Pazuello volta a Manaus após viagem marcada por pressão por cloroquina
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tenta afastar do governo federal qualquer responsabilidade pela crise na saúde do Amazonas
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 13h17.
Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 14h27.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello , volta a Manaus, nesta quinta-feira, 21, dias após uma passagem do ministro pela cidade que ficou marcada pela pressão pelo uso de medicamentos rejeitados por entidades médicas e científicas contra a covid-19 como a cloroquina. O Amazonas está em colapso desde a semana passada e transferiu pacientes de covid-19 a cidades de outros Estados por causa da falta de oxigênio hospitalar.
O ministério ainda não divulgou a agenda de Pazuello na cidade. O general tenta afastar do governo federal qualquer responsabilidade pela crise no Amazonas. "Tudo o que o governador pediu já foi feito", disse Pazuello nesta quinta-feira, 21, em evento do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Pazuello também disse à imprensa, após o evento, que o ministério "acompanha e apoia" a ajuda ao Estado, mas que as ações estão "a cargo do prefeito e do governador". "Não estão a cargo do Ministério da Saúde", afirmou o ministro.
O general esteve na última semana em Manaus. Deixou a cidade no dia 13, véspera de o governo local anunciar que o oxigênio acabara em parte da rede de atendimento, o que causou mortes e deflagrou uma operação para levar o insumo ao Estado e transferir pacientes para outros Estados.
O ministério já sabia desde o dia 8 sobre a falta de oxigênio, mas levou a Manaus, na última semana, uma força-tarefa de auxiliares de Pazuello e médicos convidados para percorrer unidades de saúde e pressionar pelo uso do "kit covid", que inclui a cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Em ofício, o ministério chegou a falar à Secretaria de Saúde de Manaus que seria "inadmissível" não prescrever estes medicamentos.
O general também lançou na capital do Amazonas o TrateCOV, aplicativo usado por médicos que, em tese, deveria auxiliar no diagnóstico da covid-19. Como mostrou o Estadão, o programa, porém, indica o 'kit' covid até para um recém-nascido que tem náusea e diarreia.
Após a passagem de Pazuello por Manaus, a Procuradoria da República no Amazonas abriu um inquérito civil para apurar se o ministério foi omisso na ajuda à região e optou pela aposta no tratamento contestado. Pressionado, Pazuello modulou o discurso e disse, na segunda-feira, 18, que jamais incentivou o uso de medicamento algum e apenas defendeu o "atendimento precoce".
No vocabulário do governo federal, porém, a defesa do atendimento ou tratamento precoce se mistura com a pressão pelo uso da cloroquina. Há farto registro de alegações de Pazuello e de Bolsonaro de que o "kit covid" dá certo. Em 22 de outubro, Pazuello disse ter ficado "zero bala" após tomar o "kit completo" e recomendou que, se o médico não quiser prescrever estes medicamentos, é só buscar outro. Dias mais tarde, o general teve de ser internado num dos hospitais mais caros de Brasília por complicações da covid-19.