Pesquisa revela falta de equipe nas delegacias da mulher
Em 66% das 357 delegacias pesquisadas não há serviço de apoio psicológico para as mulheres em situação de violência
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2016 às 18h07.
Última atualização em 26 de dezembro de 2016 às 18h22.
O déficit de profissionais foi apontado como principal dificuldade enfrentada nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), de acordo com pesquisa do Instituto DataSenado, em parceira com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) e o Alô Senado.
Para 66% dos entrevistados, a falta de pessoal foi identificada como maior falha. Em seguida, aparece a falta de qualidade das instalações (9%), falta de equipamentos para o trabalho (8%), falta de integração com outros órgãos (8%) e falta de treinamento periódico (2). Outros pontos foram apontados por 2% dos respondentes e 5% não soube ou não respondeu.
Mais da metade afirmou que o número de delegacias é insuficiente para atender à população local. O percentual mais alto chega a 86%, na região Norte, e o mais baixo é de 63%, na região Sul.
Foram entrevistados 625 profissionais de 357 delegacias. Os dados foram coletados de 24 de outubro a 7 de novembro.
Estrutura
São de atendimento exclusivo para mulheres 48% das unidades, enquanto 42% dividem o atendimento com outros grupos, como crianças, adolescentes e pessoas idosas. Dessas delegacias analisadas, 48% têm mais de 10 anos de funcionamento e 79% contam com uma delegada ou um delegado exclusivo.
Em relação à integração com a rede de atendimento prevista pela Lei Maria da Penha, a sondagem detectou fragilidades.
Em 66% das 357 delegacias pesquisadas não há serviço de apoio psicológico para as mulheres em situação de violência e 45% não dispõe de salas de espera separadas para agressores e vítimas, embora essa seja uma sugestão da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.
Em 25% das unidades, foi relatada a ausência de Casas-Abrigo e em 17% não há Centro Especializado de Atendimento a Mulheres (CEAM) na localidade. Além disso, 8% não possui sistema informatizado para cadastrar os atendimentos.
Formação
Quanto à formação dos profissionais, 53% relatou ter recebido treinamento específico para atender mulheres vítimas de violência, sendo que aproximadamente 40% dos policiais receberam treinamento há até dois anos.
Entre os policiais, 72% são mulheres, 70% têm de 30 a 49 anos e 83%, ensino superior completo. Atuam em delegacias especializadas há cinco anos ou menos 58% e quase 25% recebe remuneração maior que 10 salários mínimos.
Para 57% dos entrevistados, a violência contra a mulher não pode ser justificada. Já 28% responderam que pode ser justificada tanto pelo comportamento do homem quanto pelo comportamento da mulher, 13% apenas pelas ações masculinas e 2% não sabe ou não respondeu. Nenhum profissional respondeu que a culpa é exclusivamente feminina.
Desistências
Foram apontadas como principais causas de desistência para registrar o boletim de ocorrência dependência financeira (27%), medo do agressor (24%) e pelo fato de as mulheres acreditarem ser a última vez (18%).
Dos entrevistados, 86% relatou casos em que a vítima desistiu, mas 94% afirmou que isso acontece às vezes ou raramente.