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Race to Zero e o papel da agricultura contra o aquecimento global

Nessa corrida para frear as mudanças climáticas, não há pódio de chegada: ou todos venceremos ou todos seremos derrotados

Não é uma disputa entre países. É uma disputa contra o aquecimento global e pela vida. (Bloomberg Creative/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 17 de agosto de 2021 às 15h49.

Última atualização em 18 de agosto de 2021 às 00h03.

Por Gilberto Tomazoni*

A Terra está esquentando mais rápido do que o previsto e podemos atingir 1,5oC acima do nível pré-industrial ainda na década de 2030, dez anos antes do esperado. Com isso, o planeta sofrerá com eventos climáticos extremos com maior frequência, como enchentes, secas e ondas de calor. Esse impactante alerta consta do mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Diante desse cenário, o único caminho possível é o da corrida pelo Net Zero: empresas, governos e sociedade precisam se comprometer a zerar seus balanços de emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE), ou seja, não emitir mais do que capturam da atmosfera. A linha de chegada está estabelecida pela ciência: até no máximo 2050. Só assim poderemos conter o aquecimento global e suas consequências.

Para engajar líderes de todos os setores nessa missão, a ONU lançou em 2020 a Race to Zero, ou Corrida ao Zero. E no último dia 4 de agosto, para alavancar essa mobilização, a Embaixada Britânica no Brasil recebeu Alok Sharma, presidente designado da COP 26 — 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas —, além de representantes de empresas, prefeitos e governadores que aderiram à campanha, incluindo a JBS.

Segundo Sharma, o grupo de todos aqueles que já fazem parte da Race To Zero no Brasil representa cerca de 50% de todas as emissões no país e também 50% de nossa economia. Não é pouco, mas ainda não é o bastante. O que todos precisam compreender é que, nessa corrida ao zero, não há pódio de chegada. Não é uma disputa entre países ou empresas. É uma disputa contra o aquecimento global e pela vida! Ou todos ganham, ou todos perdem! E o pior: as mudanças no clima já afetam bem mais alguns países e comunidades do que o restante do planeta. Isso reforça o imperativo de agirmos com urgência e de nos pautarmos pela ciência para frear a crise climática.

Em seu artigo publicado na Folha de S.Paulo, no último dia 10 de agosto, Sharma pontua os quatro pilares cruciais para mantermos vivo o objetivo de conter o aquecimento global a 1,5oC: 1) metas claras para redução das emissões até 2030 e neutralização em 2050; 2) esforços para proteger as pessoas e a natureza contra os efeitos climáticos; 3) financiamento de países em desenvolvimento para viabilizar suas ações; e 4) trabalho conjunto entre governos, setor privado e sociedade civil.

Como a segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder global no setor de proteínas, a JBS compreendeu sua responsabilidade. Por isso, assumimos um compromisso audacioso em março deste ano: vamos atingir o Net Zero até 2040, considerando nossas emissões diretas, e também as indiretas, ou seja, de toda a nossa cadeia de valor.

Durante o encontro em Brasília, do qual participei representando a JBS, minha mensagem ao presidente designado da COP 26 foi a de que, se o principal desafio que enfrentamos diante do aquecimento global é como abastecer a crescente população mundial de itens vitais — como alimentos, energia e roupas —, sem sacrificar ainda mais o nosso planeta, o papel do Brasil e do nosso agronegócio é crucial. Somos um dos poucos países do mundo capazes de produzir e preservar ao mesmo tempo.

É inegável que o Brasil ainda tem muito o que aprimorar nesse desafio climático. No entanto, a verdade é que muitos dos compromissos que países desenvolvidos estão assumindo agora já são realidade por aqui há bastante tempo. Por exemplo: a busca por uma matriz energética limpa e renovável.

Portanto, entendo que a COP 26 precisa observar o que o setor privado brasileiro já vem fazendo frente à crise climática e dar voz aos nossos produtores, que têm papel fundamental a desempenhar nessa corrida ao zero. Já existem soluções no campo para ampliar a produção, ao mesmo tempo em que se realiza o sequestro de carbono. Temos de dar escala a essas iniciativas e investir em novas tecnologias para superar os obstáculos ainda existentes. Por isso, esse tema precisa fazer parte da conferência climática, para compartilharmos aprendizados e garantirmos que os pequenos produtores não fiquem para trás.

O desafio da JBS, assim como o de todos os que embarcaram na Race to Zero, é uma longa maratona global, cuja largada já foi dada e o relógio está correndo rápido contra todos nós. Embora o percurso até 2050 ainda não esteja completamente traçado, uma parte do caminho a ser percorrido certamente passa pela agricultura. O mais importante é compreendermos que só haverá vencedores se corrermos todos na mesma direção.

*Gilberto Tomazonié CEO Global da JBS

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