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Lucree acredita que operações financeiras devem gerar receita e não custos

Em entrevista à Bússola, sócio-diretor diz como a startup transforma cobrança em receita em ecossistemas financeiros que envolvem PMEs

Eduardo França, sócio-diretor da Lucree (Lucree/Divulgação)

Eduardo França, sócio-diretor da Lucree (Lucree/Divulgação)

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Publicado em 20 de outubro de 2021 às 11h00.

A Lucree, fintech fundada há pouco mais de quatro anos por três sócios com expertise em varejo, produtos financeiros e vendas, acaba de receber um aporte de R$ 50 milhões do Grupo Moura, de baterias, para expandir sua atuação.

Com três sócios, que são amigos no pessoal e têm sinergia nos negócios, a startup já realizou um case de sucesso em uma Joint Venture com o próprio Grupo Moura e atua em oito segmentos, entre eles lojas de automóveis, de materiais de construção e de móveis e decoração, além de profissionais liberais.

O modelo de negócio é único e muda a lógica atual do mercado: a inovação está em buscar soluções customizadas que gerem receita para toda a cadeia envolvida no fluxo financeiro do negócio do cliente, aumentando seus lucros.

Em uma conversa exclusiva à Bússola, França fala sobre os detalhes da fusão e de como a startup pretende crescer em segmentos como revendas de automóveis, franquias e até mesmo ajudar profissionais liberais.

Bússola: Como surgiu a ideia da Lucree? O que vocês oferecem?

Eduardo França: A Lucree, pode parecer clichê, é uma reunião de amigos que deu certo como negócio. Eu tive passagem de longo tempo na Ambev e ABInbev, o Fernando Perrelli foi diretor executivo na área de financiamentos do Bradesco, o Francisco Sá teve passagem pela Ambev e pela Kraft Heinz. Só empresas que têm grande foco em vendas, e são conhecidas por serem exigentes.

Nossa experiência de campo nos deu uma bagagem única, aprendendo desde cedo que o nome do jogo é execução e que temos que resolver o problema para o cliente.

Então, olhamos o contexto do pequeno e médio empresário brasileiro, que muitas vezes tem suas contas familiares e da empresa misturadas, que precisa de recursos, e que no sistema financeiro tradicional tem um custo enorme para conseguir financiamento, capital de giro, ou até mesmo um meio de pagamento para poder parcelar as compras dos seus clientes.

Os PMEs encontram as “soluções de prateleira”, as “one size fits all”, que muitas vezes não atendem às suas necessidades. Esse empresário representa 60% dos estabelecimentos no país e seus custos financeiros muitas vezes superam o lucro.

Ora, os empresários não deveriam estar se preocupando com os custos das suas operações financeiras, e sim pensando no seu crescimento e em como vender mais.

Mudar essa lógica de mercado, essa dor do empresariado, é nossa motivação. Por isso, trabalhamos para transformar o que seriam os custos em lucro, fazendo a transformação do varejo a partir da inovação tecnológica e com soluções customizadas.

Bússola: Vocês prometem transformar o custo de uma PME para receber o pagamento em receita. Como isso funciona de fato?

Eduardo França: Resolvemos as dores dos empresários nas operações financeiras, atuando nos ecossistemas com as soluções mais adequadas para àquela realidade. Esse é nosso propósito.

Na prática, colocamos a tecnologia para maximizar cada etapa da jornada de compras do consumidor.

Mergulhamos fundo na forma como o negócio é feito, entendemos onde estão as dores de cada elo do sistema, apoiamos a implementação do novo modelo e acompanhamos a solução.

Um exemplo que facilita bastante entender como isso funciona é o segmento de revenda de automóveis: no Brasil, 70% das compras de automóvel são financiadas, porém, 60% das propostas de financiamento são negadas. Isso indica que o comprador quer pagar, mas muitas vezes ele não tem acesso a crédito, porém tem um cartão que lhe daria a possibilidade de entrada. Isso reduz o risco para a revenda. O que propomos foi tirar o peso do parcelamento do lojista e diluir com o comprador, que tem todo o interesse em adquirir o bem. O resultado foi o crescimento significativo dos clientes da rede de revenda que é nossa cliente.

