Maia adere à articulação de Alcolumbre pela reeleição dos dois
Embora Alcolumbre já atue abertamente pela recondução, Maia tem dito que não pretende concorrer, mesmo que seja autorizado pelo Supremo
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de agosto de 2020 às 13h00.
Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 13h20.
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), têm mantido conversas reservadas com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade de concorrerem à reeleição, em fevereiro de 2021.
A movimentação marca uma mudança na postura de Maia, que até então vinha deixando ao colega senador a missão de costurar uma saída jurídica que permita a recondução, hoje autorizada apenas em legislaturas diferentes. Nos bastidores, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes têm ajudado a encontrar uma solução.
Na quarta-feira passada, os dois parlamentares embarcaram em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) rumo a São Paulo. O compromisso, segundo três pessoas próximas a eles confirmaram ao Estadão, era um jantar com Moraes. Na mesma hora, ocorria a sessão do Congresso Nacional em que senadores derrubaram o veto do presidente Jair Bolsonaro ao reajuste dos servidores. A derrota foi revertida no dia seguinte na Câmara.
O encontro não consta na agenda dos três. Desde a semana passada a reportagem pede esclarecimentos a Maia e a Alcolumbre sobre a ida dos dois à capital paulista, mas não obteve resposta. O ministro do STF também não se manifestou.
Embora Alcolumbre já atue abertamente pela recondução, Maia tem dito que não pretende concorrer, mesmo que autorizado pelo Supremo. "Não sou candidato à reeleição", disse ele ao Estadão. Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, em 3 de agosto, ele já havia negado a possibilidade de concorrer novamente. "Acho que alternância de poder é muito importante", disse na ocasião.
De acordo com interlocutores, o presidente da Câmara admite disputar o quarto mandato apenas se for aclamado por líderes de partidos e tiver apoio, ainda que informal, do governo.
Embora tenha um histórico de desentendimentos com Bolsonaro, Maia se relaciona bem com ministros como Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Fábio Faria, das Comunicações.
Em entrevista ao Estadão, o novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), admitiu que sua chegada melhora o relacionamento do Executivo com Maia. "O presidente da Câmara é influente no plenário e, quando ele acompanha, as coisas facilitam", disse. Na semana passada, Maia participou ativamente para impedir que os deputados derrubassem o veto de Bolsonaro ao aumento ao funcionalismo.
Equilíbrio
Moraes, Gilmar e o atual presidente do STF, Dias Toffoli, avaliam que Maia e Alcolumbre têm desempenhado um papel fundamental no equilíbrio entre os Poderes e na contenção de excessos do Palácio do Planalto - e estão mais propensos a dar aval à reeleição.
Um dos temores do tribunal é o de que parlamentares mais imprevisíveis e alinhados a Bolsonaro assumam o comando da Câmara e do Senado, o que poderia resultar, na visão de magistrados, em retaliações contra o Judiciário, como a abertura da CPI da Lava Toga e até mesmo a votação de pedidos de impeachment de ministros do STF. Até agora, Alcolumbre tem resistido à pressão de senadores "lavajatistas".
Segundo o Estadão apurou, os ministros Cármen Lúcia, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski resistem à ideia de permitir a reeleição na mesma legislatura. O ministro Luís Roberto Barroso ainda não se debruçou sobre o tema. Já o ministro Marco Aurélio Mello é publicamente contra a possibilidade de reeleição. "A Constituição é clara: vedada a recondução na eleição subsequente. Está em bom vernáculo e, onde a norma não distingue não cabe ao intérprete fazê-lo. Mas, há o famoso jeitinho brasileiro. Pobre República!", escreveu o ministro, em mensagem ao Estadão.
O tema é o pano de fundo de uma ação movida pelo PTB, sem data prevista de julgamento, mas que o relator, Gilmar Mendes, pretende liberar para ser analisada ainda neste semestre. A sigla acionou o Supremo no início de agosto, sob a alegação de que a Constituição foi clara quanto à sua intenção de "evitar a reeleição e a perpetuação de um indivíduo no poder, em homenagem ao princípio republicano".
Deverá ficar para o ministro Luiz Fux, que assume em 10 de setembro, a missão de pautar o julgamento. O futuro presidente da Corte também considera aderir à tese da recondução.
Tese
Um dos pontos discutidos nos bastidores do Supremo, que pode ser usado a favor de Maia e Alcolumbre, é o de que em 1997 o Congresso aprovou emenda constitucional que permite a reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos.
Dessa forma, permitir a reeleição também para o comando da Câmara e do Senado evitaria uma "diferenciação" e "desequilíbrio" entre os Poderes.
Integrantes da Corte, no entanto, apontam que essa tese pode favorecer mais Alcolumbre do que Maia, já que o presidente da Câmara está no poder da Casa desde 2016, e permitir uma nova reeleição o liberaria a acumular um total de seis anos no posto. Outro ponto é que enquanto os mandatos de deputados são de quatro anos, os de senadores são de oito, o que justificaria a possibilidade de um período maior no poder. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.