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O que a alta da Selic tem a ver com o mercado de M&A

Empresário está mais propenso a vender uma companhia ou fazer uma fusão sabendo que a taxa Selic devolve retornos mais altos em investimentos

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Publicado em 18 de junho de 2022 às 16h50.

Por Fernando Kunzel e Willian May*

Quem acompanha o mercado financeiro já sabe: é preciso dormir com um olho aberto, sempre atento às movimentações. Um dos principais termômetros da economia brasileira é a taxa básica de juros, a chamada taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação de Custódia). O aumento mais recente foi anunciado em 13 de junho pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O índice foi de 12,75% para 13,25% ao ano – o maior patamar desde o reajuste estabelecido de dezembro de 2016 até 11 de janeiro de 2017, quando a taxa estava em 13,75%.

No último ano, os M&As, do inglês Mergers & Acquisitions, passaram por um período recorde no Brasil, apresentando um crescimento de 46%. No total, foram 1.627 transações, que movimentaram R$ 595,5 bilhões em 2021. Segundo a KPMG, o primeiro trimestre de 2022 também registrou um crescimento de 47,7% no mercado de fusões e aquisições, através de 553 operações no período. Isso demonstra que a despeito da alta da taxa Selic, o mercado de M&A continua forte. Mas no que o aumento divulgado pelo Copom afeta a decisão de vender a sua empresa?

A primeira coisa que é preciso entender é que, com juros altos, a renda fixa se torna um ativo mais interessante para investimentos. Momentos em que a Selic estava mais baixa, como em 2020, quando o Copom manteve a taxa a 2% ao ano, isso poderia ser um fator de desestímulo para a venda. Hoje, o empresário está mais propenso a vender uma companhia ou fazer uma fusão com uma empresa maior sabendo que a taxa Selic devolve retornos mais altos em investimentos de renda fixa do que dois anos atrás.

Assim, os acionistas que realizam uma venda de seu negócio, podem aproveitar a onda da Selic mais alta e se beneficiar com aplicações como CDBs, LCIs, LCAs e outras modalidades que garantem uma rentabilidade mais estável — o que pode levar até a retornos superiores do que com a companhia. Dois anos atrás, por exemplo, realizar a venda de seu negócio poderia não fazer tanto sentido, especialmente para investidores mais arrojados que estão dispostos a correr mais riscos para obter ganhos maiores.

Outro fator que pode fazer do cenário um bom momento para a venda é o acesso ao crédito. Os juros maiores atrapalham os empresários, que precisam de crédito ou que estão endividados — realidade de muitas empresas brasileiras que encontram no crédito o alavancador de seus negócios. Nesses casos, pensar na realização de  uma venda, mesmo que parcial,  pode ser uma ótima estratégia  para desalavancar seus balanços e colocar ou manter as companhias na rota do crescimento.

Contudo, quando se trata de investimentos, devemos ressaltar o outro lado da moeda. Como a taxa alta afeta diretamente a bolsa de valores, causando desvalorização em ações, isso diminui o interesse das empresas em fazer um IPO, ou seja, passar a oferecer ações na bolsa de valores. Essa desaceleração também reduz as aquisições por parte de grandes companhias, representando um desafio maior para as empresas que desejam realizar um exit. Com menos procura e mais oferta, é necessário se destacar.

Para os empreendedores, é preciso estar atento às variações do mercado. O ano de 2021 revelou um amadurecimento em fusões e aquisições no país e tudo indica que em 2022 o ritmo forte vai continuar. Ter essas variações em mente na hora de tomar decisões é a melhor forma de se preparar para aproveitar as oportunidades promissoras, com empresas abertas a expandir seus mercados e alcançar mais públicos através dessas transações.

*Fernando Kunzel,é economista e sócio-fundador na L6 Capital Partners e Willian May,é engenheiro de produção e sócio na L6 Capital

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