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PF intima Bolsonaro a depor em investigação sobre tentativa de golpe de Estado

Investigações mostram que ex-presidente teria recebido e alterado texto de uma minuta de decreto golpista

Mensagens rastreadas mostram ainda que o ex-mandatário manteve no texto a determinação de prisão do ministro Alexandre de Moraes, da Corte (Ton Molina/Bloomberg/Getty Images)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 12h26.

A Polícia Federal intimou Jair Bolsonaro (PL) a prestar depoimento às 14h30 da próxima quinta-feira, em Brasília, sobre a investigação acerca de um suposto golpe de Estado. De acordo com as investigações, o ex-presidente teriarecebido, analisado e alterado uma uma minutade decreto golpista, em dezembro de 2022.

Como O GLOBO mostrou, a PF afirmou, em relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) , que dados reunidos no inquérito “comprovam” a participação de Bolsonaro no documento. Mensagens rastreadas mostram ainda que o ex-mandatário manteve no texto a determinação de prisão do ministro Alexandre de Moraes, da Corte.

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A minuta propunha a instauração de um estado de sítio no país. A medida, prevista pela Constituição Federal, é para situações de "comoção grave de repercussão nacional" ou de "declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira". A solicitação é apresentada pelo presidente da República, mas depende de aprovação do Congresso Nacional.

Novas conversas

Na representação pelos mandados de prisão e busca e apreensão, cumpridos há dez dias, a PF elenca uma série de conversas sobre o tema. Em uma delas, ocorrida às 12h33 do dia 9 de dezembro de 2022 daquele mês, o então ajudante de ordens presidencial Mauro Cid envia um áudio ao coronel Freire Gomes.

Nele, Cid diz: “O presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais, mais pesada onde ele vai, obviamente, utilizando as forças né? Mas ele sabe, ele ainda continua com a ideia de que ele saiu da última reunião, mas a pressão que ele recebe é de todo mundo”.

Cid continua: “Ele está… É cara do agro. São alguns deputados, né? Então a pressão que ele tem recebido é muito grande. É hoje o que ele fez hoje de manhã? Ele enxugou o decreto né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxergou o decreto, fez um decreto muito mais resumido, né?”.

Para a PF, a mensagem “confirma a existência do decreto, que, ao que tudo indica, embasaria a execução de um golpe de Estado, que estava sendo ajustado pelo então presidente da República Jair Bolsonaro e que era de conhecimento do comandante do Exército. Mauro Cid confirma que Bolsonaro estava recebendo pressões para consumar a medida de exceção com utilização das Forças Armadas”.

Provas

Ainda de acordo com a PF, há “dados que comprovam” que Bolsonaro “analisou e alterou uma minuta de decreto que, tudo indica, embasaria a consumação do golpe de Estado em andamento”.

A análise dos investigadores também se debruçou em um áudio enviado por Cid a Freire Gomes em outro aplicativo, em seguida. Nesse, o ex-ajudante de ordens teria ratificado as pessoas que participaram de uma reunião, dois dias antes, e também a “existência do decreto que foi alterado e limitado” por Bolsonaro.

No encontro, teria sido apresentada a minuta para a decretação do golpe de Estado. “O presidente vem sendo pressionado aqui por vários atores a tomar uma medida mais radical. Mas ele ainda está naquela linha do que foi discutido, o que foi conversado com os comandantes, né, e com o ministro da Defesa. Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, reduziu bastante. Fez algo mais direto, objetivo e curto, e limitado, né?”.

Também há na representação mensagens trocadas por Cid e sua mulher, em 8 de janeiro de 2023. Naquela ocasião, manifestantes invadiam e depredavam a sede dos Três Poderes, em Brasília. Após ela encaminhar publicações de chefes de estado de outros países criticando a tentativa de golpe, o oficial responde: “Imagina se ele tivesse assinado”.

Na semana passada, em nota, a defesa de Bolsonaro negou que ele tenha participado da "elaboração de qualquer decreto que visasse alterar de forma ilegal o Estado Democrático de Direito".

"Quaisquer divagações a esse respeito não refletem a expressão da verdade, sendo da sabença de todos que o ex-presidente jamais estimulou qualquer movimento nessa direção, inclusive manifestando-se publicamente em suas redes sociais contra os atos de vandalismo havidos no dia 08/01", informaram os advogados Paulo Cunha Bueno e Daniel Tesser.

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