arquiteta, mas me formei em letras clássicas por influência familiar, prática muito comum 50 ou 60 anos atrás. A solução para a minha inadequação profissional foi sair pela tangente. Enquanto meus colegas se tornaram especialistas em escritores renomados, eu passei a estudar movimentos sociais contestatórios, assunto que me fascina. Os clássicos estudam o passado, e eu tento antecipar o futuro ao iniciar a discussão de microtendências, assuntos ainda não estabelecidos na sociedade. Sou professora e pesquisadora de universidade pública há muitos anos, então tenho minha subsistência garantida e, por isso, me permito arriscar. Minhas apostas ousadas garantiram meu prestígio, já que eu acertei em 90% delas. Fui vanguardista ao estudar o feminismo, a literatura marginal, a cultura de periferia, e atualmente me dedico à compreensão da cultura digital. Um dos trabalhos que mais me orgulham é a Universidade das Quebradas, projeto que capacita academicamente produtores culturais da periferia e, ao mesmo tempo, promove a troca de conhecimentos. Sinto-me realizada por interferir no futuro da universidade tradicional e abrir frentes na luta contra a desigualdade intelectual"
Silvia Soter: carioca, 49 anos, crítica de dança e coordenadora cultural da Redes de Desenvolvimento da Maré. "Comecei no balé ainda menina e me profissionalizei aos 16 anos. A dança sempre deu sentido à minha vida, mas eu nunca tive um plano de carreira e sempre caminhei rumo a oportunidades de aprendizado. Por volta de meus 20 anos, tive uma lesão grave, que me ajudou a repensar meu trabalho. Minha inquietação intelectual sempre foi muito grande, e atuar como bailarina não me satisfazia plenamente na época. Porque a minha identidade não é de artista, apesar de eu me sentir muito próxima da arte. Para mim, a felicidade está em pensar a dança como linguagem e mostrar às pessoas como ela pode proporcionar uma experiência prazerosa com o corpo, seja na universidade, seja na comunidade da Maré, onde trabalho para diminuir a desigualdade do acesso à dança, já que no Brasil ela custa caro. Eu reinventei minha profissão e hoje sou uma das poucas profissionais que se sustentam com dança fora dos palcos. Sou essencialmente uma professora. Ensinar é o que mais me dá prazer, porque só aprendo quando ensino. Mas também colaboro com diversos projetos artísticos, fui a única crítica de dança do jornal O Globo por 14 anos e tenho meus momentos como escritora. Nada do que faço é em tempo integral, as urgências mudam e eu não me sinto em um lugar só."
Serginho Groisman: paulistano, 63 anos, jornalista e apresentador do programa Altas Horas, da Rede Globo. Quem tem pergunta? Quem tem pergunta? É assim que Serginho Groisman guia seu programa Altas Horas, criado e dirigido por ele, e se relaciona com seu público, a maioria jovem. "Sou um mediador. Quero que eles façam as perguntas e participem da discussão", diz. "A plateia é protagonista tanto quanto os entrevistados." Segundo Serginho, a ideia é promover debates e colocar o jovem para expor seu ponto de vista sobre os temas atuais, para que saiam do programa com um estímulo, um ponto de partida para fazer algo. "Mas não tenho a pretensão de mudar a vida de ninguém, quero apenas estimular novos pensamentos", diz. Essa relação com os jovens foi algo natural, nada planejado. Começou na época de colégio, por volta dos anos 1970, quando ele descobriu um teatro no Colégio Equipe e começou a apresentar shows e promover debates. Serginho era um adolescente falando para outros adolescentes. A partir daí não parou mais. O formato criado para o Matéria Prima, programa de entrevistas em que as perguntas eram feitas pela plateia, constituída de jovens, se manteve e hoje é uma forma de trabalho. "Sempre achei que podia contribuir de alguma forma para novas discussões", diz.
Lourenço Bustani: nova-iorquino, cientista político, 34 anos, fundador da Mandalah, cuja missão é criar projetos para empresas com o propósito de fazer o bem à sociedade e ter lucro. Filho de diplomatas, Lourenço foi criado fora do Brasil e começou a carreira no exterior. Em 2004 passou por uma crise de identidade, já que não tinha raízes no país de seus pais. Durante uma viagem ao Brasil, percebeu que aqui há "uma oportunidade de mostrar ao mercado que é possível gerar lucro sem abrir mão de valores", diz. Ao lado do sócio Igor Botelho, fundou em 2006 a Mandalah, empresa de consultoria que busca unir lucro e propósito por meio de projetos inovadores para outras companhias. O objetivo de negócio é, antes de tudo, o que Lourenço tem para a sua própria vida: trabalhar conectado aos valores nos quais acredita. Assim, a Mandalah desenvolve soluções sustentáveis que consideram sempre o futuro e o valor humanos — é daí que vem o H no nome. Empresas procuram a Mandalah em busca de ajuda no resgate desses valores, sem deixar de olhar para os ganhos do negócio, claro. Um exemplo é a Nike, que contratou um projeto de posicionamento de marca no Rio de Janeiro por meio de investimento em mudanças locais, como a construção de pistas de skate. "Se gastamos tantas horas do dia no trabalho, precisamos lembrar que há uma continuidade entre vida profissional e pessoal e fazer algo em que acreditamos", afirma.
