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Ensino à distância e as novas tecnologias em IA serão parceiras?

Com a chegada do ChatGPT, os alunos se aproveitarão da ferramenta para se beneficiar ou as escolas verão como uma oportunidade?

Com a chegada do ChatGPT, os alunos se aproveitarão da ferramenta para se beneficiar ou as escolas verão como uma oportunidade? (Nikolas Kokovlis/NurPhoto/Getty Images)

Com a chegada do ChatGPT, os alunos se aproveitarão da ferramenta para se beneficiar ou as escolas verão como uma oportunidade? (Nikolas Kokovlis/NurPhoto/Getty Images)

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Publicado em 16 de março de 2023 às 18h15.

Tudo começou com um anúncio no jornal. Os classificados do Jornal do Brasil, em 1904, apresentavam ao país uma novidade jamais vista na educação brasileira. Um curso profissionalizante oferecia a possibilidade de estudar datilografia à distância, por meio de correspondência. A novidade ‘fora da caixa’ se mostrou como algo promissor. Apenas 20 anos mais tarde já se via outras formas de curso, que aderiam às novas tecnologias da época, como as ondas de rádio. E aprendia-se tanto um novo ofício, como português e francês.

Com o passar das décadas, o ensino à distância no Brasil foi ganhando ainda mais forma e novos adeptos. E, mesmo que alguns questionassem a modalidade, com o tempo foi ganhando fiéis, à medida em que se percebia que era possível obter qualidade de ensino, mesmo que de forma remota. Não foi diferente na era da digitalização. A tecnologia trouxe ainda mais força para a metodologia EAD e possibilitou, a cada novidade, uma nova maneira de ensinar e interagir com os alunos por meio de plataformas, aplicativos e sistemas inovadores.

Um século depois do seu lançamento, o ensino à distância atingiu o seu auge e se tornou fundamental para a sociedade. Enquanto uma pandemia global assolou países por meses seguidos, pessoas no mundo inteiro encontraram um novo sentido para a vida na frente das telas. Foi possível aprender uma nova profissão, aperfeiçoar talentos e desenvolver novas habilidades em uma série de cursos e conferências digitais, de números incontáveis, que trouxeram alento e esperança para tantas pessoas.

Porém, mesmo após tantas qualidades e possibilidades ao longo do tempo, a tecnologia, sempre parceira da educação, também traz questionamentos na hora de aprender. O motivo seria a inteligência artificial, que vem ganhando força diariamente.

No final do ano passado, uma delas causou certo alvoroço entre as pessoas. Conhecida como ChatGPT, a ferramenta promete escrever artigos, responder perguntas até mesmo de programação e solucionar problemas. Algo tão revolucionário, que mesmo o Google, em sua quase invencibilidade, passou a ser questionado. Além disso, com tamanhas promessas, profissionais do mundo inteiro começaram a se perguntar se seria o fim das suas profissões.

Com a educação não foi diferente. Esse tipo de tecnologia passou a ser um ponto de atenção entre os educadores. A facilidade na redação de textos e as respostas para perguntas podem ‘facilitar’ a vida dos alunos e dificultar o real aprendizado. Tal situação se estende ao EAD, em que, muitas vezes, até mesmo as avaliações são feitas de maneira remota. De fato, o questionamento faz sentido, porém com tamanho amadurecimento do ensino à distância, este é um fator que não ameaça a sua qualidade. Com a tecnologia disponível e com a evolução dos sistemas de ensino, já é possível avaliar os alunos durante as aulas e de maneira interativa, sem que uma avaliação formal seja a única maneira.

Além disso, ao se falar de diretrizes para avaliação de aprendizagem, o ideal é que provas e trabalhos verifiquem articulações entre conhecimentos e a habilidade dos estudantes fazerem boas perguntas. Uma avaliação em que o estudante encontra respostas prontas na Internet, de fato, não está medindo muita coisa. A era da ‘decoreba’ já foi ultrapassada.

É importante lembrar ainda que cada revolução nas mídias produz uma forma inteiramente nova das pessoas se comunicarem umas com as outras e com o mundo. O alfabeto de 22 letras produziu os escribas, mas produziu muito mais ouvintes. A prensa produziu a imprensa, mas produziu muito mais leitores. O rádio e a televisão produziram uma geração inteira de receptores. O que está em jogo agora é a nossa habilidade de programação, não importa a área de atuação profissional.

Desta forma, o que se conclui é que o ChatGPT reaquece as discussões sobre a obsolescência de uma educação exclusivamente transmissiva. As tecnologias produzem alterações irreversíveis na sociedade. Da forma como o ChatGPT se apresenta hoje ele está mais para parceiro da sala de aula do que para inimigo. Não há motivo para alvoroços. A televisão não acabou com o rádio, a internet não acabou com a televisão e nada disso acabou com a educação formal. Há impactos que abrem novos espaço para repensar o processo de ensino e aprendizagem.

*Denise Lourenço é Diretora Acadêmica na Trevisan Escola de Negócios

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