Fronteira: Em 2019, cerca de 850 mil pessoas de diversas nacionalidades foram presas tentando cruzar a fronteira dos EUA (Joe Raedle/Getty Images)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 8 de fevereiro de 2020 às 10h05.
Brasília —O governo dos Estados Unidos deportou cerca de 130 brasileiros em novo voo fretado enviado ao Brasil nesta sexta-feira (07). A aeronave partiu do Texas e chegou em Minas Gerais por volta da meia noite, sem a presença de algum representante do governo federal.
Este é o terceiro voo do tipo operado pela administração Donald Trump. Conhecidos pela sigla ICE Air, do órgão de controle de imigração e aduaneiro norte-americano, os voos foram reativados com anuência do governo Jair Bolsonaro.
No ano passado, um voo com cerca de 70 brasileiros foi o primeiro. No mês passado, houve um segundo com cerca de 50 pessoas — parte delas relatou ter viajado algemada.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, famílias inteiras estavam no voo. Muitos escondendo os rostos e todos com uma pequena sacola nas mãos, ou com um plástico em que o governo dos Estados Unidos colocou objetos pessoais, como telefones. Parte estava apenas com a roupa do corpo.
No último dia 29 de janeiro, o Departamento de Segurança Interna anunciou que começaria, alternativamente, a encaminhar ao México famílias de brasileiros que entraram ilegalmente nos Estados Unidos e foram detidas, para que aguardem no país latino, em região de fronteira, o julgamento de seus recursos pela Justiça americana.
Em pronunciamento, o porta-voz do departamento, o secretário adjunto Ken Cuccinelli, sugeriu que o Brasil deve operar - e custear - voos próprios para repatriar os cidadãos de nacionalidade brasileira, além de agir mais "agressivamente" para conter a imigração, como parte das iniciativas para ser considerado um "bom parceiro".
Desde 2006 o governo brasileiro não aceitava a deportação em massa através de voos fretados. Desde essa época, a determinação era de que os imigrantes presos fossem tratados caso a caso, para que se pudesse permitir todas as chances de terem seus pleitos de permanecer no país apreciados pela Justiça.
No entanto, as novas deportações fazem parte de novo entendimento entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, que facilita o procedimento de saída de imigrantes considerados ilegais do país.
Entre outubro de 2018 e setembro de 2019, o número de brasileiros presos tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos aumentou quase 10 vezes, chegando a 17.900, contra 1.500 no ano fiscal anterior.
Em 2019, cerca de 850 mil pessoas de diversas nacionalidades foram presas tentando cruzar a fronteira dos EUA.
Diplomatas brasileiros confirmaram esses números com o governo norte-americano e tentam encontrar uma explicação para o crescimento abrupto.
Uma fonte com conhecimento no assunto levanta a hipótese de um aperto da fiscalização norte-americana em cima dos brasileiros –normalmente um grupo menor e de mais baixo risco – para desencorajar a imigração ilegal.