Dale Stephens: americano, 24 anos, autodidata, fundador do UnCollege, no Arkansas, Estados Unidos, para pais que querem dar aos filhos uma educação diferente da convencional. No mês passado, Dale Stephens veio ao Brasil para compartilhar sua trajetória de vida com estudantes, professores e executivos. Dale largou a escola aos 10 anos, pois não se adaptou ao sistema tradicional. "Eu me sentia entediado, era uma criança apática", disse à VOCÊ S/A. Dale concluiu os estudos com a ajuda de tutores. Nos Estados Unidos, a legislação permite que jovens sejam educados pelos pais e professores particulares. Aos 19 anos, ao mesmo tempo entrou na universidade e recebeu a Thiel Fellowship, um prêmio de 100.000 dólares para jovens que querem investir num projeto pessoal. Dale trancou a faculdade e se debruçou sobre o projeto da UnCollege, lançado em 2011. Sua proposta é romper com a ideia de que para ter uma carreira bemsucedida é preciso ter uma educação formal. "Meu maior propósito é lutar para que a UnCollege seja uma comunidade de pessoas que valorizam a aprendizagem autodirigida."
Paulo Barros: carioca, carnavalesco, 51 anos, ex-comissário de bordo, é um dos criativos que trabalham para reinventar o Carnaval do Rio de Janeiro Na opinião de Paulo Barros, de 51 anos, foram os 16 anos pelos quais atuou como comissário de bordo na extinta Varig que o qualificaram para o trabalho que realiza desde 1994 como carnavalesco. Paulo levou para a escola de samba Unidos da Tijuca duas coisas que aprendeu voando: a necessidade de deslumbrar o cliente e a organização empresarial. A primeira lição fica bem clara a cada novo desfile. Quem conseguiu esquecer a comissão de frente que, em 2010, em plena Marquês de Sapucaí, trocava de roupa como em um passe de mágica? A segunda só é conhecida por aqueles que frequentam o barracão número 12 da Cidade do Samba, no Rio de Janeiro. Lá, a partir deste mês, os funcionários trabalham em horário comercial. A rotina é como a de uma empresa, a diferença é que no lugar de planilhas e computadores estão máquinas de costura e carros alegóricos. "Não dá para domar a criatividade, mas eu acordo cedo todos os dias para ver a transformação das ideias em realidade. E isso pode e deve ser controlado", diz. Sua visão prática sobre o Carnaval acabou virando o livro Sem Segredo – Estratégia, Motivação e Criatividade, lançado no ano passado. "Hoje, as pessoas aprendem a fazer Carnaval na prática, meu sonho é fazer uma faculdade do Carnaval", afirma. Enquanto esse sonho não se realiza, Barros continua fazendo o que pode, embasbacando a plateia.
Jefferson Simões: gaúcho, 54 anos, cientista e glaciólogo, pesquisador líder do Programa Antártico Brasileiro Acampar no maior deserto do mundo a 60 graus negativos é apenas uma das aventuras corriqueiras de Jefferson Simões, o primeiro e único brasileiro doutor em glaciologia, a ciência do gelo. Enquanto cientistas do mundo todo vêm ao Brasil explorar a biodiversidade tropical, Jefferson decidiu liderar a primeira missão do Programa Antártico Brasileiro, um campo de pesquisa completamente desconhecido por seus conterrâneos. "Em termos de mudanças climáticas, os polos são tão importantes quanto a Amazônia", afirma. Cerca de 30 anos atrás, quando o cientista concluía sua graduação em geologia, a pesquisa brasileira no Polo Sul dava seus primeiros passos. Ele não hesitou em procurar um doutorado na Universidade de Cambridge e participar das atividades no Instituto Scott, referência mundial em ciências polares. A presença do Brasil na Antártida era a oportunidade que ele precisava para realizar seu desejo de ser pioneiro em um campo do conhecimento que trouxesse uma contribuição ambiental. Como pesquisador, Jefferson teve a oportunidade de viajar 19 vezes ao continente gelado e ajudar a reconstruir a história do clima do planeta. "A cada perfuração em solo glacial, conheço um pouco do passado", diz. "As conclusões da pesquisa no gelo interferem diretamente em discussões climáticas globais, como os fóruns da ONU."
Marcelo Tas: paulista, 53 anos, jornalista, diretor, escritor, roteirista de televisão e rádio, e apresentador do CQC (Custe o Que Custar), exibido na TV Bandeirantes. Era um dia normal de aula na escola Politécnica de São Paulo, em meados dos anos 80, quando Marcelo Tas notou uma luzinha diferente acender, como ele gosta de chamar sua intuição. Ele já sabia que não queria ser engenheiro e deparou com um jornal de humor na universidade, do qual foi editor por dois anos. Começou a cursar comunicação em paralelo à engenharia e a fazer aulas de teatro, voz e dança. "Eram as coisas que faziam sentido para mim", diz Marcelo. Anos depois largou um emprego na Rede Globo para estudar cinema em Nova York. "O que me move é a intuição, essa luzinha que pode acender ou apagar, dependendo do que você faz", afirma. Foi dessa forma que ele encontrou o que o deixava satisfeito. "Eu vim ao mundo para fazer perguntas, para provocar questionamentos", afirma Tas. "Sempre acho que é possível contar uma história de uma maneira diferente, seja entrevistando um político, seja provocando uma criança, que é o que faço em Castelo Rá-Tim-Bum." De Ernesto Varela, um repórter fictício que ironizava personalidades políticas na época da ditadura, passando pelo professor Tibúrcio, do Rá-Tim-Bum, até o comando do CQC, todos os projetos de Tas têm a marca do humor e da provocação. "Acho que é uma missão mesmo."