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Você ainda divide seu público em gerações? Então você ficou velho

Marcas precisam entender as ações específicas de compra e não separar por faixas etárias

Pessoas que são diversas não só na idade, mas em suas realidades e desejos (We Are/Getty Images)

Pessoas que são diversas não só na idade, mas em suas realidades e desejos (We Are/Getty Images)

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Publicado em 6 de setembro de 2021 às 15h37.

Última atualização em 6 de setembro de 2021 às 15h51.

Por Mauro Wainstock*

Tenho ministrado palestras corporativas sobre integração geracional, tema extremamente pertinente, sobretudo quando hoje há quatro gerações atuando no mesmo mercado de trabalho. Mas vou fazer uma provocação: por mais construtivo e enriquecedor que seja este debate, será que o cerne realmente está na data de nascimento?

Estamos falando de pessoas. O convívio geracional é obrigatório não apenas no mundo corporativo, mas também no ambiente social e familiar. No nosso dia a dia.

Certamente você possui muitas afinidades e sinergias com pessoas de outras idades e já teve valiosas trocas com familiares, professores, líderes. Quantos relacionamentos enriquecedores, quantas amizades, quanto conhecimento compartilhado.

Estamos falando de pessoas. Pessoas que são diversas. Não apenas na idade mas também em suas realidades e desejos. Nas histórias de vida.

As habilidades e as competências não têm vínculo com idade, signo, gênero, raça, religião, etnia, estado civil, profissão ou com o local em que a pessoa vive. Mas com os valores que interiorizou, a educação que obteve, os aprendizados que absorveu, a cultura que adquiriu, os erros que cometeu, os obstáculos que superou, enfim as vivências que acumulou.

Será que todos os...

20+ têm o mesmo propósito?

30+ têm as mesmas aspirações?

40+ têm a mesma maturidade?

50+ têm os mesmos objetivos?

60+ têm as mesmas perspectivas?

70+ têm os mesmos desejos?

80+ têm os mesmos interesses?

90+ têm as mesmas experiências?

100+ têm os mesmos sonhos?

Será que todos os humanos têm os mesmos valores?

Envelhecemos todos os dias. E isto não tem relação com a nossa idade. E também é independente das nossas outras diversidades. Temos várias delas dentro de cada um de nós.

Tenho 52 anos. Também sou publicitário, branco, homem, judeu, casado, rubro-negro, sagitariano e nascido no Rio de Janeiro. Será que, obrigatoriamente, preciso agir conforme o estereótipo que foi criado para este perfil?

Tenho um amigo que nasceu no mesmo dia e ano que eu. Mora nos Estados Unidos e tem vivências diárias totalmente diversas das minhas, apesar de também ser publicitário, branco, homem, judeu, casado, sagitariano e nascido no Rio de Janeiro. E sabe qual é uma de nossas principais diferenças? Ele é Fluminense; eu sou do clube campeão!

Brincadeiras à parte, vou dar outro exemplo dentro da minha própria casa, com meus filhos gêmeos: ela está fazendo medicina, carreira do avô materno. Ele cursa direito, igual ao avô paterno. Os netos têm 20. Os avós 80+ e continuam ativos na profissão.

Gerações diferentes têm características comuns. E também diferentes.

Dentro da mesma geração há muita intersecção. Mas também divergências.

Estamos falando de pessoas.

Minha esposa é vegetariana e psicóloga; eu sou carnívoro e jornalista.

Somos da mesma geração. Podemos ser parecidos e também diferentes.

Aliás, ela é multitarefa, superenvolvida com causas sociais, flexível a mudanças, dá aulas sobre consumer insights e já morou fora do Brasil. Nesta sopa de letrinhas das gerações, onde devo posicioná-la? Ela seria X, Y, Z, estaria em Alpha ou NDA (nenhuma das respostas anteriores)?

Não seria mais recomendável para as marcas tentar entender as ações específicas de compra do que separar por faixas etárias? Ou será que os produtos veganos só devem ser consumidos pela geração considerada a mais engajada com essa causa? Apenas nesses casos o rótulo realmente será válido.

E vamos a outro exemplo: aos 90 anos, Hamako Mori entrou para o Guinness Book como a mais velha youtuber de videogames do mundo. Certamente ela disputa partidas com gerações mais novas. Mas pertence à “geração silenciosa” (nascidos entre 1925 e 1940), que são definidos pelo conformismo, avessos às tecnologias e sem grandes aspirações.

Ela é uma exceção? Então olhe ao seu redor! Essas “exceções” são muito mais comuns. Ou melhor, não querem ser comuns!

Por que ainda estamos dividindo as gerações? Por que falamos tanto em afinidades, mas criamos grupos engessados e não processos dinâmicos construídos com base em interesses e comportamentos?

Lembrei de alguns estabelecimentos comerciais que colocam uma placa na porta de locais de acesso exclusivo para seus funcionários com a frase: “Proibida a entrada de estranhos”. O termo é estranho, né?

Mas o pior são as placas “invisíveis”, que infelizmente “proíbem a entrada” de muitos na sociedade, nas campanhas publicitárias, no varejo e no mercado de trabalho.

Não me considero estranho e nem sou invisível. E você?

Mas somos diferentes. E só seremos realmente humanos quando percebemos que o respeito pelo outro é uma premissa básica para o convívio saudável e harmonioso. Até lá, continuarei escrevendo artigos sobre grupos de afinidades e ministrando palestras sobre gerações.

*Mauro Wainstock tem 30 anos de experiência em comunicação. Foi nomeado LinkedIn Top Voice e atua como mentor de executivos sobre marca profissional. É sócio-fundador do HUB 40+, consultoria empresarial focada no público acima dos 40 anos.

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