TCU sugeriu ao Planalto barrar obras da Petrobras
Lula, porém, vetou dispositivos da lei orçamentária, aprovada pelo Congresso, que impediriam os repasses
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2014 às 08h16.
Brasília - O Palácio do Planalto foi alertado em 2009 de irregularidades em obras da Petrobras pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que recomendou o bloqueio de recursos para os empreendimentos da estatal no orçamento do ano seguinte.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contudo, vetou dispositivos da lei orçamentária, aprovada pelo Congresso, que impediriam os repasses.
A decisão permitiu que R$ 13,1 bilhões fossem liberados para quatro obras da companhia petrolífera, embora auditorias feitas pela corte de contas tivessem detectado superfaturamento e várias outras impropriedades. Desse total, R$ 6,1 bilhões foram destinados à construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Segundo o inquérito da Operação Lava Jato, deflagrada em março pela Polícia Federal, os contratos com empreiteiras são a fonte de desvios da obra para partidos da base aliada. O orçamento inicial de Abreu e Lima, de R$ 2,3 bilhões, já ultrapassa os R$ 20 bilhões.
A decisão de liberar recursos em 2010 ocorreu após discussão acirrada entre o governo e o TCU, que não cedeu no entendimento sobre as obras. O Planalto ameaçou enviar ao Congresso um projeto de lei limitando os poderes da corte de contas.
Lula declarou na época que o órgão "quase governa o País". O então presidente do tribunal, Ubiratan Aguiar, disse que fiscalizar implica contrariar interesses.
Além da refinaria nordestina, a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (PR) e a implantação de um terminal e Barra do Riacho (ES) foram citadas na recomendação do TCU.
Na época, o tribunal já havia constatado, além de sobrepreços, que os projetos básicos eram deficientes e os editais de licitação elaborados restringiam a competitividade entre as empresas.
Justificativa
Ao justificar o veto, Lula argumentou que o bloqueio de recursos implicaria a paralisação das obras e, em consequência, a perda de 25 mil empregos, além de prejuízo mensal de R$ 268 milhões com a "degradação e a desmobilização" dos trabalhos feitos até então.
"Convém destacar também que parte dos contratos já apresentam 90% de execução física e sua interrupção gera atraso no início da operação das unidades em construção, com perda de receita mensal estimada em R$ 577 milhões e dificuldade no atendimento dos compromissos de abastecimento do País com óleo diesel de baixo teor de enxofre", acrescentou Lula.
O então presidente salientou que, em reuniões com representantes do Congresso e o TCU, houve consenso sobre a possibilidade de corrigir as falhas identificadas. Relatórios da corte de contas, no entanto, continuaram apontando irregularidades.
O balanço mais recente do TCU aponta sobrepreço de R$ 469 milhões em Abreu e Lima. Auditorias em curso investigam outras possíveis irregularidades que podem alcançar R$ 1,1 bilhão.
No Comperj, o prejuízo nas intervenções em curso é estimado em R$ 238,5 milhões. O cronograma da obra está atrasado, o que, segundo o tribunal, implica perdas de R$ 213 milhões por mês.
A Polícia Federal investiga se o esquema de desvios na Abreu e Lima também funcionou na refinaria do Paraná. Segundo os investigadores, recursos de contratos superfaturados na refinaria podem ter abastecido empresas ligadas ao doleiro Alberto Youssef e ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo dados da consultoria Economática, a estatal perdeu 12 bilhões de reais no mês passado na bolsa brasileira, período no qual o Ibovespa recuou 1,14%. Boa parte da queda é atribuída aos maus resultados de 2013 apresentados pela empresa.
No final de fevereiro, o valor de mercado da estatal era de 172,8 bilhões de reais.
A cotação média do mercado, no entanto, ultrapassa a cifra de 2,40 reais e a diferença está preocupando o mercado, que não consegue entender como a estatal chegou a esse valor.
A fim de não aumentar a inflação, o governo tem segurado os preços e a estratégia tem impactado negativamente a petroleira. A estimativa do mercado é que a empresa tenha deixado de ganhar 1,1 bilhão por não repassar alta do petróleo.