Temer tentou acalmar PMDB antes de anunciar Serraglio
O nome de Serraglio foi anunciado no início da noite desta quinta-feira, mas a decisão de Temer gerou uma forte reação na bancada peemedebista
Reuters
Publicado em 23 de fevereiro de 2017 às 21h02.
Brasília - O presidente Michel Temer tentou acalmar a rebelião na bancada do PMDB na Câmara causada pela escolha do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, antes de anunciar oficialmente o nome do parlamentar, disseram à Reuters fontes governistas.
O nome de Serraglio foi anunciado no início da noite desta quinta-feira, mas a decisão de Temer gerou uma forte reação na bancada peemedebista.
Apesar de o partido cobrar mais espaço no governo, o nome do deputado criou mais problemas que soluções.
"Serraglio não é um nome da bancada. Se tentou construir uma unidade em nome do Serraglio, mas depois se fez a escolha sem o aval da bancada, e o presidente acenou com a liderança do governo para o PP. A bancada está muito insatisfeita", disse à Reuters um parlamentar do partido.
Assim que vieram a público as informações de que Serraglio seria o escolhido, as reações peemedebistas começaram. Vice-presidente da Câmara, o deputado Fábio Ramalho (MG), declarou que iria "romper com o governo".
"Tomei a decisão por causa da questão mineira. Minas tem sido preterido e tem sido muito correto com esse governo. Um Estado que não participa das decisões do governo, não pode também estar participando das votações do governo", afirmou o deputado.
Ramalho chegou a conversar com Temer por telefone, mas não mudou de posição. Disse que vai fazer uma "oposição consciente", mas já avisou que a reforma da Previdência, tema central do governo, não irá passar "do jeito que está".
Um parlamentar próximo a Ramalho disse que o deputado estava "jogando para a plateia". "Ele quis marcar posição", disse a fonte.
Nas conversas durante o dia, Temer se comprometeu a fazer uma reunião com a bancada de Minas depois do Carnaval. A intenção do presidente era mesmo anunciar Serraglio antes do feriado, depois de conseguir contornar a crise na bancada.
Apesar da avaliação de alguns de que é um problema restrito aos peemedebistas mineiros, outros parlamentares aproveitaram o momento de rebelião mineira para levantar outras insatisfações, como o questionamento do espaço do PMDB no governo.
Liderança
O fato de Temer ter decidido indicar Aguinaldo Ribeiro (PP) para a liderança do governo na Câmara, no lugar de André Moura (PSC-SE), irritou deputados.
"Vai fortalecer demais o PP, que já tem três ministérios", reclamou o parlamentar peemedebista. "Está crescendo e crescendo em cima do PMDB. Na véspera de um ano eleitoral, quando os deputados são candidatos."
Na manhã desta quinta-feira, Temer se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, para "recuperar a relação" com Maia, de acordo com uma das fontes, e tentar resolver o xadrez de cargos no Congresso.
Maia, que havia se posicionado contra a criação de um líder da maioria, como pretendia o governo para ter mais cargos a distribuir e acalmar a base aliada, acabou acatando a ideia no encontro com Temer.
A vaga poderia ir para André Moura, que ficaria sem a liderança do governo. Mas, segundo o parlamentar peemedebista, o partido queria aproveitar essa brecha e despachar Aguinaldo Ribeiro para o cargo e ficar com a liderança do governo para poder entregá-la a Lelo Coimbra.
O Planalto, no entanto, pretende colocar Lelo na liderança da maioria, o que não acalmaria a bancada, segundo o parlamentar peemedebista.
"O PMDB está há muito tempo longe do núcleo político do governo. Já perdeu a Secretaria de Governo", disse a fonte. "Isso não acalma nada", avaliou.
O presidente viaja nesta sexta-feira para a Bahia, onde passa o Carnaval com a família na base naval de Aratu.
Ao retornar terá pela frente a nomeação de um novo ministro das Relações Exteriores, cargo vago com o pedido de demissão de José Serra.