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Quebrado o monopólio de 2022, resta saber quem vai seduzir eleitor mediano

Eleitor de centro pode ser decisivo, embora ainda não tenha um candidato atraente em quem depositar seu votos daqui a um ano e meio

Lula e Bolsonaro ocupam os extremos, à esquerda e à direita (Paulo Whitaker e Rodolfo Buhrer/Reuters)

Isabela Rovaroto

Publicado em 19 de março de 2021 às 09h50.

Há ainda placas tectônicas a se mover no universo eleitoral depois do resgate do candidato Lula, feito pela decisão do ministro do STF Edson Fachin ao anular as condenações do petista pela justiça de primeira instância de Curitiba. Os efeitos se acumulam: o presidente Jair Bolsonaro trocou o ministro da Saúde, e a vacinação contra a covid-19 passou a constar na lista de prioridades do governo federal.

Outras placas se movem nas pesquisas de intenção de voto, onde alguns cenários já mostram Lula liderando a corrida na disputa presidencial. E isso começa a ser debatido entre os políticos que estão diretamente envolvidos no pleito de 2022, inclusive do sempre atento Centrão que hoje oferece uma base sólida de apoio ao Palácio do Planalto.

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Se até duas semanas atrás o presidente Bolsonaro tinha praticamente o monopólio da expectativa de poder na eleição futura, agora tem concorrência significativa na luta pela liderança. A questão é que Lula e Bolsonaro ocupam os extremos, à esquerda e à direita. Quem conseguir seduzir o eleitor mediano, de centro, sem maior apego à ideologia é que levará a vantagem na disputa. Lula já fez isso em 2002.

No discurso do petista após a decisão de Fachin, o movimento neste sentido de agregar o centro pode ser vislumbrado com clareza. O rescaldo das pesquisas indica que ele foi bem sucedido no primeiro gesto, principalmente junto ao eleitor do Nordeste e Sudeste. Lula enfrenta resistência no Sul, Centro-Oeste e Norte – estados onde Bolsonaro mostra força e lidera a disputa.

O eleitor de centro pode ser decisivo, portanto. Contraditoriamente, os candidatos de centro não aparecem bem nos levantamentos iniciais, mas ainda é cedo para congelar o cenário e dizer que é isso que será servido ao eleitor daqui a um ano e meio. É por isso que o senador Tasso Jereissati identificou uma avenida aberta para esse segmento político.

O que falta então? Um discurso sedutor, atraente, que envolva o eleitor. Sem isso, nada feito. A polarização é apaixonante. E acaba dividindo ainda mais o país.

Além disso, é interessante saber como irá se posicionar o presidente Bolsonaro. Até agora ele mantém sua coerência como bom radical e faz poucas concessões a um estilo que o permita transitar melhor para esse segmento menos ideológico. Ganhou assim a eleição de 2018. Contudo, aquele era um momento onde a rejeição ao petismo e à política era muito acentuada, e Bolsonaro não tinha o desgaste natural de ser governo e tomar decisões.

Agora, ele é avaliado como governante. Recebe notas entre ótimo, bom, regular, ruim e péssimo. Quem escolhe uma dessas avaliações também mostra uma tendência eleitoral. Bolsonaro recebe notas até melhores que seu governo neste momento. E, apesar da pandemia e dos reflexos devastadores na economia, se apresenta sempre de um quarto do eleitorado e, no mais das vezes, com preferência de um terço. Isso com a grave crise sanitária e os impactos no emprego de milhões, já há três meses sem auxílio emergencial.

O desempenho do governo, na pandemia que se acentua, e a condução para minimizar impactos no bolso do eleitor contarão muito a partir de agora. Governos têm muitas ferramentas poderosas, e a máquina pública é muito forte. É preciso que ela ande bem para evitar a desqualificação dos eleitores, que podem pender para as faixas de avaliação entre ruim e péssimo se a coisa não for bem conduzida.

Neste caso, os eleitores se acumulam em outras opções eleitorais, seja no outro extremo, seja num centro que se apresente com melhor roupagem que a atual.

 

* Márcio de Freitas é analista Político da FSB Comunicação

 

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