Romeu Zema: governador reeleito de Minas Gerais durante evento da Comunitas. (Rodrigo Meneghello / Comunitas/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 21 de outubro de 2022 às 18h20.
O governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), aposta na força dos mais de 800 prefeitos mineiros para levar o presidente Jair Bolsonaro (PL) à vitória em segundo turno no estado. Em eventos recentes, ele tem engajado uma base de 500 a 600 chefes dos Executivos locais em favor da campanha de Bolsonaro. Na reta final, intensificará a agenda com o próprio presidente, seu candidato a vice, Braga Netto, e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Entre suas armas, a poderosa máquina estatal - mineira e federal - e a memória da "tragédia", em suas palavras, do governo Fernando Pimentel, do PT, de 2014 a 2018.
"Eu tenho alertado os prefeitos em Minas Gerais porque eles têm ciência disso [dos riscos de ter o PT no poder] e sofreram na carne. Os reeleitos, 100% estão alinhados. [Entre] os que são novos, muitos já participavam como vice-prefeitos e acompanharam a tragédia. Os prefeitos dedicaram muito no primeiro turno a apoiar seus candidatos a deputado estadual e federal", disse Zema, com exclusividade à EXAME durante a 15ª edição do Encontro de Líderes da Comunitas, na quinta-feira, 20.
Escalado para coordenar a campanha de Bolsonaro em Minas Gerais, Zema já o levou a um encontro com quase 600 prefeitos do estado. "Nesse segundo turno, [os prefeitos] não precisam me apoiar porque eu fui eleito em primeiro turno. Então, meu pedido tem sido a eles de apoiarem o presidente Bolsonaro. Nós não podemos repetir os erros do passado", disse o governador mineiro.
Entre as centenas de prefeitos, o governador mineiro pretende amealhar o apoio de prefeitos de cidades onde a disputa foi acirrada, como em Uberlândia, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou no primeiro turno por apenas 6 mil votos. Na próxima semana, tanto Bolsonaro como Braga Netto e a primeira-dama Michele Bolsonaro terão agendas com Zema pelo estado com foco especial em cidades com margens de voto semelhantes.
Ambas as campanhas dos candidatos à presidência da República focam no interior mineiro. Nesta sexta-feira, 21, Bolsonaro esteve em Governador Valadares e Ribeirão das Neves. Já Lula participou de atos em Teófilo Otoni e Juiz Fora.
O discurso é de rejeição ao legado petista em Minas. "Eu, mais do que ninguém, sei como o PT causa tragédias. Em 2015 e 2016 estava ainda como presidente de uma empresa no setor privado e tive de reduzir o número de funcionários em 30%. O Brasil dando marcha ré. Por qual motivo? Por causa de escândalos, corrupção e uma política econômica desastrosa de um partido chamado PT", afirmou.
Minas Gerais e São Paulo são considerados por especialistas em campanhas eleitorais como as principais trincheiras definidoras do resultado final das eleições. No primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso em Minas Gerais, com 48,29% dos votos válidos. Bolsonaro teve 43,60%. Os números locais foram quase exatos ao nacional: o petista teve 48,43%, e o candidato à reeleição ficou com 43,20%.
"Minas é uma amostra do Brasil, nós temos cerca de 10% da população e somos um estado intermediário, entre o Sul, o Nordeste, o Sudeste, e o Centro-Oeste. Isso faz com que até muitas empresas lancem produtos em Minas Gerais para poder avaliar e depois, dando certo ou errado, levam adiante ou não os seus planos", diz Zema. "Em uma eleição não é diferente."
Nessa eleição, com o resultado aparentemente mais cristalizado no Nordeste -- segundo maior colégio eleitoral do país -- os 16,2 milhões de eleitores de Minas são essenciais. Na semana passada, EXAME mostrou que Bolsonaro leva vantagem em cidades com mais de 100 mil eleitores no estado, mas Lula venceu por contar com uma capilaridade maior em municípios com menos habitantes.
Além disso, Minas teve abstenção acima da média nacional no último pleito -- mais de três milhões de eleitores não foram às urnas. Convencê-los a comparecer -- ou não, a depender da perspectiva de que se olha -- também terá um papel relevante e move as agendas dos candidatos no estado.
Nas últimas eleições presidenciais, o postulante ao Palácio do Planalto que venceu em Minas Gerais também foi vitorioso nacionalmente. Em 2010 e 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu porcentagem quase idêntica de votos em Minas Gerais e no total do Brasil. O mesmo ocorreu com a vitória do presidente Bolsonaro, na eleição de 2018.
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Essa influência na política nacional não é de hoje. Vale lembrar que o estado revezava com São Paulo a indicação do presidente do país na política chamada de Café com Leite, até a Revolução de 1930, que levou o gaúcho Getúlio Vargas ao poder.
Tancredo Neves, que morreu antes de assumir, era mineiro e foi o primeiro presidente eleito do Brasil na redemocratização. Itamar Franco, apesar de ter nascido em alto mar, é de Minas Gerais e fez carreira política no estado.
E não é só a posição estratégica que é importante do ponto de vista eleitoral, os números também são significativos. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral de 2020, Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16 milhões de eleitores, só atrás de São Paulo, que tem 33 milhões de brasileiros aptos a votar.
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