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Paulo Roberto Ribeiro Pinto: marginalizar as hidrelétricas é um erro

O Brasil não pode abrir mão dessa dianteira mundial, considerando o enorme potencial que possui: água

Usina hidrelétrica de Belo Monte (Roney Santana/Divulgação)

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Publicado em 10 de junho de 2024 às 17h00.

Última atualização em 10 de junho de 2024 às 18h02.

Por Paulo Roberto Ribeiro Pinto* 

No centro do debate atual estão as discussões sobre as mudanças climáticas, como afetam o mundo, o reconhecimento da crise energética global sem precedentes e a urgência em transformar os sistemas elétricos para garantir a segurança para seus países.

As nossas hidrelétricas têm a capacidade de nos dar esse protagonismo e a confiança energética que precisamos. O Brasil não pode abrir mão dessa dianteira mundial, considerando o enorme potencial que possui: água. No entanto, é comum observarmos críticas às hidrelétricas, colocando-as à margem da importância que têm para a segurança de energia do país.

Nosso país conta com pouco mais de 1,5 mil usinas hidrelétricas de pequeno, médio e grande porte. E é indiscutível que a energia de fonte hídrica tem o efeito estabilizador sobre o nosso Sistema Interligado Nacional (SIN). Segundo dados da Agência Nacional de Energia (Aneel), 84,25% da produção de energia do SIN vem de fontes de energia renováveis, sendo 55% provenientes de usinas hidrelétricas.

Para além disso, o potencial de aproveitamento das hidrelétricas brasileiras está entre os melhores do mundo. Além de terem longa vida útil, são fonte de energia renovável e limpa. Por exemplo, um estudo conduzido pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concluiu que Belo Monte é a hidrelétrica que menos emite no bioma Amazônia, sendo a quinta usina mais eficiente do Brasil em termos de taxa de intensidade de gases poluentes e avalia que entre 5 e 10 anos, a área alagada do empreendimento apresente progressivamente emissões ainda menores.  

As hidrelétricas também funcionam como baterias naturais do setor elétrico, sustentando o sistema, independente de outras naturezas de gerações. São ainda capazes de atuarem com responsividade e rapidez no atendimento da demanda, sobretudo em dias de pico de consumo nacional, como ocorreu no último dia 15 de março, quando o Brasil atingiu a marca de 102.478 MW, sendo 92,5% do total atendido pelas renováveis e as hidrelétricas tiveram papel fundamental. Nesse mesmo dia à noite, devido a menor produção das fontes intermitentes, a geração de Belo Monte chegou a 11.000 MW, 12% da carga nacional consumida naquele período. Essa quantidade de energia produzida equivale ao atendimento de 60 milhões de pessoas. 

E os benefícios das hidrelétricas não param aí. O custo de produção é baixo e geram energia 24 horas por dia. Também são importantes alternativas à geração por combustíveis fósseis, reduzindo assim a chuva ácida e a fumaça.

Quanto aos reservatórios, eles coletam a água da chuva, que pode ser usada para consumo ou para irrigação de plantações.  Ao armazenar a água, as hidrelétricas protegem os aquíferos contra o esgotamento, reduzem a vulnerabilidade a inundações e melhoram a navegabilidade dos rios. Por fim, geram milhões em royalties por ano à União e aos estados e municípios onde estão instaladas, impulsionando o desenvolvimento econômico e social dessas regiões.

Precisamos equilibrar o debate sobre a matriz energética do Brasil. Diversificar nossas fontes de energia é um caminho sem volta, mas é igualmente importante reconhecer e valorizar a contribuição das hidrelétricas para a nossa segurança energética. Descartar essa fonte de energia é um erro estratégico que pode comprometer a estabilidade e a sustentabilidade do nosso sistema elétrico. 

*Paulo Roberto Ribeiro Pinto é diretor-presidente da Norte Energia.

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