Por falta de vacina, cidades suspendem aplicação de 2ª dose
Mais de 223 mil pessoas, que tomaram o imunizante de lote entregue em 26 de março, estão com cronograma ameaçado
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de abril de 2021 às 13h39.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 13h51.
Com o atraso na entrega de um novo lote da vacina Coronavac previsto para este mês, cidades em diferentes estados do país tiveram de suspender a aplicação da segunda dose, deixando centenas de milhares de pessoas com o esquema de proteção incompleto. O imunizante produzido pelo Instituto Butantan deve ser administrado com o intervalo de até 28 dias entre as duas doses, mas idosos de alguns estados já ultrapassaram esse prazo sem que a segunda dose fosse ofertada.
O Estadão identificou o problema em cidades de pelo menos oito estados. Uma das situações mais dramáticas é a do Rio Grande do Sul. Lá, diz a Secretaria da Saúde, faltam 40.470 doses da Coronavac para concluir o esquema vacinal de idosos que receberam doses da remessa entregue em 20 de março. Mais de 223.000 pessoas, que tomaram o imunizante de lote entregue em 26 de março, estão com cronograma ameaçado.
Uma das prejudicadas foi a aposentada Marlene Bervig Martins, de 69 anos. De Canoas, Grande Porto Alegre, ela recebeu a primeira dose no fim de março e foi orientada a voltar ao posto de saúde para a segunda ontem, quando foi informada de que não havia mais vacina. "Eu estava contando os dias para a segunda dose, fiquei triste. Faz um ano que a gente vê esse desdém e muitas vidas perdidas", reclamou ela.
A prefeitura de Canoas informou que a suspensão da aplicação da segunda dose teve início anteontem e deve atingir pelo menos 10.200 pessoas que já completaram ou irão completar até o próximo sábado o intervalo de 28 dias. Como a previsão do Butantan é de entregar novas remessas só a partir do dia 3, as pessoas que completam os 28 dias até o fim da semana terão o esquema vacinal atrasado.
A Secretaria da Saúde de Pernambuco disse que esperava nesta semana 126.000 doses para a segunda aplicação, mas que só recebeu 28.000, o que impede, por ora, concluir o esquema vacinal de quase 100.000 pessoas. Maceió diz ter recebido só um terço das doses previstas para a semana, o que fez a prefeitura a desmarcar a vacinação de quem receberia a segunda dose nesta semana. Ainda não há atraso confirmado porque a maioria havia sido agendada para um intervalo de 21 dias. Mas, se novos lotes não chegarem até o início da semana que vem, milhares de idosos podem ficar com o esquema vacinal comprometido.
Na Paraíba, após 63 cidades suspenderem a oferta da dose de reforço, a Justiça determinou que o Ministério da Saúde enviasse 75.000 doses antecipadamente para retomar a campanha. Natal e Mossoró (RN) interromperam a aplicação da segunda dose. Levantamento da Secretaria da Saúde potiguar aponta que 56.800 pessoas já com a dose atrasada.
Em São Paulo, Cajamar parou com a segunda aplicação semana passada e informou que entrará em contato com as pessoas que estavam agendadas para remarcar a imunização quando receber nova remessa. Guarapari (ES) esgotou todo o estoque de vacinas ontem e anunciou que a aplicação de segunda dose está suspensa a partir de hoje.
No Rio, Maricá parou ontem a aplicação após usar todas as 560 doses enviadas à cidade sábado. A Secretaria Estadual da Saúde confirmou ao Estadão que "alguns municípios já comunicaram extraoficialmente à pasta que não têm mais doses de vacina para aplicação e terão de suspender a vacinação".
A secretaria destacou que, desde meados de março, o ministério passou a recomendar a estados a utilização de todas as doses enviadas, sem retenção para segunda aplicação. "O ofício ressaltava que a medida tinha como objetivo acelerar o processo de vacinação, uma vez que havia cronograma semanal do ministério para distribuição de doses aos Estados".
Entrave
Com o atraso na chegada do ingrediente farmacêutico ativo da China para produzir a Coronavac, pouco mais de 4 milhões de doses do imunizante que deveriam ser entregues até o fim de abril ficaram para a primeira semana de maio.
A coordenadora do Plano Estadual de Imunização de São Paulo, Regiane de Paula, explica que o governo paulista optou por reservar a segunda dose justamente para garantir o esquema vacinal completo a todos. Ela disse que problemas como o de Cajamar podem estar relacionados a estratégias específicas de municípios que não seguiram a orientação da secretaria. "Entregamos nesta segunda e terça as doses para pessoas de 68 anos que se vacinaram no início do mês. Agora, se municípios anteciparam faixas etárias e não seguiram a nossa recomendação, talvez tenham essa falta", destacou ela.
O ministério não informou o total de pessoas com doses em atraso pela falta de vacina, mas emitiu nota ontem orientando que quem não tomou a segunda dose dentro dos 28 dias deve tomar mesmo fora do prazo, quando o produto estiver disponível.
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