Bússola: Basicamente, a Lucree desconstrói o conceito por trás dos meios de pagamento, mercado que vem crescendo bastante. Vocês compraram essa briga?

Eduardo França: Na verdade, as grandes empresas de meios de pagamento são nossos fornecedores e parceiros. Nós utilizamos os serviços deles. Não há conflito, já que a utilização dos meios é parte do sistema. Como nosso objetivo é promover crescimento de vendas, eles saem ganhando também.

Construímos um modelo que integra toda a cadeia de valor sem intermediação bancária e principalmente sem burocracia. Nossa atuação resulta em crescimento de vendas e satisfação dos consumidores.

Bússola: O Grupo Moura fez um aporte de R$ 50 milhões, mas vocês já têm um histórico de parceria. Pode nos contar mais?

Eduardo França: O Grupo Moura vem investindo bastante em inovação e há pouco mais de dois anos, eles abriram um BID buscando um parceiro para estreitar a relação com os canais de revenda. São mais de 50 mil estabelecimentos no Brasil.

Fizemos uma pesquisa no mercado e demos a ideia de apoiar o crescimento dos revendedores, ao mesmo tempo em que isso seria revertido em resultados de vendas.

Disso, nasceu a Joint Venture Propig, que opera no ecossistema de revendas da Moura, atendendo as necessidades dos três elos da negociação da bateria: os consumidores, que queriam melhores parcelas; o lojista, que precisava de uma gestão de seu estoque, de redução dos custos financeiros da operação e de um adiantamento do pagamento; e da Moura, que visava crescimento de sua fatia no mercado e a fidelização.

O case é bom: diluímos o custo do parcelamento para o lojista, passando parte para a Moura, que topou assumir o custo visando o crescimento, parte para o consumidor que desejasse parcelar em dez vezes. O resultado foi a redução de 30% dos custos financeiros e o aumento das vendas ao consumidor, além de diminuir a inadimplência, gerando maior eficiência em toda a operação.

A Propig acabou por unir a proposta de valor da Lucree à expertise do Grupo Moura em direção a um mesmo propósito, de fortalecer a rede de varejistas do ecossistema, e diminuir a burocracia entre as partes. Isso nos levou a ser a única fintech com um NPS (indicador de satisfação de clientes) com nota 76.

Bússola: Onde serão aplicados os recursos do Grupo Moura? Sabendo que é um grupo do setor automotivo, esse será o foco do negócio? Qual é a meta de crescimento?

Eduardo França: O recurso será aplicado para a expansão dos negócios, visando aumentar a penetração e escala nos segmentos que já atuamos, que são oito (lojas de automóveis, oficinas mecânicas, materiais de construção, lojas de móveis e decoração, consultórios, clínicas, hospitais e escritórios de advocacia), e também lançar novos produtos e explorar a força de venda em novos ecossistemas de PMEs.

Estamos olhando com muito carinho os ecossistemas do segmento automotivo, mercado que tem um potencial de R$ 50 bi em vendas, mas não é um direcionamento exclusivo.

Há muitas outras cadeias onde os PMEs têm custos altos para as transações financeiras e o nosso modelo resolve a questão, até mesmo grandes redes de franquias, que deixam muito dinheiro na mesa ao não desenvolver soluções financeiras para seus franqueados e em muitos casos os custos financeiros são maiores que o resultado operacional da franquia.

Em geral, estamos olhando as empresas que possuem redes de varejo pulverizada, com potencial de soluções tecnológicas e financeiras para melhorar a performance de seu segmento. Temos mais de 20 setores em potencial mapeados.

Com a entrada do Grupo Moura, que já comprovou a eficiência da estratégia, seguimos com autonomia para tocar os negócios. Mas, aceleramos os planos de crescimento e passaremos a atuar de forma ainda mais intensiva, com a meta de movimentar R$ 5 bilhões em transações anualmente dentro dos próximos 3 anos, multiplicando o volume atual várias vezes.

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