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Girls just wanna have contas pagas e casa própria, aponta estudo

Prioridades das mulheres brasileiras reforçam a independência que conquistaram

Insatisfação profissional ainda é predominante entre mulheres (Ponomariova_Maria/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 25 de outubro de 2021 às 15h08.

Última atualização em 25 de outubro de 2021 às 15h21.

Para entender as preocupações e prioridades das mulheres brasileiras, o grupo Consumoteca, empresa de pesquisa e inovação, realizou um levantamento com mais de 2.100 mulheres de classes A, B e C, entre 18 e 49 anos. Segundo os resultados, 38% das mulheres afirmam que a conquista de que mais se orgulham é conseguir pagar todas as contas do mês, seguida por ter uma casa própria (27%), dar conforto (23%) e proporcionar boa alimentação à família (22%).

O levantamento mostra que bem depois na ordem de prioridades aparece a compra de produtos e roupas que a façam se sentir bonita e cuidada (20%), uma grande viagem (19%) e a decoração ou reforma da casa (9%).

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Também aparecem nas razões de orgulho, ter pago/finalizado seus estudos com 17%, ter comprado um carro e ter tirado a carteira de motorista (CNH), ambos com 15%, e pagar os estudos/cursos dos filhos também com 15%.

“Com a independência e o empoderamento feminino, o que realmente importa para essas mulheres é sua independência financeira e o bem-estar da família”, explica Michel Alcoforado, antropólogo e sócio-fundador do grupo Consumoteca.

Cada classe tem seu orgulho

Quando fazemos um recorte por classe, vemos que cada faixa social demonstra maior satisfação em diferentes conquistas. Enquanto as mulheres da classe A têm mais orgulho em ter uma casa própria e dar conforto para sua família, com 41% e 36%, respectivamente, as representantes da classe C e B valorizam o nome limpo ao pagar todas as contas mensais, com 45% e 35%. No entanto, o segundo maior orgulho para estas classes difere: para a B é conquistar seu lar (29%), enquanto para a C é proporcionar boa alimentação para sua família (25%).

A diferença por classe também se reflete nas projeções futuras. Enquanto as mulheres classe A e B, em que a maioria delas já tem um lar consolidado, o sonho é viajar (46% e 45%). Já para as entrevistadas da classe C, as conquistas almejadas são ter uma casa própria (44%) e pagar todas as contas do mês (40%).

Mercado de trabalho

Quando o assunto é o campo profissional, a insatisfação é predominante. Das entrevistadas, 40% querem empreender e trabalhar para si mesmas, 38% têm planos de mudar os rumos profissionais e 37% ainda querem estudar mais para conseguir um melhor lugar profissional. Além disso, 23% acreditam que ganham menos do que merecem pela função e 10% estão focadas em outras questões da vida por acreditar que não se darão bem profissionalmente pela baixa qualificação. Somente 32% afirmaram gostar do que fazem e estarem felizes com a vida profissional.

Estes números estão em sintonia com a realidade do empreendedorismo no país. As mulheres empreendedoras já somam mais de 30 milhões no Brasil, de acordo com a Global Entrepreneurship Monitor, o que representa 48,7% do mercado empresarial. A busca é por independência financeira para pagar as contas. É um empreendedorismo por necessidade e não por inspiração.

“A maioria das mulheres no país não está feliz com sua vida profissional. Elas pensam em empreender, mudar os rumos profissionais e estudar para melhorar a carreira”, declara Michel.

Panorama da mulher atual e o feminismo

As condições femininas estão em constante mudança ao longo dos anos e, consequentemente, de acordo com as gerações. Quanto mais jovem a mulher, mais consciente ela está da pressão depositada em si. Enquanto as mais velhas têm dificuldade de acreditar na realização plena das mulheres sem um relacionamento ou sem a presença de filhos, as representantes da geração Z percebem a cobrança social para que tenham filhos independentemente de sua vontade de ser mãe, como uma imposição. Já a geração X apresenta tendência bem menor a enxergar isso como uma cobrança.

De forma geral, as mulheres acreditam que falta valorização em tudo o que fazem. Isso impacta em 57% das mulheres até 29 anos, 50% para as de 30 a 39 anos e 51% para as de 40 a 49 anos. Quando o assunto é relacionamento, 48% das mulheres mais jovens acreditam que podem ser plenamente realizadas mesmo sem ter um, e o índice vai baixando conforme as faixas etárias, sendo 41% para as que têm entre 30 e 39 anos e 40% para as de 40 e 49 anos. Sobre não ter filhos, a geração Z é a que mais acredita que não precisa deles para ser feliz (48%), seguida pelas mulheres de 40 a 49 anos (42%) e, por fim, as de 30 a 39 anos (37%).

