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Polícia investiga ofensas raciais a árbitro no RS

Márcio Chagas da Silvas surpreendeu-se com o tom dos insultos e registrou a ocorrência na polícia

Bananas deixadas no carro do árbitro Márcio Chagas da Silva após partida do Esportivo contra o Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho (Márcio Chagas da Silva/Arquivo Pessoal)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de março de 2014 às 20h56.

Porto Alegre - Acostumado à pressão dos torcedores, o experiente árbitro Márcio Chagas da Silva, de 37 anos, surpreendeu-se com o tom dos insultos que ouviu na noite de quarta-feira, quando apitou Esportivo x Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho, e registrou a ocorrência na polícia. Uma delegacia de Bento Gonçalves, cidade onde aconteceu a partida, e o Ministério Público abriram investigação para identificar, localizar e processar os responsáveis pelas ofensas racistas . A Federação Gaúcha de Futebol não vai punir o clube administrativamente, mas o Tribunal de Justiça Desportiva pode estabelecer sanções como multa e perda de pontos ao Esportivo na semana que vem.

Ao entrar e sair do campo do Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, Márcio Chagas da Silva ouviu insultos como "macaco safado, ladrão volta para a selva, negro imundo" vindos de alguns torcedores do Esportivo. Ao final do jogo, vencido pelo time da casa por 3 a 2, sem incidentes, o árbitro encontrou seu carro, estacionado em espaço privativo, ao qual só funcionários do clube tinham acesso, amassado por pontapés nas portas e riscado por objeto cortante. Além disso, havia bananas sobre a lataria e no cano do escapamento do automóvel.

Quando chegou em casa, em Porto Alegre, já na madrugada de quinta-feira, o árbitro olhou o filho Miguel, de dez meses, dormindo, e decidiu expor sua revolta, na tentativa de reduzir a intolerância para ver a criança crescer em um mundo mais harmônico. "Fui criado por meu pai sabendo que teria alguma dificuldade por causa da cor e venci", disse ele, em entrevista à RBS TV. "Não quero que meu filho tenha as mesmas dificuldades."

Lutando contra o rebaixamento no Campeonato Gaúcho e acuado pela perspectiva de perder pontos na tabela e na imagem, o Esportivo dissocia a atitude de alguns torcedores da conduta do clube e de seus simpatizantes. O presidente do Esportivo, Luis Oselame, emitiu nota para dizer que o clube está investigando as atitudes relatadas pelo árbitro e condenar qualquer manifestação de racismo.

A Polícia Civil e o Ministério Público vão investigar o caso. Se identificados, os autores das ofensas podem ser acusados por crimes de racismo e injúria qualificada por racismo. E, se condenados, poderão pegar penas de um a três anos de reclusão em regime semiaberto. O procurador-geral de Justiça em exercício Ivory Coelho Neto disse que o MP recomendou à Federação Gaúcha de Futebol a punição do clube como uma maneira de inibir atos semelhantes de todas as torcidas. Também mostrou-se otimista com a identificação dos autores porque outros torcedores podem reconhecer os que gritaram das arquibancadas e o clube, os que invadiram seu estacionamento.

"Não se pode ser tolerante com os intolerantes", afirmou o procurador-geral, sugerindo a punição das atuais manifestações de racismo se tornem o início de uma nova era no futebol. Para lembrar que as coisas podem mudar, Coelho Neto citou o caso das mulheres, que não ouvem mais as ofensas e grosserias com que eram recebidas nos estádios até há alguns anos.

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Porto Alegre - Acostumado à pressão dos torcedores, o experiente árbitro Márcio Chagas da Silva, de 37 anos, surpreendeu-se com o tom dos insultos que ouviu na noite de quarta-feira, quando apitou Esportivo x Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho, e registrou a ocorrência na polícia. Uma delegacia de Bento Gonçalves, cidade onde aconteceu a partida, e o Ministério Público abriram investigação para identificar, localizar e processar os responsáveis pelas ofensas racistas . A Federação Gaúcha de Futebol não vai punir o clube administrativamente, mas o Tribunal de Justiça Desportiva pode estabelecer sanções como multa e perda de pontos ao Esportivo na semana que vem.

Ao entrar e sair do campo do Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, Márcio Chagas da Silva ouviu insultos como "macaco safado, ladrão volta para a selva, negro imundo" vindos de alguns torcedores do Esportivo. Ao final do jogo, vencido pelo time da casa por 3 a 2, sem incidentes, o árbitro encontrou seu carro, estacionado em espaço privativo, ao qual só funcionários do clube tinham acesso, amassado por pontapés nas portas e riscado por objeto cortante. Além disso, havia bananas sobre a lataria e no cano do escapamento do automóvel.

Quando chegou em casa, em Porto Alegre, já na madrugada de quinta-feira, o árbitro olhou o filho Miguel, de dez meses, dormindo, e decidiu expor sua revolta, na tentativa de reduzir a intolerância para ver a criança crescer em um mundo mais harmônico. "Fui criado por meu pai sabendo que teria alguma dificuldade por causa da cor e venci", disse ele, em entrevista à RBS TV. "Não quero que meu filho tenha as mesmas dificuldades."

Lutando contra o rebaixamento no Campeonato Gaúcho e acuado pela perspectiva de perder pontos na tabela e na imagem, o Esportivo dissocia a atitude de alguns torcedores da conduta do clube e de seus simpatizantes. O presidente do Esportivo, Luis Oselame, emitiu nota para dizer que o clube está investigando as atitudes relatadas pelo árbitro e condenar qualquer manifestação de racismo.

A Polícia Civil e o Ministério Público vão investigar o caso. Se identificados, os autores das ofensas podem ser acusados por crimes de racismo e injúria qualificada por racismo. E, se condenados, poderão pegar penas de um a três anos de reclusão em regime semiaberto. O procurador-geral de Justiça em exercício Ivory Coelho Neto disse que o MP recomendou à Federação Gaúcha de Futebol a punição do clube como uma maneira de inibir atos semelhantes de todas as torcidas. Também mostrou-se otimista com a identificação dos autores porque outros torcedores podem reconhecer os que gritaram das arquibancadas e o clube, os que invadiram seu estacionamento.

"Não se pode ser tolerante com os intolerantes", afirmou o procurador-geral, sugerindo a punição das atuais manifestações de racismo se tornem o início de uma nova era no futebol. Para lembrar que as coisas podem mudar, Coelho Neto citou o caso das mulheres, que não ouvem mais as ofensas e grosserias com que eram recebidas nos estádios até há alguns anos.

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