SP recebe mais 1 milhão de doses da Coronavac; serão 7 milhões neste ano
Ao todo, o governo de São Paulo tem 46 milhões de doses negociadas com a Sinovac, entre doses prontas e insumos para produção no Instituto Butantan
Carolina Riveira
Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 08h01.
Última atualização em 3 de dezembro de 2020 às 08h49.
O governo de São Paulo recebeu nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira sua segunda remessa de doses da Coronavac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac que vem sendo testada em parceria com o Instituto Butantan. A remessa (de 600 litros a granel) é o equivalente a 1 milhão de doses.
No mês passado, São Paulo já havia recebido as primeiras 120.000 doses. O governador João Doria (PSDB), o presidente do Instituto Butantan Dimas Covas e outras autoridades do estado foram até o aeroporto de Guarulhos durante a chegada do carregamento nesta quinta-feira.
Em vídeo publicado em suas redes sociais, Doria afirmou que durante o mês de dezembro "chegaremos a até 7 milhões de doses" da Coronavac enviadas a São Paulo.
Ao todo são 46 milhões de doses negociadas com a Sinovac (são duas doses por pessoa para garantir a imunização). São 6 milhões já prontas para aplicação e 40 milhões em forma de matéria-prima para produção, que será feita na fábrica própria do Instituto Butantan, segundo informou o governo do estado.
“Estamos cumprindo mais uma etapa fundamental para disponibilizar a vacina em tempo recorde aos brasileiros. A tecnologia e expertise do Butantan já nos permitem realizar parte do processo produtivo em nossa própria fábrica, e estamos trabalhando para muito em breve podermos produzir integralmente a vacina, mediante processo de transferência de tecnologia por parte da Sinovac”, disse em nota o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, após a chegada do novo carregamento nesta manhã.
Aprovação da Anvisa necessária
A vacina ainda precisa passar por análises e aprovação da Anvisa antes de ser disponibilizada à população. O processo deve acontecer somente após o fim da terceira fase de testes, que analisa agora se voluntários que tiveram coronavírus após terem tomado a vacina estavam ou não no grupo de placebo, isto é, que não recebeu o imunizante.
Os resultados dessa última etapa devem ser anunciados na segunda quinzena de dezembro e, na sequência, analisados pela Anvisa. Os testes no Brasil envolveram 13.000 voluntários.
Nesta semana, o Reino Unido foi o primeiro país a anunciar a aprovação da vacina de Pfizer/BioNTech, e disse que a vacinação deve começar já na semana que vem. Outros países europeus e Estados Unidos também planejam aprovar alguma vacina neste mês ou em janeiro.
As vacinas de Pfizer/BioNTech e Moderna, ambas com tecnologia do RNA mensageiro, divulgaram testes com eficácia acima de 90% e saíram na frente na corrida pela aprovação nos países. No entanto, têm preço maior e precisam ser refrigeradas em temperatura muito baixa, o que as tornam quase inviáveis para países mais pobres. Ontem, o Ministério da Saúde afirmou que a vacina da Pfizer não se enquadra no perfil desejado pelo Brasil devido a essas dificuldades.
Um estudo preliminar mostrou que a Coronavac teve 97% de eficácia, isto é, levou ao desenvolvimento de anticorpos em 97 de 100 voluntários. Esse primeiro resultado é das fases 1 e 2 e dizem respeito a uma fatia menor dos voluntários, cerca de 700 pessoas na China. Testes mais robustos ainda precisarão ser divulgados antes que o imunizante seja aprovado.
Na publicação desta quinta-feira, Doria afirma que a vacina vai "salvar a vida de brasileiros em São Paulo e no país". Ainda não está claro se a Coronavac será disponibilizada no SUS em outros estados.
Nos últimos dois meses, o tema foi motivo de embate entre o governo de São Paulo e o governo federal, incluindo críticas diretas entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro. Em outubro, após uma declaração do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmando a governadores que o governo federal compraria a Coronavac para o SUS nacionalmente, o Ministério voltou atrás e negou a compra, após críticas de Bolsonaro.
Mais tarde, as duas partes também se chocaram diante da morte de um voluntário da Coronavac (sem relação com a vacina), que fez a Anvisa determinar a paralisação dos testes, ja retomados. A Anvisa afirmou, à época, que os motivos para paralisação foram técnicos. A Coronavac também não é citada nos planejamentos da Saúde com relação à quantidade de vacinas que o SUS nacional pode ter.
Ontem, o Ministério da Saúde afirmou que as primeiras doses da vacina de Oxford/AstraZeneca compradas pelo governo federal devem chegar ao Brasil em janeiro. A Câmara aprovou ontem quase 2 bilhões de dólares para cumprir o contrato entre AstraZeneca e Fiocruz, e o tema é pauta do dia hoje no Senado.
O governo federal projeta ter 300 milhões de doses no ano que vem, imunizando quase 110 milhões de pessoas, a começar por idosos, índigenas e profissionais de saúde, segundo plano preliminar divulgado nesta semana. O plano inclui doses prontas da vacina de Oxford, produção própria da Fiocruz com os insumos importados e a aliança de vacinas da ONU no qual o Brasil ingressou.