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Como a pandemia fez as empresas verem as pessoas para além do colaborador

Executiva de RH da Kraft Heinz destaca que os desafios do coronavírus adicionaram mais empatia e compreensão às relações profissionais e corporativas

Home office  (sanjeri/Getty Images)

Home office (sanjeri/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 26 de novembro de 2020 às 20h49.

Uma coisa é certa: todos nós sairemos dessa pandemia modificados de alguma maneira. Vivemos meses em picos emocionais, ficamos frente ao desconhecido, mudamos prioridades, tivemos planos interrompidos por tempo indefinido, tivemos que nos adaptar a um novo modo de trabalho. E as empresas precisaram lidar com todos esses momentos e mudanças, criando uma nova forma de se relacionar com seu colaborador.

As áreas de RH identificaram ali, em um momento difícil, uma oportunidade e um espaço que precisava ser ocupado oferecendo conteúdos, segurança, cuidado e equilíbrio para todos. O papel da equipe de recursos humanos sempre foi muito além de falar sobre benefícios, folha de pagamento e contratações, mas a pandemia deixou isso ainda mais claro para todas as pontas das companhias – ser RH é influenciar para que o negócio prospere.

O primeiro passo nessa jornada foi o de entendimento das novas necessidades. Para além de recursos físicos e financeiros para otimizar o ambiente de casa transformado, de um dia para o outro, em posto de trabalho, uma nova rotina trouxe à tona novas prioridades. Foi necessário entender que, por estarem remotos, os colaboradores teriam que lidar também com a vida de casa, cuidando dos filhos, pets, do lar em si, além da avalanche emocional que abalou a todos. O segundo passo? Entender que essas prioridades se tornariam a nova realidade profissional.

A pandemia, assim como acelerou toda a transformação digital nas empresas, transformou também a cultura interna, fortalecendo as relações funcionário X empresa e funcionário X funcionário. Antes éramos apenas colegas de trabalho, hoje sabemos as rotinas, vemos os animais de estimação entrando na frente da câmera nas reuniões, conhecemos as famílias, mesmo de longe. Tudo isso abriu caminhos para sermos mais empáticos, entendermos e respeitarmos as pessoas por detrás de profissionais.

Sem dúvida, uma das pautas que veio à tona durante a pandemia foi a vulnerabilidade, considerada um dos grandes tabus do mundo corporativo. Em um momento em que as pessoas estavam vivendo um contexto repleto de incertezas, precisando se reinventar para conciliar vida pessoal e o trabalho dentro de um mesmo espaço físico e lidando com muitas emoções diferentes e novas, falar abertamente sobre esse tema tornou-se essencial nas relações entre líder e liderado, colegas de trabalho, clientes e fornecedores.

Isso vai muito além de oferecer recursos para que o trabalho em casa flua da melhor maneira possível, é entender as necessidades individuais e saber lidar com elas como companhia. Como podemos, a partir da dificuldade desse colaborador, facilitar a vida de todos aqui dentro? Cuidar do profissional mais do que nunca se mostrou essencial, dentro e fora do ambiente corporativo.  As equipes de RH junto as lideranças precisaram apoiar os colaboradores enquanto navegavam por suas vulnerabilidades e construir uma nova cultura dentro da companhia a partir dessa ótica, ajudando as pessoas a lidarem e abraçarem esses momentos.

Na Kraft Heinz o sentimento é de que estamos mais conectados do que quando estávamos todos trabalhando no escritório, em um mesmo espaço físico. Essa mudança de paradigma foi o pontapé inicial para transformar, também, o ambiente de trabalho agora em um início de retomada, mas pensando no longo prazo. A ideia é que os ambientes sejam mais confortáveis para que os colaboradores se sintam abertos a serem quem são e demonstrarem autenticidade, agregando até mesmo nos processos internos de cada área e time.

Das poucas certezas que já temos em relação ao novo normal, uma delas elas é que o mundo corporativo mudou. Os gestores entenderam que seus colaboradores conseguem trabalhar bem de suas casas, mesmo que as condições não sejam ideias, então, é o momento de ressignificar os espaços e escritórios para trazer mais socialização, mais conexão entre as pessoas, mudando até mesmo a cultura organizacional para que ela seja muito mais focada no “nós” do que no individual. No novo normal, os espaços físicos de trabalho ganham o papel de serem ambientes para termos relações socioemocionais.

O futuro nos foi imposto muito antes do esperado, nos mostrou diversas oportunidades e nos obrigou a uma rápida reinvenção e mudança de mindset para enfrentar a nova realidade: um mundo conectado, onde a cultura de colaboração e o bem-estar são fundamentais, mesmo que o escritório seja na mesa da nossa cozinha.

*Flavia Caroni é diretora na área de People na Kraft Heinz Company

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