Ana Fontes: Covid-19 e o impacto desigual na vida das mulheres
Presidente da Rede Mulher Empreendedora analisa os efeitos nocivos da pandemia para as mulheres: de menos espaço no mercado de trabalho ao aumento da violência doméstica
Mariana Martucci
Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 15h33.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2021 às 22h56.
Quase um ano após o início da Covid-19 no Brasil, já podemos fazer um pequeno balanço do impacto que essa pandemia trouxe para a vida dos brasileiros e, especificamente, para a mulher brasileira. Infelizmente não são dados animadores. Por outro lado, registramos pequenas mudanças que, talvez, sirvam como exemplo para outras crises sociais e econômicas.
Em primeiro lugar, devemos entender por que as mulheres foram e são as mais afetadas pela Covid. Além da alta taxa de desemprego geral, a participação da mulher no mercado de trabalho no país caiu ao menor índice nos últimos 30 anos. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), no último trimestre de 2020, as mulheres representavam menos de 45% da força ativa de trabalho. Antes da pandemia, a média superava os 50%.
Embora a crise tenha afetado diversos setores produtivos, os segmentos mais castigados foram os de serviços, como hotelaria, alimentação, beleza e serviços domésticos - postos ocupados em sua maioria por mulheres. Daí o impacto tão forte no desemprego feminino.
Além disso, é importante levar em conta outras desigualdades dentro do mercado de trabalho, como salários, oportunidades e estabilidade. Geralmente, quando uma demissão é necessária, a mulher acaba sendo a escolhida, independentemente de performance e produtividade.
Mas não foi só na economia onde a mulher sofreu as principais consequências dessa crise. Em termos sociais, verificou-se também o crescimento da violência doméstica e do feminicídio. Levantamento do Ministério Público de São Paulo registrou um pico de até 40% de ocorrências em 2020 se comparado ao ano anterior. Um número inaceitável em qualquer situação, com pandemia ou sem.
A necessidade de geração de renda e de independência econômica - na maioria das vezes a solução para fugir dessa violência - “jogou” muitas mulheres para o empreendedorismo forçado, necessário para a sobrevivência pessoal e para a de muitas famílias.
Nesse cenário, deparamo-nos com iniciativas de algumas instituições privadas e de organizações não governamentais que entenderam as necessidades dessas mulheres e ajudaram a minimizar o caminho dessa transição profissional.
Eu, diretamente envolvida em diversas dessas ações, como de geração de renda, capacitações técnicas, mentorias e muitas outras, posso dizer que, se o cenário está longe de ser justo e igualitário entre os gêneros, ao menos estamos conseguindo auxiliar mulheres que muitas vezes são o único pilar econômico e afetivo de uma família.
Posso dizer, baseada em estudos e pesquisas que tenho conduzido nestes quase 12 meses de pandemia, que a mulher empreendedora (iniciante ou não) tem se mostrado resiliente em sua vida e extremamente interessada em se preparar ou atualizar. São delas os mais altos índices em capacitação e formação técnica, seja por meio de cursos regulares, palestras ou conteúdos on-line.
E têm sido elas também as que melhor adequaram os negócios às novas exigências mercadológicas e comerciais, digitalizando processos internos, comunicação externa e relacionamento com o cliente. E, na contramão de tudo, contratando outras mulheres quando necessário.
Claro que ainda é pouco. Temos um longo percurso pela frente, que vai muito mais além dos reparos da desigualdade que a epidemia vem causando.
Quer saber mais? Acesse nossas pesquisas em https://rme.net.br/pesquisa
*Ana Fontes é fundadora e presidente da Rede Mulher Empreendedora – RME:http://www.rme.net.br
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