Hugo Tadeu: o que inflação e riscos têm a ver com as novas tecnologias
Apesar do aquecimento de investimentos em inovação, economia deve ser olhada com cautela
Bússola
Publicado em 7 de fevereiro de 2022 às 17h34.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2022 às 17h40.
Por Hugo Tadeu*
O mercado de investimentos em inovação anda aquecido nos últimos meses. Setores tradicionais da economia têm sido o alvo para novas soluções tecnológicas, em especial, para setores com ampla regulamentação, custos elevados e queda de sua produtividade.
Dados de fontes internacionais importantes sugerem que diversos setores da economia nacional seriam atrativos para a adoção de tecnologias com foco em ruptura no seu modelo de negócios, com destaque para as atividades relacionadas à mobilidade, educação, saúde e finanças.
Apesar de todo o aquecimento destes investimentos em inovação e do crescente número de acordos entre grandes empresas, startups e fundos de investimento, e de expectativas positivas em relação ao futuro da economia, alguns pontos de atenção demandam análises.
Em um primeiro momento, os sinais da economia mundial demandam muita atenção. Existem importantes mudanças em curso na política monetária das principais potências mundiais, com o Brasil acompanhando este movimento.
Dados do Banco Central Brasileiro sugerem um aumento das taxas de juro de curto e longo prazo, com impacto considerável nas demandas por qualquer tipo de investimento, compreendendo os impactos no custo do capital.
As mudanças na política monetária brasileira têm relação direta com a elevação da pressão inflacionária, devido aos efeitos da pandemia de covid-19 e aos crescentes custos com os preços de alimentos, transportes e moradia.
Como destaque, os preços futuros do petróleo são um bom motivo para a preocupação dos melhores economistas do governo e de bancos de investimento, considerando a relação direta desta fonte energética com o crescimento do PIB e geração de riqueza. Os dados da plataforma Forecasting da FDC estimam um potencial para aumento de preços da gasolina em 10% para 2022.
Considerando toda a perspectiva para a política fiscal e pressão inflacionária, tem-se um impacto imediato na economia real, em especial, no sentimento dos consumidores e na sua percepção de compra, com quedas registradas na demanda pela aquisição de novos imóveis, viagens e serviços.
Se todos estes comportamentos econômicos já trazem efeitos imediatos na vida do consumidor comum e no seu dia a dia, fica claro que a mesma percepção deve ser válida para o ambiente da inovação. Inúmeros estudos indicam uma relação direta entre o aumento do custo de capital e reduções nos investimentos em inovação. Basta relembrar a história recente, com as crises americanas e quedas dos indicadores de investimento, por exemplo, da Nasdaq.
Apesar de vários casos de sucesso recente de startups recebendo aportes de investimentos e com valor de mercado crescente, vários índices importantes sugerem uma tendência de queda dos investimentos em inovação. Não resta dúvida sobre a absoluta importância em investir no futuro e na criação de novos mercados, mas isto não tira a relevância do rigor na análise de dados, da estruturação da governança das práticas de inovação, das métricas de resultado e da mitigação dos riscos associados.
Como diz o ditado popular “caldo de galinha e canja” não fazem mal a ninguém. É importante associar respeito aos investidores e ao seu capital com a boa e velha prudência. Vale observar o mercado e gerir os projetos de sua organização com cautela.
*Hugo Tadeu é diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC. Senior Advisor da Deloitte
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