O feminismo é outro ponto de debate entre as gerações. Existe uma incompreensão do seu conceito, o que muitas vezes o leva a ser encarado como um exagero. Quanto mais velhas são as mulheres, maior é a rejeição em relação ao feminismo. Na faixa de 40 a 49 anos, 50% das entrevistadas concordam com o feminismo, mas acreditam que existe muito exagero, enquanto a porcentagem é de 44% na faixa de 30 a 39 anos e 41% na de 18 a 29 anos. As que não concordam e não apoiam o movimento são de 24%, 20% e 13%, respectivamente. Só concordam e apoiam 46% da geração Z, 36% da geração Y e 27% da geração X.

“O feminismo não é visto pelo que ele é essencialmente, isto é, uma pauta por direitos e oportunidades iguais entre homens e mulheres, mas como uma agenda de excessos de demandas femininas”, afirma Michel.

A diferença geracional também acontece na definição de quais são os maiores desafios de ser mulher. Enquanto para 65% da geração Z o maior desafio é ser mais julgada pela sociedade por ser do sexo feminino, apenas 37% das mulheres mais velhas pensa assim e 46% da faixa dos 30.

Os maiores pesos foram ter de dar conta de tudo o tempo todo (54% para 18 a 29 anos, 52% de 30 a 39 anos, e 50% de 40 a 49 anos), ter de lidar com o medo da violência masculina (59% para as mais jovens, 43% para as intermediárias e 39% para as mais velhas) e ter de se esforçar mais para conseguir as mesmas coisas que um homem, com 56% para a geração Z, 37% para geração Y e 44% para geração X.

O cansaço e a valorização da mulher brasileira: apenas 24% delas se sentem reconhecidas pelo que fazem

A mulher brasileira é a grande responsável não somente pelos serviços domésticos, mas também pelo bem-estar da família. Isso quer dizer que ela ocupa o lugar de cuidadora tanto nos aspectos físicos quanto mentais de todos ao seu redor. Das entrevistadas, 40% afirmaram ser a principal responsável pelo serviço doméstico e 36% pelo conforto familiar.

Ser a principal responsável por tudo isso gera uma sobrecarga mental que é ainda maior porque, apesar de toda a dedicação, apenas 24% delas se sentem reconhecidas e valorizadas por tudo que fazem pelos familiares.

“O cansaço também está ligado à percepção de que a mulher tem de dar conta de tudo o tempo todo. Esse é, inclusive, considerado o maior desafio de ser mulher, maior até que o medo da violência, de acordo com o que vimos nas pesquisas”, diz Michel.

Para as brasileiras, os maiores desafios que enfrentam é ter de dar conta de tudo o tempo todo (48%), seguido por lidar com o medo da violência masculina (44%), ser mais julgada pela sociedade (43%), a necessidade de se esforçar mais para conseguir as mesmas coisas que um homem (43%), ter de estar sempre bonita e arrumada (27%), encarar as dificuldades da maternidade (23%) e ser a principal responsável pela família (20%). Somente 7% delas acreditam que ser mulher não traz desafio.

Religião ou autoajuda?

A religião é um dos pilares da mulher brasileira: 82% das entrevistadas afirmaram ter uma, enquanto 18% estão livres de crenças. Porém, por razões diferentes das esperadas. A função social tradicional da religião é oferecer valores que orientem a vida e digam qual deve ser sua conduta é vista agora como menos importante.

Para 47% das mulheres brasileiras, a religião as ajuda a superar seus problemas, além de 35% sentirem que a religião dá a elas consolo para aceitar o que não podem mudar. Apenas 26% das entrevistadas responderam que os principais valores que defendem na vida são fruto da religião. Outro dado surpreendente é que 15% delas afirmam que a religião influencia sua forma de se vestir.

“É possível afirmar que trata-se de uma religiosidade mais voltada para aspectos pragmáticos e do dia a dia e até uma forma de autocuidado equivalente a alguma terapia do que de uma filosofia de vida com valores que orientam normas de conduta. Isso explica o fato de as seguidoras das maiores religiões do país [ católica e evangélica ], ou seja, religiões cristãs, não necessariamente terem uma visão de mundo que apregoa os valores cristãos da tolerância, do perdão e do amor fraterno entre as todas pessoas’”, afirma o antropólogo.

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