(RUNSTUDIO/Getty Images)
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Publicado em 5 de abril de 2023 às 15h00.
Por Marcell Almeida*
Nos últimos meses, não se fala em outra coisa. É só abrir o LinkedIn e ver, quase todos os dias, publicações de recém-demitidos em massa. Segundo mapeamento da plataforma Layoffs Brasil, o número de demissões no país gira em torno de 35 mil. Globalmente, mais de 150 mil trabalhadores de tecnologia foram desligados em 2022, incluindo tanto startups como gigantes da área, como aponta a Layoffs.fyi. Esse movimento de "enxugamento" das equipes começou em 2022, mas ainda observamos reflexos das incertezas do mercado.
Obviamente, uma demissão de forma inesperada sempre é um processo delicado, que deve ser olhado caso a caso. Mas no momento atual a maior parte dos profissionais precisa ter em mente que decisões como essa muito provavelmente estão ligadas a um cenário macro de cortes de custos. Não são questões relacionadas a falhas individuais dos funcionários ou problemas de desempenho.
Apesar do meio tech ter sido muito impactado pelos layoffs, é um mercado que continua aquecido. A demanda por colaboradores qualificados e a criação de oportunidades de trabalho seguem acontecendo em várias empresas, além da valorização de algumas carreiras com o aumento de salários. No próprio setor de tecnologia, um exemplo claro disso é o segmento de Produtos Digitais; apenas 4% das demissões cadastradas recentemente na plataforma Layoffs Brasil – 1.400 pessoas – foram de PMs (Product Managers ou Gerentes de Produtos). No LinkedIn, há atualmente mais de 4 mil vagas abertas para essas funções.
É aqui que a capacitação se mostra uma grande alavanca para a recolocação de curto prazo no mercado. E os trabalhadores estão entendendo esse potencial. Segundo um estudo da consultoria PwC, 77% dos profissionais em todo o mundo estão dispostos a adquirir novas habilidades.
Aos olhos dos recrutadores, esse movimento pode ser um diferencial de peso na escolha de um candidato em um processo seletivo, já que a pessoa se destaca quando carrega uma expertise única e um currículo com skills e certificados importantes. Por um lado, os profissionais de RH enxergam no participante alguém que traz competências específicas desenvolvidas no seu último cargo e nos últimos anos, validadas através dos resultados alcançados, métricas e indicadores. Por outro, os aprendizados recentes vão ao encontro do que o mercado está pedindo neste momento e que é capaz de diminuir o incêndio da crise.
Hoje, a área da tecnologia é a prova viva disso, uma vez que está demandando cada vez mais funcionários que possuam tanto um conjunto de habilidades técnicas (hard skills) quanto comportamentais (soft skills). Em outras palavras, as empresas procuram times que estejam atualizados tecnicamente com as novas tendências digitais e, ao mesmo tempo, tenham conhecimentos em comunicação, colaboração, liderança e solução de problemas complexos.
Atualmente, não apenas existem cursos que trazem essa gama de aprendizados, como também são rápidos, intensivos e acessíveis. Mais uma vez usando o ambiente de Produtos de exemplo, a carreira de PM não exige um entendimento de programação, mas sim de uma visão estratégica, em que há a necessidade de ser mais assertivo na priorização entre satisfazer os clientes e impactar o negócio. Por essa razão, acaba com dois obstáculos de uma vez só: demanda menos tempo para formação e supre uma necessidade importante no meio tech.
Além disso, o ambiente de estudo inclui comunidades que conseguem ampliar e fortalecer o networking, aproximando colegas de profissão que trabalham em diferentes empresas, gerando trocas de experiências e feedbacks, ou mesmo oferecendo uma visibilidade maior de vagas compartilhadas, encurtando o caminho até uma nova contratação.
Este é um jogo em que os dois lados podem sair vencedores. Os profissionais cortam caminho para voltarem ao mercado de trabalho e as empresas aceleram as suas saídas do contexto de incertezas e dificuldades, voltando para uma corrida de crescimento dos negócios e possivelmente retendo talentos a partir de então. Na contramão dos layoffs, a capacitação pode ser uma virada de chave no cenário atual. Ganham os candidatos, ganham os recrutadores, ganham as empresas. Ganha o mercado.
*Marcell Almeida é CEO da PM3
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