João Kepler: O venture capital do presente ou do futuro?
Fundos de venture capital vêm sendo importantes para o mundo de investimentos em startups
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Publicado em 9 de maio de 2023 às 16h00.
Última atualização em 9 de maio de 2023 às 16h29.
Por João Kepler
Nas últimas décadas, o mundo dos investimentos em startups tem evoluído rapidamente e os fundos de venture capital (VCs) têm sido fundamentais nesse processo, inclusive no apoio ao acesso ao capital e no desenvolvimento econômico do Brasil. No entanto, nos últimos anos, o mercado de venture capital tem passado por transformações, além de mudanças nos estágios (tempo, valuations e valores) de investimentos por conta de momentos, retornos e mercado.
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São inúmeros os desafios: volumes de captação com baixo desempenho, mais concorrência de modelos alternativos de investimentos como grupo de anjos, aceleradoras, micro VCs, crowdfunding entre muitos outros, competição e novos VCs entrantes no mercado, acesso amplo a informação e dealflow, antes restrita a poucos VCs, mais lentidão na análise e prudência nos investimentos, Exits mais demorados, retornos menores do que os esperados, entre outros pontos.
A verdade é que estou vendo um movimento no mercado, onde o modelo e o formato tradicional de investimentos em startups têm sido agregados a novas funcionalidades, o que tem levado os investidores e gestores a buscarem atividades que agreguem valor à principal, que é investir. Alguns têm criado ecossistemas de negócios, desenvolvido suas comunidades e outros até já adotaram o jogo infinito, como mentalidade de negócios mais aberta.
Para implementar essa nova estratégia, muitos VCs estão construindo redes de investidores, investidas, mentores, parceiros, clubes e grupos fechados. Essas comunidades oferecem uma ampla gama de recursos e serviços, como conhecimento especializado, suporte operacional, educacional, rede de contatos, serviços financeiros, marketing, M&A, mídia e muito mais. Além disso, alguns VCs estão inclusive desenvolvendo e adquirindo empresas e negócios correlatos, tanto para agregar novas fontes de receita, como também, para atender ao seu ecossistema.
Para citar alguns exemplos, a Sequoia Capital, um dos principais VCs do Vale do Silício, além de continuar investindo em startups, construiu e opera uma rede global de startups, mentores e parceiros, oferecendo suporte em todas as fases do ciclo de vida das empresas. A Sequoia ainda tem uma parceria com a plataforma de ensino de programação, a Codecademy.
Outro exemplo é a Andreessen Horowitz que investe em startups de diversas indústrias, também oferece uma ampla gama de recursos e serviços, incluindo suporte operacional, mentoria, marketing e ajuda na contratação de talentos. Ainda, a empresa lançou o seu próprio portal de notícias, o Future, que cobre tendências e inovações em tecnologia e negócios.
No Brasil, a Redpoint eventures criou o Cubo, um centro de inovação em São Paulo que oferece espaço de trabalho e recursos para startups, em parceria com o banco Itaú. A iniciativa ajuda a criar uma rede de empresas interconectadas e fomenta a inovação no ecossistema empreendedor.
A Bossanova Investimentos é um exemplo de VC que adotou a estratégia do jogo infinito, comunidade e ecossistema. Além de seus investimentos em startups, a empresa possui uma ampla rede de parceiros e uma série de negócios complementares, incluindo o portal de notícias sobre startups e tecnologia, o Startupi.com.br, o Bossa Academy para educação, uma plataforma de crowdfunding, a Platta e o BossaBank.
Essa nova abordagem pública dos VCs traz inúmeros benefícios para o ecossistema de startups. Em primeiro lugar, permite um apoio mais amplo de conexões e negócios às empresas investidas, ajudando a maximizar seu potencial de crescimento.
Além disso, as comunidades e ecossistemas construídos pelos VCs oferecem um ambiente colaborativo e inovador, onde investidores (LPs) podem participar mais ativamente, pode inclusive se conectar através de mentorias com as startups e essas, por sua vez, conseguem se conectar mais facilmente com outras empresas e mercado.
Sabe o resultado disso?
LPs migrando seus aportes para veículos com esse perfil e startups buscando algo maior que somente fama, branding, grandes cheques e o apoio-padrão. (É o empreendedor que escolhe o investidor, e não somente o contrário. Se isso é verdade, os VCs mais famosos precisarão de muito mais daqui para a frente para continuarem tendo a preferência e os melhores deals).
Ao montar ou comprar negócios correlatos, os VCs podem oferecer ativamente serviços complementares aos seus investimentos em startups. Isso ajuda a diversificar as fontes de receita, reduz o risco de investimentos em um único setor e aumenta o valor das participações. Além disso, pode ajudar a criar uma rede de empresas interconectadas que podem se beneficiar mutuamente, compartilhando conhecimento, recursos e clientes.
Em um outro prisma e constatação, estamos observando três movimentos: 1) VCs que esperavam as melhores oportunidades baterem em suas portas, agora estão tendo de se esforçar para buscar essas melhores oportunidades; 2) VCs que originalmente só investiam majoritariamente em startups Later Stage estão investindo e priorizando agora também o investimento em startups Early Stage; e 3) VCs já adotando a estratégia do Early Exit. O Lema dos Founders mais novos, não é mais GO BIG or GO HOME!, é GO EXIT!
Ou seja, pela safra atual e pelo track record dos últimos anos, começam a perceber no Early Stage, uma melhor relação “investimento vs. risco, vs. retorno vs. tempo”.
O mercado de venture capital está em constante evolução, inovações e, com isso, novas fontes de receita são necessárias para a implantação de um novo modelo para o crescimento desse mercado. Somente assim poderá ser proclamada independência da chamada de capital, do conflito de interesses e da famosa relação 2x20 e, com isso, garantir um fluxo constante de receitas, que vai gerar ganhos para todos e perenidade a atividade.
A criação de ecossistemas de negócios, seja por meio da diversificação de setores, de novos serviços ou da compra de negócios correlatos, tem se mostrado uma abordagem eficaz para atender a essas novas demandas.
Em minha opinião, no Brasil o VC que continuar preso ao modelo-padrão de analisar e emitir cheques, estará sujeito e perder competitividade e relevância.
Goste ou não, a mudança de mentalidade é INEVITÁVEL.
Essa é a minha visão sobre venture capital do presente e do futuro.
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