Brasil

STF permite acesso a julgamentos políticos da ditadura militar

Cármen Lúcia destacou que a proibição de acesso aos documentos descumpre a Lei de Acesso à Informação, vigente desde 2011

Ditadura Militar: em 2006 o STF já havia determinado que os arquivos da ditadura no STM não poderiam mais ser considerados sigilosos (Vanderlei Almeida / AFP/AFP)

Ditadura Militar: em 2006 o STF já havia determinado que os arquivos da ditadura no STM não poderiam mais ser considerados sigilosos (Vanderlei Almeida / AFP/AFP)

AB

Agência Brasil

Publicado em 16 de março de 2017 às 17h10.

Última atualização em 16 de março de 2017 às 17h11.

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou hoje (16) que seja dado acesso irrestrito aos arquivos dos julgamentos realizados no Superior Tribunal Militar (STM) durante a ditadura militar. A decisão foi unânime.

"A Assembleia Nacional Constituinte, em momento de feliz inspiração, repudiou o compromisso do Estado com o mistério e com o sigilo, que fora tão fortemente exaltado sobre a égide autoritária do regime anterior (1964-1985)", afirmou a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF e relatora do processo.

Os ministros julgaram procedente a reclamação de um advogado, que desde 2011 tentava obter acesso às gravações dos debates entre os ministros do STM durante o julgamento de presos políticos na década de 1970.

Durante a ditadura militar, os julgamentos de presos políticos no Superior Tribunal Militar eram divididos em sessões públicas, nas quais eram feitas as sustentações orais dos advogados, e em sessões secretas, em que eram gravados os debates e os votos dos ministros que compunham o tribunal.

Ao negar os pedidos de acesso, o STM alegou que um ato normativo do tribunal dava proteção especial à documentação sigilosa, tendo como justificativa a inviolabilidade da vida privada, da intimidade, da honra e da imagem de pessoas envolvidas, entre outras razões.

Em 2006, contudo, o STF já havia determinado que os arquivos da ditadura no STM não poderiam mais ser considerados sigilosos, ordenando que todos passassem a ser classificados como documentos públicos, o que impediria a proibição de acesso.

"A publicidade dos atos processuais garante o acesso dos investigados às sessões de julgamento independentemente de sua classificação pretérita", ressaltou o ministro Luís Roberto Barroso.

Cármen Lúcia destacou também que a proibição de acesso seria um descumprimento frontal da Lei de Acesso à Informação, vigente desde 2011.

Ela ressaltou ainda que o acesso irrestrito deve vigorar sobre as gravações fonográficas, de modo a garantir "acesso aos registros daquela dimensão oral" dos julgamentos no STM.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) havia se manifestado favorável ao pedido de acesso às gravações das sessões secretas.

Na condição de amicus curiae (amiga da causa), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também defendeu a publicidade irrestrita dos julgamentos no STM.

Acompanhe tudo sobre:Cármen LúciaDitaduraOABSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Queda de avião em Vinhedo: trabalho de remoção de vítimas foi concluído, afirma governo de São Paulo

Acidente aéreo em Vinhedo: MP e Defensoria dizem que 'não é o momento' para medidas judiciais

Pesquisas para prefeito de São Paulo: o que dizem os levantamentos desta semana

Morre Tuíre Kayapó, ícone da defesa dos direitos indígenas

Mais na Exame