PF vai analisar condições do avião, documentação e dados da Voepass sobre acidente em Vinhedo
Policiais vão produzir o "laudo de sinistro aeronáutico" em paralelo com o Cenipa, vinculado à Força Aérea Brasileira (FAB)
Agência de notícias
Publicado em 14 de agosto de 2024 às 15h31.
Última atualização em 14 de agosto de 2024 às 15h54.
A Polícia Federal começou a produzir dois relatórios que são fundamentais para indicar os motivos que levaram à queda do avião turboélice da Voepass em Vinhedo (SP), matando 62 pessoas. São eles: o "laudo de sinistro aeronáutico" e o "laudo descritivo do local de queda".
No primeiro, a PF irá fazer um pente-fino nas documentações, certificações e registros de manutenção e inspeção da aeronave. Os agentes também irão se debruçar sobre a "cultura de segurança" da Voepass (antiga Passaredo) na avaliação do ambiente de trabalho, procedimentos da companhia e treinamento dado aos pilotos.
O relatório também traçará um perfil do piloto e copiloto, que morreram no acidente, de acordo com as suas qualificações profissionais e o estado de saúde deles.
O laudo ainda fará uma reconstituição da dinâmica do voo que saiu do aeroporto de Cascavel (PR), perdeu a estabilidade e caiu no modo "parafuso chato" — quando o avião rodopia no céu sem sustentação — em Vinhedo (SP). Nesta parte, a PF irá traçar uma linha do tempo com os eventos que culminaram no acidente e avaliar as condições climáticas no momento da queda.
Segundo o chefe da PF em Campinas, delegado Edson Geraldo de Souza, o prazo estimado para a conclusão desse laudo é de no mínimo um ano. O relatório é semelhante ao que será produzido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que tem como objetivo emitir recomendações e mudanças de procedimentos a partir do ocorrido. Já a PF tem como atribuição apontar os responsáveis pelo acidente do ponto de vista criminal.
Já o laudo sobre o local da queda deve ser concluído em 90 dias. O relatório trará detalhes sobre em que posição as vítimas foram encontradas, o estado da aeronave, danos causados pela colisão do avião com o solo etc.
Além dos dois laudos, a PF se planeja para colher o depoimento dos donos da companhia aérea, da equipe de manutenção das aeronaves da Voepass e dos operadores das Torres de Comando. Os policiais também já mapearam as testemunhas que viram o avião despencando de uma altura de 4 mil metros, rodopiando no céu e se espatifando sobre o quintal de uma casa em Vinhedo. Eles também devem ser ouvidos.
A investigação é conduzida pela Polícia Federal de Campinas, que tem jurisdição sobre Vinhedo.
Problemas com outras aeronaves
Um vídeo e um documento interno aos quais O Globo teve acesso revelam que, em duas ocasiões recentes, aeronaves da Voepass tiveram problemas ligados a ocorrências de uma explosão e de fumaça no motor.
Em um deles, registrado em vídeo, uma labareda saiu do motor de um ATR-62 600 durante uma decolagem no aeroporto de Araguaína (TO), em 4 de dezembro de 2023. A labareda foi provocada por um estol de compressor, uma interrupção ou desordenação do fluxo de ar nos dutos do motor do avião. Após o evento, o voo foi cancelado. O avião tem 11 anos de operação. Antes de ser arrendado pela Voepass, passou por empresas na Índia e em Antígua e Barbuda. Hoje, está parado no hangar da aérea brasileira, em Ribeirão Preto, para manutenção programada e preventiva.
Em outro caso, ocorrido em 29 de janeiro, o comandante de um avião ATR 72, de matrícula PP-PTM, relata uma ocorrência de vazamento de óleo, provocando fumaça no motor (abaixo). A aeronave tem 16 anos de uso, todos voados no Brasil. Começou na TRIP, empresa que foi vendida para a Azul, e voa com a Voepass desde 2015.
Inquéritos anteriores
O histórico de inquéritos sobre acidentes aéreos no Brasil indica que as investigações costumam demorar pelo menos sete meses. No caso do acidente do Airbus 320 da TAM, que matou 199 pessoas, em 2007, a PF concluiu que a queda ocorreu por um erro dos pilotos, que morreram na tragédia. O relatório saiu após dois anos e dois meses da ocorrência. Conforme a PF, eles manusearam os manetes (aceleradores) de maneira não recomendada. O avião não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e colidiu com um prédio de cargas da companhia.
Na queda de um Boeing da Gol após uma colisão com um Legacy, em 2006, a PF indiciou os dois pilotos americanos do avião pequeno pelos crime de atentado contra a segurança de transporte aéreo na modalidade culposa (quando não há intenção de matar). A conclusão do inquérito ocorreu sete meses depois da tragédia. Eles chegaram a ser condenados pela Justiça brasileira, em 2011, a quatro anos de prisão em regime semiaberto, mas nunca cumpriram a pena porque fugiram para os Estados Unidos.
Enquanto eles sobreviveram à colisão e conseguiram pousar a aeronave, 157 pessoas que estavam a bordo do voo da GOL morreram na hora. O avião caiu em cima de uma área de mata fechada no Mato Grosso.