Chega de comprar jeans com lavagem de greenwashing
Consumidores demandam novas práticas ligadas a sustentabilidade, mas marcas precisam dar transparência na comunicação de seus avanços
Bússola
Publicado em 24 de janeiro de 2023 às 19h00.
Última atualização em 25 de janeiro de 2023 às 10h56.
Não é sempre que o universo da moda feminina está presente nos noticiários de maneira positiva, no entanto, recentemente, uma das maiores varejistas de moda acessível no Brasil anunciou que 100% dos seus jeans são fabricados com algum atributo sustentável. Atributos estes que podem variar entre a fabricação feita com algodão responsável, reciclado vindo da reutilização de fibras descartadas ou com redução do consumo de água na produção da peça.
Notícias assim inspiram profissionais e consumidores, além de renovar a esperança em práticas mais justas de produção – com as pessoas e meio ambiente – vindo de um setor que há tempos sofre de acusações graves de práticas ilegais que vão desde uso de mão de obra escrava, machismo infinito e poluição.
A notícia alegra a população que tem um olhar mais voltado para as causas socioambientais, mas, ao dar uma breve olhada na página do produto, não está claro o que realmente estamos comprando.
Algumas dúvidas surgem. Se uma peça é feita a partir de algodão certificado: qual certificação é essa está? De fato esse produto é sustentável?
A comunicação é feita de forma muito rasa, utilizando várias siglas, não é claro para o consumidor o que torna aquele produto sustentável, não existe uma métrica que o consumidor possa se balizar para entender e concluir que está adquirindo um produto sustentável. São tantas siglas, letras, certificações e aquele produto pode ou não ter todas elas.
Indo mais a fundo, pesquisando no site as iniciativas sustentáveis da empresa, nota-se um anúncio grande e chamativo que indica que um de seus fornecedores chega a economizar 11 mil litros de água por mês. Muito interessante. É muita água sendo poupada. Mas, quantos litros de água a produção de uma calça jeans utiliza?
Uma pesquisa feita pela Vicunha Têxtil em parceria com o Movimento Portal Ecoera mostrou que a média fica em torno de cinco mil litros, levando em consideração que a produção de uma calça vai desde a plantação do algodão até a o final do seu processo produtivo, com a calça pronta para venda.
As informações são discutidas e trazidas de uma maneira que o consumidor não tem critério de comparação e na tentativa de fazer uma escolha menos agressiva para o meio ambiente, acaba trocando seis por meia dúzia. E esta é só a ponta do iceberg de um mercado imenso que engloba outros tipos de produtos desenvolvidos com outros tipos de fibras.
O problema não está em uma marca específica e sim, na consciência de todo um mercado fundamentado na baixa transparência entre marcas e consumidores. Dentro desse contexto, acredito que cabe a nós, profissionais da área, atuarmos como agentes de mudança e esquecer essa história de que tudo tem que ser positivo o tempo todo, nada na vida é assim. É primordial que a transparência venha primeiro.
Essas tentativas de greenwashing mostram como o consumidor tem criado demandas cada vez maiores para assuntos ligados à sustentabilidade na hora consumir. É um movimento de mercado promissor, que tem muito a ser desenvolvido, principalmente com as novas gerações assumindo seu poder de decisão. Basta que as marcas incorporem de fato essas mudanças.
*Marcela Butros é fundadora da Zili
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