Deputados fazem ofensiva para impedir corte de bolsas já concedidas
No texto, o autor do projeto explica que "a medida atinge estudantes que já haviam conseguido bolsas para este ano, mas que ainda não haviam sido liberadas"
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de maio de 2019 às 11h06.
Última atualização em 17 de maio de 2019 às 11h24.
São Paulo — Em meio à polêmica provocada pelo contingenciamento de 30% dos recursos destinados à educação e pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro , para quem os manifestantes nas ruas são "idiotas úteis", um projeto de Lei protocolado esta semana na Câmara dos Deputados pretende vedar o cancelamento, a interrupção e o corte de bolsas concedidas pelos órgãos federais de apoio e fomento à pós-graduação e pesquisa no Brasil.
Apresentado pelo vice-líder do PCdoB, deputado Márcio Jerry (MA), o PL nº 2.926/2019 propõe o impedimento da suspensão e da redução dos recursos destinados a pesquisadores e estudantes até o término de vigência do contrato de bolsas de estudo e pesquisa, "garantindo a continuidade da produção científica que já vem sendo desenvolvida pela comunidade científica brasileira".
Justificando a "enorme apreensão com o bloqueio de 30% no orçamento das Universidades e Institutos Federais de Educação", anunciado pelo Ministério da Educação no último dia 30 de abril, o texto aponta "o risco de paralisação de pesquisas e a perda da qualidade das universidades brasileiras como principal motivação para a aprovação da proposta".
No texto, o autor do projeto explica que "a medida atinge estudantes que já haviam conseguido bolsas para este ano, mas que ainda não haviam sido liberadas".
O parlamentar afirma que estimativas de entidades educacionais mostram que apenas a Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes), um dos mais importantes setores de fomento e pesquisa em nível de pós-graduação no Brasil, perderá R$ 819 milhões do total de R$ 4,1 bilhões de verba prevista no Orçamento, "o que fez a fundação ligada ao MEC anunciar que congelaria bolsas ociosas".
"Sem informar o número de bolsas que serão cortadas nem as áreas que serão afetadas, a Capes divulgou uma nota informando que 'a economia racional de recursos, a melhoria do sistema de pós-graduação e a parceria com o setor empresarial são as diretrizes adotadas para superar desafios apresentados pela necessidade de contingenciamento de recursos na administração pública federal'", assinala o deputado, por meio de sua assessoria.
Para o parlamentar, no entanto, o anúncio pode ser traduzido em impacto direto à produção científica. "Na prática, o que está ocorrendo é que os recursos que haviam sido disponibilizados a novos candidatos, após a conclusão de trabalhos de outros bolsistas foram suspensos, como foram canceladas todas as bolsas do programa Idioma Sem Fronteiras", disse Márcio Jerry.
Atualmente, a Capes concede 92 mil bolsas ativas de pós-graduação, com valores que variam entre R$ 1.500 para mestrado e R$ 2.200 para doutorado. Em crítica à decisão do atual Governo, Márcio Jerry afirmou que o corte "configura mais um abuso cometido por Jair Bolsonaro em sua cruzada contra a educação".