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Cidade inteligente mede poluição sonora e faz boa gestão da saúde

Prêmio Connect Smart Cities reconhece uma empresa que mede a barulheira de maneira simples e outra capaz de levar a gestão da saúde pública a um outro patamar

O IPM Saúde reduz gargalos, diminui filas e traz eficiência para a gestão da saúde pública em quase 100 municípios do Brasil (AFP/AFP Photo)
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Bússola

Publicado em 13 de outubro de 2022 às 17h40.

Entre todos os tipos de poluição do mundo, a sonora é a mais contraditória que há, porque nos mata silenciosamente. Sorrateiro, o barulho vai se infiltrando na pessoa e causa no começo só um incômodo, depois raiva, até que lá na frente, quando a gente se dá conta, ou mesmo sem se dar, já está impingindo problemas no metabolismo e danos psicológicos mais severos, se não gástricos ou cardiorrespiratórios.

A solução de qualquer problema começa com um bom diagnóstico dele, e esse acabou sendo outro problema da poluição sonora: medi-la sempre foi caro e os resultados costumavam vir tão cifrados que somente profissionais experientes eram capazes de decifrá-los.

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A Otoh, uma startup paulistana, nasceu para resolver isso. Ela criou dentro de casa toda uma tecnologia de baixo custo e alta eficiência capaz de medir ruídos e apresentar os resultados de forma extremamente simples. E já está medindo a barulheira de grandes eventos e de obras na capital paulista, mas também pode capturar os decibéis produzidos dentro de escritórios, escolas ou hospitais.

As construções, por sinal, devem fazer fila para contratar o novo serviço, pois um decreto municipal do ano passado estabeleceu um limite de 85 decibéis para obras privadas em São Paulo – podia incluir as públicas, hein, prefeito? –, das 7h às 19h. Obviamente, a regra não vale para o período mais aterrorizante, que é o do bate-estaca. “Se valesse, inviabilizaria toda obra na cidade”, explica Carolina Monteiro, head de produto da Otoh.

A empresa, que é uma spin-off da consultoria de acústica Harmonia, venceu na semana passada a categoria de negócios pré-operacionais – que ainda não dão lucro – da oitava edição do Prêmio Connected Smart Cities, organizado pela consultoria Neurônio Ativação de Negócios e Causas e pela Necta. Desde 2014, o prêmio reconhece iniciativas que ajudam a tornar nossas cidades menos áridas e mais sustentáveis – e inteligentes, como o próprio nome da iniciativa preconiza.

Saúde acessível e descomplicada

Na categoria de negócios em operação, o vencedor do Connect Smart Cities foi o IPM Saúde, um sistema que estende o alcance da saúde pública nos municípios, democratiza o seu acesso e torna muito mais eficiente a sua gestão. Criado há oito anos em Rio do Sul (SC), o IPM Saúde hoje está em operação em 97 cidades, sobretudo de Estados da região Sul, além de algumas de São Paulo e Minas Gerais, com um total de 6 milhões de habitantes beneficiados.

Funciona como um santo remédio para a burocracia e o desperdício que, a despeito de todas as dádivas do SUS, tanto castigam os mais de 70% de brasileiros que dependem exclusivamente do sistema público de saúde. Numa única cidade podem coexistir 300 sistemas ou planilhas de Excel para inserir dados, e aquilo que foi inserido numa unidade de saúde não é facilmente acessado pelo laboratório que fica na outra rua, gerando atrasos, filas e outros problemas com os quais a população lida diariamente. Com o IPM, tudo isso dá lugar a uma única plataforma, que conversa com todas as outras oficiais e pode ser acessada de qualquer dispositivo, pois tudo está na nuvem. E mais: os dados nem sequer precisam ser digitados, porque o sistema reconhece voz.

Outro exemplo: para determinado tratamento que demandasse triagem numa unidade básica de saúde, marcação de consulta, realização de diferentes exames, retorno e etc, havia uma média de oito deslocamentos do paciente, que, com o IPM e os mecanismos de agendamento online e telemedicina de que ele dispõe, passa a fazer somente um. “Economizamos 72 milhões de folhas de papel e R$ 1,7 bilhão em deslocamentos somente em 2021”, afirma a gerente de tecnologia e pesquisa do IPM, Lúcia Mees.

Mas a grande diferença mesmo está na melhoria do serviço prestado. “Em algumas cidades, como Cachoeirinha (RS), diminuímos as filas de espera em 80%”, orgulha-se ela. Outra vantagem é o prontuário único, no qual 78 especialidades médicas, odontológicas e de enfermagem acabam contribuindo umas com as outras para benefício do paciente, que também pode avaliar os serviços pelo próprio aplicativo, induzindo a administração pública a aprimorá-los.

Menos burocracia se traduz em menos gargalos e, consequentemente, mais atendimentos. Em 2021, o IPM Saúde registrou por mês a realização de 1.548.872 consultas, número 38% maior que o de 1.119.107 realizadas no ano anterior. “Crescemos também de 225.523 para 285.374 visitas domiciliares ao mês entre 2020 e 2021, uma alta de 27%”, conta Lúcia.

Os indicadores de APS (Atenção Primária à Saúde), do Ministério da Saúde, registram igualmente saltos de qualidade nas cidades atendidas pelo IPM. O município de Dois Irmãos (RS), por exemplo, conseguiu impulsionar o indicador de “proporção de gestantes com realização exames para sífilis e HIV” de 17%, em 2018, para 55%, em 2021. Para 2023, a meta do IPM Saúde é chegar a novas 30 cidades e investir ainda mais na transformação digital do SUS.

Otoh e IMP Saúde são duas iniciativas que, nesses tempos de ESG e impacto, terão vida longa e certamente atrairão os olhares de clientes e investidores, mas o que importa mesmo é poder de transformação que possuem para tornar nossas vidas cotidianas mais humanas, com menos ruído e menos chance de adoecermos, e, mesmo quando isso acontecer, com um caminho mais fácil para a cura.

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